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domingo, 3 de agosto de 2014

OPINIÃO: A presença feminina no futebol de Serra Talhada e as primeiras transmissões radiofônicas

Por Paulo Cesar Gomes - Professor, escritor e pesquisador serra-talhadense

O mundo do futebol sempre foi dominado pelos homens, principalmente nas primeiras décadas do século XX. Porém, o sexo frágil foi lentamente rompendo as barreiras que separavam da bola e dos gramados. No que se refere a Serra Talhada, os espaços sempre foram restritos, principalmente em função do machismo e da falta de apoio para a formação de equipes femininas.

Por esses motivos, encontrar registros sobre a presença de mulher no futebol local é quase impossível. As raras fotos encontradas apontam a caracterização de uma mulher vista apenas como figurante, ou no mínimo, coadjuvante.

Um dos raros registros é do time do Odeon Futebol Clube, criado por Zé Ribeiro na década de 40. Na fotografia são identificadas duas mulheres.  A primeira do esquerdo é Nenén, aparentemente a porta bandeira parece ser esposa de algum dos jogadores ou de algum dos diretores do clube.  A outra moça do lado esquerdo é Gerusa, que também não se sabe nada sobre o seu vínculo com a equipe.

Odeon de Serra Talhada
Foto do time do Odeon Futebol Clube – década de 40
Em pé: Nenén, Antônio de Sá, Manoel de Constância, Amaury, Walfredo, Ivanildo, Luiz, Felinto, Manoel Carvalho e Geruza // Agachados e sentados: Chico de João Gomes, Genildo, Areinha, Zé de Lucas, Luciano e Zé de Carcanha.

 Já na década de 70, com a construção do estádio Pereirão e a ascensão do Comercial Esporte Clube, a presença das mulheres passou a ser vista com mais frequência nas arquibancadas. Era comum as famílias assistirem aos jogos nos finais de semana, sempre acompanhados de crianças e adolescentes.

No entanto, algumas presenças não eram muito bem vistas, como a de Nivalda – a mais popular dona de cabaré da época – e as suas “meninas”. Mesmo sendo fies torcedoras do Comercial, Nivalda e companhia, precisavam ser isoladas pela polícia em um canto do estádio, uma forma de distinguir os estilos de vida conflitantes.

Nivalda em entrevista para o Globo Repórter - 1977

Bar de Nivalda
Fotos do Bar de Nilvada – década de 70

Apesar do choque cultural existente, o espaço feminino ainda continuou delimitado e difícil de ser conquistado. A mulher só era vista como protagonista em jogos quando ocorriam eventos importantes. Em desses jogos foi registrado a entrada da Miss Pernambuco de 1974, a serra-talhadense Cilene Aubry, entrado em campo junto com os capitães do time Comercial e da equipe adversária. A primeira mulher a conseguir ter voz e vez dentro de um time foi Lia Lucas. Ela ocupou um lugar de destaque no Comercial.
Cilene Aubry em partida do Comercial 001
Foto de Cilene Aubry entrado em campo junto com os capitães do time Comercial e da equipe adversária e atrás do lado esquerdo Lia Lucas – 1974

O tempo passou e somente nos anos 90 encontramos um time de futebol feminino, e pelo incrível que pareça, surgiu justamente em um pequeno e até então esquecido bairro da cidade. Foi no bairro da Cachichola que as jovens do Palmeiras fizeram história, apesar da falta de apoio, elas conquistaram vários títulos locais em quase três de existência.

Time femino do Palmeras da cachichola 30.03.970001

Foto do time feminino do Palmeiras da Cachichola – 1997

 A RÁDIO A VOZ DO SERTÃO AM E AS PRIMEIRAS TRANSMISSÕES ESPORTIVAS

A Rádio A Voz do Sertão entrou em operação no dia 08 de janeiro de 1978, e desde então vem acompanhado os desenvolvimento do futebol profissional e amador da cidade. A rádio pioneira da cidade foi responsável por transmitir para praticamente todo território nacional os jogos do Comercial.

Segundo a radialista e ex-diretor da rádio José Honório, a primeira equipe esportiva da A Voz do Sertão tinha como comandante o grande Otávio Jr., que também era comentarista ao lado de Milton Baiano, e Wilsom de Souza e Gilberto Santos, eram os repórteres, o narrador era Wanderley Galdino, o plantão esportivo era feito José Honório. Em meados de setembro de 1979, Zé Honório passou a ser narrador e Gildo Godoy o comentarista, e as reportagens a cargo de Gilberto Santos e João Filho, o plantão ficou por conta de Roberto Nascimento.

Na época os jogos eram transmitidos com linhas da TELPE e era usada uma mesa portátil para transmitir os jogos. No Pereirão a emissora disponha de uma linha exclusiva, mas quando os jogos eram fora, era preciso solicitar duas linhas a TELPE com uma antecedência de 72h., já para as partidas fora do estado as linhas usadas eram da EMBRATEL.

Quando indagado sobre o período em que narrou jogos do Comercial, Zé Honório não disfarça a emoção. “Narrei vários jogos do Comercial. Era um time imponente, quase imbatível quando jogava em seus domínios. É difícil dizer qual jogo foi mais emocionante, pois foram muitos. Contra os três grandes da capital pernambucana, Madureira e São Cristóvão, do Rio de Janeiro (amistosos). Mas teve um que me lembro bem, pois foi muito marcante. Foi um amistoso contra o Ceará, que terminou empatada em 1 x 1, que Fio Maravilha jogou pelo Comercial e fez jogadas inesquecíveis.

Para ele existiram grandes jogadores que vestiram a camisa do time alvirrubro em suas diferentes fases. “É difícil dizer qual o melhor time do Comercial, mas muitos jogadores fizeram a diferença em épocas distintas, como os goleiros Edson I, Edson II e Beto do Batukão, Bria, Paulo Moura, Messias, Gula, Lula, Batista, Willams, Toninho, Colorado, Puritó, Grego. E tantos outros como o inesquecível Mimi, que pra mim, junto com Bria e Gula, eram jogadores diferenciados” conclui Honório.

Jose Honorio
Foto de Zé Honório

Outro radialista que também guarda grandes recordações da época transmissões esportiva é Nildo Gomes, que no final do anos 70 desistiu de fazer um teste de locutor que organizado pelo Otávio Jr.  porque viu uma fila quilométrica em frente ao prédio da emissora.

Após mais de cinco anos fora da cidade, Nildo Gomes, procurou José Honório, que na época já era o diretor da rádio A Voz do Sertão, para fazer um teste, a autorização foi dada e jovem Nildo e participou ao vivo de um programa de esportes da emissora falando sobre o jogo amistoso festivo entre o Náutico e o Botafogo – RJ, que seria realizado no final de semana seguinte no estádio “Pereirão”. José Honório gostou da participação de Gomes e o convidou para fazer os comentários e também trazer notícias diárias para o programa.

Nildo Gomes acabou sendo escalado para atuar como repórter na abertura da jornada esportiva durante a transmissão do confronto entre alvirrubros e alvinegros.  No entanto a grande para ele ainda estava por vir. “Por volta dos 30 minutos do 2º tempo um fato marcante aconteceu.

O locutor Wilson Marques que fazia o plantão no estúdio anunciou que a Rádio Tupi do Rio de janeiro entrava a partir daquele momento em cadeia com a rádio A Voz do Sertão e passaria a transmitir os minutos finais da partida”. Para o radialista estrear ao vivo e por tabela, mesmo que durante poucos instantes, em um link com uma rádio que atingia todo o território nacional foi uma grande surpresa.

Nildo apresentando show da cantora Amelinha na campanha de Miguel Arraes governador - Serra Talhada 1986 (1)
Nildo Gomes apresentado a cantora Amelinha no famoso comício de Miguel Arrares na Rua dos Correios em 1986


Um forte abraço a todos e a todas e até a próxima!



Publicado pelo portal Farol de Notícias de Serra Talhada, em 03 de agosto de 2014.

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