Vídeo com Imagens da Pedra do Sino
A famosa pedra fica localizada a 6 km do centro de Serra
Talhada, a margem direita da PE – 365 – rodovia que liga Serra Talhada a
Triunfo. O local durante anos foi uma importante atração turística da cidade
chamando a atenção dos moradores e de quem visitava Serra Talhada. Em seu livro
sobre o centenário de Serra Talhada (1851-1951), Mário Melo, importante
jornalista e político pernambucano, descreve desta forma a pedra:
“Constitue interessante curiosidade: um bloco de rocha, com
aparência de grande sapatão, superposta a outra, com o ponto de apoio apenas no
meio. Batendo-se em qualquer parte do bloco, nota-se vibração e ouve-se o som
dum ‘sol’ grave, semelhante ao de um sino.” Segundo Mário Melo, a população
achava que o bloco era “metálico”. No entanto, o próprio jornalista encarregou-se
de levar uma amostra da pedra para o Recife, onde alguns estudiosos do assunto,
identificaram que se tratava de material a base diorito, uma espécie de rocha
vulcânica.
Outra fato levando por Melo em seu livro é a possibilidade
das pedras terem sido colocadas naquela posição através da intervenção humana,
precisamente, de homens pré-históricos que habitaram a região há milhares de
anos, que fizeram o trabalho com o objetivo de usar o som da pedra para se
comunicar com outras tribos. Porém, o próprio autor acaba refutando a idéia,
pois, segundo ele, seria impossível os homens primitivos locomoverem uma pedra
de mais de uma tonelada.
Mário Melo ainda cita no seu trabalho de pesquisa o poema em
prosa de autoria do padre Jeferson Dinis, escrita em Teresópolis, no estado Rio
de Janeiro, em janeiro de 1942, no qual o vigário descreve a importância da
rocha para toda a sua geração.
“Já disse que o sino das igrejas é como o coração da gente.
Mas o meu coração é como aquele sino da catedral da minha infância. É um sino
de pedra que demora a nordeste da cidade de Vila-Bela, em Pernambuco, cujos
sons eternos, em sonoridades bárbaras, acordam lembranças que não devem dormir
o sono do esquecimento. Porisso, eu tenho dependurado na torre solitária da
saudade para que êle cante, chore ou festeje os dias de minhas primaveras em
terras do Pajeú. É êle quem as vezes, reúne no parque da memória os velhos companheiros
de escola, os meninos alegres daquele tempo: Metódio, Quincas Godoy, Zé Pedro,
Diocleciano, Lero Ribeiro e outros muitos, cujas as mãos infantis mil
marteladas vibraram nêsse querido sino de pedra, Deus colocou ao alcance dos
nossos desejos.”
Mas, apesar de todo o que se falava sobre a Pedra Sino, nada
foi feito para que o local fosse preservado. Durante anos a Pedra do Sino foi
usado como espaço para bebedeiras, práticas sexuais e uso de drogas.
O resultado desse descaso é que a depredação e o vandalismo,
fizeram com a pedra deixasse de emitir o som do sino. A rocha foi mutilada ao
longo dos anos e o que restou dela representa menos da metade do tamanho
original. No vácuo existente entre as duas pedras os vândalos colocaram lixo.
Ainda assim, é possível perceber um suave som de metal emitido pela rocha.
O local onde se encontra a Pedra do Sino poderia está em um
estado lastimável se não fosse Seu Manoel Ramos de Lima, também conhecido como
Manoel de Anestina. Seu Manoel é um aposentado de 70 anos, reside na Rua do
Egito, e há sete anos cuida do serrote onde fica a famosa pedra. Ele visita o
local cerca de três vezes por semana, e sempre que pode ele corta o mato no
entorno e pinta toda área, sem contar com ajuda de nenhum órgão público ou
privado.
Seu Manoel diz que tudo começou em 2008, quando ele
trabalhava como vigia no campo da associação ‘Peladão’. “Nesse período minha
esposa – Anestina – passou por problemas de saúde, foi então que eu fiz uma
promessa para Santo Antônio de Pádua e São Francisco de Assis. Graça a Deus ela
ficou boa e daí em diante eu prometi que iria cuidar do local até o fim da
vida” relata Seu Manoel.
O curioso da história de Seu Manoel é que ele fez a promessa
na capela que fica no serrote, construída em 1950, por Francisca Nunes de
Souza, que também foi agraciada com a intervenção dos dois santos. Apesar dos
registros na capela, tanto de bronze, como de mármore, ninguém sabe dizer quem
seria dona Francisca Nunes, nem mesmo seu Manoel tem conhecimento de quem seja
ela, mas mesmo assim, o aposentando mantém a capela em ótimo estado de
conservação.
Seu Manoel também fez outra promessa, só que dessa vez foi
para alcançar uma graça para a sua filha. “Minha filha estava grávida eu acabei
fazendo uma promessa para Nossa Senhora do Bom Parto, que se tudo desse certo
no parto da minha filha eu colocava uma imagem dela em cima da pedra”. E foi só
o neto de Seu João nascer para ele correr para cumprir a promessa.
As únicas coisas que Manoel não sabe dizer é que são os
autores da frase evangélica “Deus é Pai!” – pichada na pedra – e de colocar
elementos de rituais de religiões de matrizes africana no local. Mesmo com toda
boa vontade em manter o serrote limpo o aposentado é taxativo, “eu pinto, corto
o mato, só não faço é mexer nesse negócio de despacho!”.