Há
25 anos era lançado pela banda D.Gritos o disco BARRIGA DE REI, um trabalho musical revolucionário,
levando-se em consideração o contexto da época, onde o verdadeiro forró dominava
o seguimento musical em praticamente todo o Nordeste.
O
LP é recheado de pegadas de guitarra de altíssimas qualidade, com variações eletrizantes
de solos e de rifes, assim como de uma bateria extremante vibrante, lembrando o
que de melhor existia no rock nacional. A qualidade do trabalho se estende ao
baixo e aos teclados, instrumentos que eram bastante usados em grupos nacionais
e internacionais, com o RPM e o Queen. Uma
inovação apresentada pela banda no disco foi uso de instrumentos de percussão,
uma mistura que foi usada pouco tempo depois por Chico Science e o movimento Manguebeat.
Capa do disco
Outro
destaque do disco são as letras, que também refletiam o sentimento da juventude
local que começa a vivenciar a liberdade proporcionar com o fim da Ditadura
Militar. Soma-se a isso, o fato de que os compositores da banda – Camilo Melo e
Ricardo Rocha – traduziram como ninguém os seus dilemas pessoais e as sua indagações
sobre a vida, o amor, a politica e a religião.
O
trabalho foi gravado no estúdio Estação do Som, em Recife, e produzido por Orlando Lima (Zé Orlando) e a própria banda. Segundo
Camilo, a participação de Zé Orlando foi decisiva para o sucesso do BARRIGA
REI, pois ele acrescentou muito com a sua experiência e talento. Zé Orlando
acompanhou o grupo desde os ensaios, ainda em Serra Talhada, até fase a final com
a passagem das músicas para o type. Para fazer todo o processo de gravação,
mixagem e masterização, o grupo levou pouco mais de trinta horas. A rapidez é
justificada em virtude de questões financeiras. O dinheiro que a banda tinha
não era suficiente para passar mais tempo gravando no estúdio.
Em
função de uma viagem de Ricardo Rocha para São Paulo, coube a Paulo Rastafári -
que havia entrado há poucos dias na banda - a responsabilidade por imortalizar através
da sua voz as músicas que ainda hoje tocam em rádios de todo o Brasil e são
baixada através da internet por faz e admiradores do trabalho da D.Gritos.
Músicos
que participaram da gravação:
CAMILO
MELO – guitarra e violão; JORGE STANLEY: bateria e percussão; TOINHO HARMONIA:
contrabaixo; DITINHO - teclado; NILSINHO – percussão - PAULO RASYTÁFARI – Voz.
Ficha
técnica:
Produção
Musical: D.Gritos, Orlando Lima
Arranjos:
D.Gritos
Gravação:
Tião Patinhas, Léo Dim
Mixagem
– Léo Dim
Edição
- Tião Patinha
No
disco BARRIGA DE REI foram gravadas as seguintes músicas: - lado A - “Grilos”, “Escravos
de Ninguém (Porra)”, “Barriga de Rei”, “Loucos (Mayra)”,- lado B - “Quando Será Minha
Vez”, “Eu Sei”, “Seduções de Imagens” e “Última Vez”.
Banda
D.Gritos na foto para a encarte do disco BARRIGA DE REI
Segundo
Jorge, o disco BARRIGA DE REI é do ponto de vista musical o mais popular da
banda, isso se deve aos arranjos MPB/POP e ao estilo musical de Paulo Rastafári.
Além disso, o disco foi o único a ser comercializado.
Entre
a gravação do disco e o lançamento oficial, realizado no Batukão, foram mais de
onze meses, nesse período a banda realizou algumas apresentações, e também
concederam várias entrevistas, além de apresentações em emissoras de TV; em
Campina Grande-PB e em Recife; na TV Pernambuco, TV Jornal, Tribuna e
Universitária. Mas mesmo com a realização de vários shows e com toda a
badalação em torno do repertório, ainda faltava a comercialização do disco que
não ocorria em função da capa ainda não está pronta.
Diante
da falta de dinheiro para resolver o problema, Camilo teve a ideia de vender os
discos de forma antecipada através de cartões (cupons), que foram produzidos
com o apoio da Casa da Cultura. Com os cartões nas mãos, o grupo caiu em campo
e conseguiu vender aos familiares, amigos, comerciantes, profissionais liberais
e servidores públicos, chegando ao total de 288 cupons. Com o dinheiro
arrecadado foi possível realizar a
cofecção das capas para os discos que já estavam prensados.
Cartão
(cupom) usado para arrecadar dinheiro para a confecção da capa do disco
A
ideia da capa do disco foi de Camilo, sendo que a criação foi de Tarcísio
Rodrigues, Aluízio Nunes, Karoba Nunes e Fatima Silva (Fafá). Arte final foi de
Edna Batista, e as fotos foram feitas nas areias do Rio Pajeú, utilizando um
jornal com o nome da banda pintado por Tarcísio Rodrigues e reveladas no Tucano
Studio, de Aluíso Nunes, e no Foto Reis, de Anacleto Reis. O encarte ficou por
conta do talentoso artista plástico Karoba Nunes, que ilustrou com maestria o momento politico e social do país.
Na
contra capa do disco a banda prestou várias homenagem, entre elas, uma merece
um destaque especial, a que foi prestada as mães de cada um dos integrantes da
banda. “As nossas mães que nos colocaram
no mundo e nos deram tantas inspirações e força para chegarmos até aqui. D.
Juracy, D. Lourdinha, D.Gilda, D. Ana e D. Adélia muito obrigado!”. Os amigos
da “TURMA” dos D.Gritos também foram lembrados e a música “Loucos (Mayra)” foi
dedicada in memória de Geovani (Vaninho), um grande amigo dos membros da banda
e que morreu em trágico acidente automobilístico alguns dias antes da gravação
do disco.
Ainda
na contra capa, também consta um agradecimento aos amigos que sempre deram
força ao grupo, entre eles: Ivaldo Nogueira, Antônio Alexandre, Nildo Gomes,
Rui Grúdi, Bil, Joseley Gildo, Zé Paulo, Márcio, Carlito, Ronaldo, Pedrinho,
Antônio Rosa, Álvaro, Fred Pinto, Domar, Veva, Tovinho, Fafá, Tarcísio
Rodrigues, Daniel Dantas, José Fernandes.
Encarte
do disco BARRIGA DE REI elaborada pelo artista plástico Karoba Nunes
Com
o material pronto, o disco começou a ser vendido e acabou sendo lançado em
outubro de 1989, em um grande evento no Batukão, já contando com o retorno de
Ricardo Rocha. Foi uma noite memorável, que contou com a presença de
familiares, amigos e muitos fãs da banda. Esse momento ficou marcado na memoria
de todos os músicos que tocaram naquele noite, pois foi com o disco BARRIGA DE
REI que a banda D.Gritos entrou definitivamente para a história da música
pernambucana e brasileira. Em função do valor histórico, alguns colecionadores
e fãs do grupo chegam a pagar valores generosos por um exemplar do disco.
Fotos do show no
Batukão durante o lançamento do disco BARRIGA DE REI
Fonte: Livro "D.Gritos: do sonho à tragédia. A história da maior banda de rock do Sertão Pernambucano", escrito por Paulo César Gomes.
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