Fotos: Farol de Notícias/Alejandro García
O ciclo do algodão em Serra Talhada é um tema pouco explorado pela historiografia local, assim como tantos outros, o que acaba deixando uma grande lacuna no que se refere a “preservação da memória” da cidade.
Muitas praças, prédios públicos e privados que hoje fazem parte do conjunto arquitetônico da “Capital da Beleza Feminina” foram construídos no auge da produção de algodão, entre as décadas de 1930, 40 e 50. Um desses prédios é o da antiga usina de beneficiamento de algodão, que fica localizado na Rua Cornélio Soares.
Na se sabe em que ano ocorreu a construção da antiga usina, sabe-se apenas que ela possuiu mais de um proprietário, um deles foi Peixe Gomes, um dos empresários bem sucedidos da família Gomes, que no período em foco possuía vários empreendimentos. Também não se tem certeza se a usina pertenceu à empresa americana de beneficiamento Anderson Clayton, que tinha como preposto o ex- prefeito Cornélio Soares.
ARQUITETURA
O prédio é bastante amplo e nos fundo está uma chaminé de cerca de mais de 20 metros de altura, uma relíquia arquitetônica que deve ser preservada como símbolo da pujança do ciclo do “ouro branco” no Sertão do Pajeu. Do maquinário nada restou, sendo que apenas uma mensagem de alerta ao funcionário na área onde funcionava a produção nos faz viajar ao passado. Boa parte fachada do prédio permanece inalterada.
Após o declínio da produção do algodão o prédio da usina ficou sem uso, sendo utilizado apenas em momentos pontuais, como por exemplo, da grande cheia do rio Pajeú, em 1966, onde boa parte dos desabrigados foram alojados no interior da usina.
O QUE RESTOU
Por muitos anos os jovens que morava no entorno da Rua Cornélio Soares costumavam pular o muro dos fundos para ir brincar nas máquinas que ainda restavam ou para subir na chaminé, que ao longo dos anos passou a ser conhecida popularmente como “o bueiro da usina”.
Atualmente o prédio foi dividido em duas partes, em uma delas funciona uma funerária, e na outra o depósito da loja do empresário Wilson Godoy, o popular “Ilumina”. Segundo Wilson, a área total da usina deve ultrapassar os 4 mil m².
Em entrevista ao FAROL, o empresário relatou algumas histórias e momentos relacionados ao local. “Quando eu era criança as pessoas contavam que vários funcionários foram jogados no forno da usina, era algo assustador. Também me recordo de quando chovia todo mundo da rua ia tomar banho nas bicas da usina, era uma coisa marcante e divertida”, conta Godoy.
Do período áureo do algodão o empresário se recorda de ter ouvido dizer que a sua avó, dona Isabel Otaviano Alves de Barros, conhecida carinhosamente como Dona Bezeca, foi convidada pelo empresário e senador Assis Chateaubriand, em 1953, para ir para o Rio de Janeiro.
“Minha avó era muito ligada Igreja e gostava de cantar. Assis Chateaubriand estava aqui para participar da Festa do Algodão e ouviu a minha avó cantar. Ele gostou muito e a convidou para ir para o Rio de Janeiro para gravar um disco e fazer carreira como cantora, mas os pais dela não concordaram com ideia por que ela era muito jovem na época”, concluiu Wilson Godoy.
Aviso de alerta aos funcionários da antiga usina
Boca do Forno ainda é conservada
Wilson Godoy: “Cresci ouvindo histórias sobre a usina”