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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quem foi Lampião?

Estamos diante da pergunta clássica, feita milhares de vezes. Antes que ousemos responde-la, porém, temos uma única certeza: estamos diante de um grande desafio.
No capítulo anterior, vimos às características físicas e os fatores conjunturais e estruturais do sertão. Uma região insólita, com características específicas, palco de muitas lutas sangrentas, e no ano de 1897, não era diferente. Sangue, tristeza e dor moldavam o cenário, onde os povos daquela terá hostil, mais uma vez sofreriam e seriam massacrados, em nome da lei e da justiça.
O arraial erigido nos ermos do nordeste da Bahia por Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido Antônio Conselheiro, fora tomado pelo Exército e dele quase na restou, a não ser escombros, cadáveres, sangue e cinzas.
Provavelmente neste mesmo ano, e na mesma região sertaneja, nasceu aquele cujo conselheiro profetizara, dizendo que iria surgir um poderoso cangaceiro.
Segundo Chandler (1980, p. 25) O cangaceiro de que falava o conselheiro, só podia ser Lampião.
De acordo com o registro civil, em 7 de julho de 1897, em Passagem das Pedras, uma fazenda a aproximadamente 40 Km de Villa Bella (hoje Serra Talhada) estado de Pernambuco, nascia Virgolino Ferreira da Silva, o terceiro dos noves filhos de José Ferreira dos santos e Maria Sulena da Purificação.

A Segunda profecia foi anunciada pelo cônego Joaquim Antônio de Siqueira Tôrres, quando fez seu batismo. Ao explicar para os familiares o significado do nome do menino, profetizou dizendo: Virgolino, vem de vírgula, que quer dizer pausa, parada. Quem sabe o sertão inteiro ou talvez o mundo não vai parar de admiração por este menino...! (LINS, 1997).
Assim como Antônio Conselheiro, o cônego, também não errou. Não demorou muito para que o menino nascido nos confins ameaçador do sertão saísse do anonimato para ser notícia no Brasil e no exterior.
Sua infância foi comum, como a de qualquer outra criança de seu tempo. A escassez de brinquedos e talvez a falta de recursos, levaram as crianças a improvisarem suas brincadeiras, numa imitação de vaquejada, “cangaceiro e polícia”. Os parcos brinquedos consistiam em ossos de boi.
As primeiras letras aprendeu com um professor particular. Não freqüentou nenhuma instituição que lhe instruísse para uma formação profissional, mas isto não privou o jovem Virgolino de se tornar um hábil vaqueiro e desenvolver grande habilidade em manufaturar o couro, além de tocar sanfona, viola e fazer versos de improviso.
Junto com o pai e os irmãos mais velhos trabalhava na roça, na criação de animais e na almocrevia que constituíam as principais atividades da família Ferreira.
Virgolino Ferreira da Silva, apesar da origem humilde, era um bom rapaz ou mesmo um rapaz extraordinário, mas que nasceu no sertão.
LUNA (1972, p. 24) descrever a realidade do sertão no início do século XX:
Uma terra sem lei, sem estradas em sem escolas. Era terra dos coronéis, chefes políticos, que políticos, que fabricavam votos, faziam deputados e senadores, transferiam delegados, promotores e juizes, promoviam oficiais e transformavam soldados em cabos, sargentos em tenentes, enfeixavam nas mãos rudes e firmes todos os poderes de mando. Sob o peso de sua prepotência o sertão suava e gemia.
E foi nessa terra, sem dono, sem lei, de dificuldades múltiplas que nasceu e cresceu Virgolino.
Até 1916, Virgolino e seus familiares levavam uma vida pacata, como almocreve abastecia de mercadorias os povoados vizinhos, sempre em companhia do pai, o senhor José Ferreira. Vale salientar que estas andanças pela região sertaneja, em que ele passava a conhecer bem o lugar e fazer amizades, mais tarde iriam lhe ser muito úteis.
A família Ferreira, tradicional no sertão era gente honesta e honrada que por ironia do destino talvez, tivesse que viver naquele meio hostil, que não daria trégua aquela gente simples e humilde, que figuravam entre gente poderosa. E entre os poderosos estava o “responsável” pelo desencadear de toda trajetória que tornou Virgolino, o homem mais temido e mais famoso de toda região nordestina.
Queixas irrelevantes, que em qualquer outro lugar não teria maiores conseqüências, entre aqueles sertanejos incultos acabava por se tornar uma briga ferrenha, que certamente terminaria em tragédia.
As duas famílias, a de José Ferreira e de José Saturnino, eram vizinhas e nutriam respeito mútuo, até surgirem queixas de que os Ferreiras ou os Saturnino, não se sabe ao certo quem estava com a razão, estariam roubando cabras e chocalhos. O caso foi levado ao conhecimento da polícia que obviamente tinham que tomar partido e ficar do lado daquele que pertencesse a elite local. Nessa disputa desigual, os Ferreiras saírem perdendo.
Nessa terra, onde as instituições responsáveis pela justiça, eram inoperantes, acordos eram feitos como parte do código dos sertões. Sendo assim, foi firmado um acordo entre os Ferreiras e os Nogueiras, na tentativa de resolver o conflito.
Os Ferreiras tendo menos prestígio que os Nogueira, em meio dessa sociedade, ficaram em desvantagem fazendo este acordo, pois tiveram que vender sua fazenda e se mudarem para outra comarca. Apesar disso, o pai de Virgolino não se importou em ter saído perdendo desde que em sua nova residência pudesse ter tranqüilidade. Infelizmente isso não aconteceu.
Saturnino quebrou o acordo e passou a perseguir a família de Virgolino inexoravelmente, levando-os a uma verdadeira peregrinação, que acabou pondo fim a vida do próprio Virgolino, fazendo com que ele entrasse definitivamente na vida do bandidismo. Virgolino estava morto. Nascia Lampião.
Aquela família fora levada ao paroxismo da desesperação. A luta desgarrada em busca da paz não foi alcançada. A mãe de Virgolino não resistiu ao sofrimento de tanta as mudanças e veio a falecer.
O pai foi assassinado fria e covardemente pela polícia de Alagoas em maio de 1921.
Foi chegado o momento definitivo em que não haveria mais retorno.
A partir daqueles acontecimentos, Virgolino “declarou que ia viver e morrer como um bandido” (CHANDLER, 1980, p. 46) e, assim o fez.
Até ocorrer a morte de José Ferreira, Virgolino e seus irmãos, Antônio e Livino andavam armados e usavam roupas que faziam lembrar os verdadeiros bandidos da região. Embora adotando essa atitude, nada mais era do que para se protegerem ou a sua família da intolerância de seus inimigos, principalmente de José Saturnino, que os perseguiam implacavelmente.
Mas a morte do pai de Virgolino veio abreviar aquilo que estaria por acontecer.
Desse triste episódio em diante, as chances de que os irmãos Ferreira pudessem levar uma vida normal eram remotas.
O chefe da família representava um ponto de referência para os filhos, que viam na figura do pai um homem honesto e trabalhador, que sabia superar as dificuldades que a vida lhe impusesse. Agora ele estava morto.
Para Virgolino que tanto estimava o pai, estavam mortas as possibilidades de ser ter uma vida digna, escolhendo viver como bandido, a fim de vingar a tragédia que se abatera sobre sua família.
Relevados da culpa pelo ideal de vingança, os irmãos Ferreira ingressam de vez no cangaço.
Todo ambiente mostrou-se receptivo ao surgimento de mais de um grupo de cangaceiros, com a diferença de que seria o grupo que mais sobreviveu ao tempo e ao espaço e fez de Lampião o bandido maior do século XX.
A região onde nasceu e cresceu, Lampião era infestado por modelos que lhe serviram de exemplo.
Chefes famosos como Antônio Silvino, Sebastião Pereira, entre outros, não apenas servia de modelo como influenciavam jovens daquela época.
No começo o grupo, de lampião era composto por quatro elementos, e por esta razão esporadicamente os irmãos Ferreira. Juntavam-se a outros bandos, como o bando irmãos Pocino, por exemplo, de Alagoas, fato comum entre os grupos de desajustados, que se juntavam para levarem um plano adiante, com maior número de homens, afim de não saírem com desvantagens com a polícia.
Nos primeiros tempos de sua vida de cangaço, Virgolino parecia mais um justiceiro. Não cometendo crimes ao caso, isto o distinguia de alguma forma dos criminosos comuns. Porém, com o passar dos tempos, muitas vidas inocentes foram trucidadas sem que houvesse explicações.
Virgolino entra para o grupo de Sinhô Pereira destaca-se pelo talento com o manuseio das armas, essa habilidade deu origem a apelido que o tornou conhecido em todo mundo ‘’LAMPIÃO” .
“Como saberemos seguir Virgolino, se a peleja será na escuridão da noite? ... Antes do chefe responder Virgolino profetizou o seu nome que substituiu para sempre o que receberá no primeiro sacramento. ‘ - Siga a o Lampião, vou abrir fogo com tanta velocidade que o cano da minha arma vai iluminar feito um lampião”(SOUZA, 2006/2007, p. 135).

FONTE: Monografia: LAMPIÃO E SEU GRUPO NOS IDOS DOS ANOS 1920. O CANGAÇO GOVERNANDO O SERTÃO. Autor:SANTOS, PAULO C. G DOS . SERRA TALHADA – PESETEMBRO DE 2009

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