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Fotos: Farol de Notícias / Alejandro García

Durante décadas as bodegas fizeram parte do cotidiano de muitas cidades do interior. Com o passar dos anos as velhas bodegas foram sendo substituídas por mercadinhos, e velhos balcões e tamboretes trocados por grandes prateleiras, gôndolas e por caixas com computadores. No entanto, alguns persistentes comerciantes ainda insistem em manter viva a tradição das bodegas. E foi buscando coroar a profissão de bodegueiro que estivemos na companhia do Dom Juan das lentes, Alejandro García, repórter fotográfico do Farol, entrevistando um dos últimos donos de bodega de Serra Talhada.

Foi no início dos anos 70 que retornou a Serra Talhada, vendo do estado da Bahia, Arionaldo Eliodoro de Sousa, de 64 anos, o popular Ari. Ari trabalhou em uma funerária por 17 anos, mas foi como bodegueiro que ganhou notoriedade e a simpatia de crianças e idosos. “Aqui eu vendo sorvete, picolé, refrigerante, pipoca, salgadinhos, balas, doce, cigarro, recarga de créditos para celular, fogos de artifícios e bebidas alcoólicas”, comenta o bodegueiro, que mesmo convivendo com problemas cardíacos e de visão, trabalha de domingo a domingo, em jornadas diárias que podem chegar a mais de 11 horas, há 21 anos em um ponto comercial que fica localizado na rua Cornélio Soares, conhecida como a rua dos Correios.

No pequeno espaço separado por um balcão e cercado por prateleiras cheias de produtos, Ari atende seus clientes fiéis, a maior parte da zona rural. No estabelecimento é possível ver que o proprietário ainda usa a velha caderneta de anotar ‘os fiados’ – caderno com os nomes de quem compra a prazo. Foi com o dinheiro ganho na sua bodega que Ari comprou a sua casa, e por isso não se incomoda que o lugar seja chamado de bogeda. “Pode chamar de qualquer coisa. O importante é que gosto do que faço, e faço com honestidade”, disse o Arionaldo.

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Mais um cidadão vítima da violência

Ari já foi roubado duas vezes em momentos em que teve que sair da bodega para trocar dinheiro em um comércio vizinho. Em outra oportunidade foi assaltado por um elemento que usava uma arma branca. A situação mais dramática foi vivida na noite de 28 de julho de 2012, quando ele reagiu a uma tentativa de assalto e por um milagre não acabou sendo atingido por tiros. Apesar da idade, Ari travou uma briga com o assaltante, que acabou sendo imobilizado por moradores da rua e preso pela polícia.

Esse episódio abalou bastante o emocional do velho comerciante, que apesar do susto continuou tocando o seu comércio com muita coragem e determinação. “Esse foi um dos momentos mais tristes que já vive. Não gosto nem de me lembrar dessa história!”, desabafou o Ari da bodega.

A paixão pelo Sport Club do Recife

Ari começou a torcer pelo ‘Leão da Ilha’ em 1973, no dia em que Sport jogou contra o Santa Cruz na partida inaugural do estádio “O Pereirão”. Nessa partida o rubro negro perdeu para o tricolor, mas o rubro-negro acabou ganhando mais um torcedor para a sua legião de fanáticos admiradores. “Daquele dia para cá e a minha paixão até hoje. Só vou deixar de torcer pelo Sport quando eu morrer”.

O bodegueiro já teve a felicidade de assistir uma partida do time do coração no estádio do Arruda, e mais uma vez o seu time saiu derrotado. No entanto, ele se vangloria de ter visto o time saindo de campo sendo aplaudido de pé pela torcida, pois segundo ele, “jogamos demais, dominamos o jogo, mas naquele dia o goleiro do Santa Cruz pegou até pensamento”. O momento mais marcante para ele foi a conquista de 1987, o título do campeonato brasileiro, “esse título é polêmico, mas é nosso”, disse o apaixonado rubro-negro.

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