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terça-feira, 23 de abril de 2013

Traição e morte dentro do cangaço Zé Baiano:"Sanguinolento e feroz. Desalmado e Corno!"


Consta da história que o sanguinário e impiedoso cangaceiro Zé Baiano, chefe de um dos grupos de Lampião, atuava principalmente na região de Frei Paulo e adjacências, no nosso querido Estado de Sergipe, inclusive era um rico bandido que tinha a audácia de também ser um forte agiota, emprestando dinheiro a juros exorbitantes para fazendeiros e comerciantes daquelas cercanias.

O famoso bandoleiro ferrador Zé Baiano, apesar da sua feiúra em todos os sentidos, tinha o privilégio de ter como companheira a mais linda e atraente das cangaceiras – Lídia. Contaram os remanescentes do cangaço, mais de perto os então cangaceiros sobreviventes e alguns ex-coiteiros e protetores de Lampião, que a linda Lídia era daquelas mulheres de“fechar quarteirão”, de deixar todos os cabras-machos “babando” de desejo, principalmente quando se apresentava saindo dos rios ou lagoas em vestido molhado e colado ao seu estrutural corpo. Diziam ser um verdadeiro deslumbre de se ver a cangaceira Lídia no seu andar provocante, mas infelizmente não há uma fotografia dela sequer para assim comprovar tal beleza.

Por isso era admirada e desejada por todos os cangaceiros, mas ninguém se atrevia a dar uma “cantada” na moça, até porque, apesar de todos ali serem bandidos perigosos, havia muito respeito dentro do acampamento. Essa era uma das regras impostas e prova inconteste da liderança e comando de Lampião, ou seja, exigia o chefe, acima de tudo, que todos se respeitassem mutuamente e que só houvesse sexo entre os casais devidamente conquistados e efetivados. Além disso tudo, o próprio Zé Baiano, pela sua crueldade, era dos mais respeitados dentro do bando e mais ainda fora do acampamento, onde quer que chegasse. O seu nome fazia arrepiar e tremer de medo qualquer um, talvez até mais do que o próprio Lampião que era bem mais complacente.

Um temível cangaceiro acostumado a ferrar mulheres com ferro em brasa com as iniciais "JB" nos seus rostos, virilhas ou nádegas somente pelo simples fato delas usarem cabelos curtos, maquiagens ou roupas decotadas. Enfim, um psicopata impiedoso, ignorante em todos os sentidos que matava, estuprava, roubava e torturava as suas vítimas sem dó ou piedade.

Ocorre, porém, que o desejo da carne terminou sobrepondo todos os perigos possíveis e assim a linda cangaceira Lídia terminou por ceder ou mesmo procurou os encantos do cangaceiro conhecido por Bem-te-vi e com ele passou a cometer adultério em eloquentes e quentes encontros sexuais dentro do mato quando da ausência de Zé Baiano no acampamento. No entanto, o cangaceiro Besouro que também já estava de olho em Lídia há algum tempo e até desconfiado que ela traia Zé Baiano com o Bem-te-vi, certo dia seguiu os dois quando eles entraram disfarçadamente mato adentro, pegando-os em flagrante na hora do ardente sexo. Daí fez uma proposta para a Lídia que se ela também mantivesse relações sexuais com ele, o segredo ficaria somente entre os três, caso contrário ele contaria tudo a Zé Baiano. Indignada, a corajosa Lídia retrucou agressivamente com palavras de baixo calão o cangaceiro Besouro e sua indecente chantagem.

Então, naquela mesma noite, quando todos estavam reunidos em volta a uma fogueira, contando e recontando as diversas histórias de Trancoso, histórias de assombração, histórias de botijas e histórias diversas das guerras do cangaço, o bandido flagranteador Besouroprovocou a Lídia que apesar de tudo não arrefeceu mostrando força, coragem e determinação mesmo sabendo que tal gesto poderia valer a sua própria vida.

Presentes estavam os maiorais do cangaço que “lavaram as suas mãos” sem interferirem na decisão, a exemplo do supremo chefe Lampião e de outros da sua inteira confiança comoCorisco, Luís Pedro, Moreno, Virginio e Labareda, além do próprio traído, cangaceiro Zé Baiano. Corajosa, afoita, determinada, atrevida no atrevimento suicida das mulheres decididas da época e até mesmo inconsequente para o momento, Lídia repeliu o seu companheiro surpreso e enlouquecido de raiva e ódio, Zé Baiano, exclamando em alto e bom som: Estive com ele, sim!… Que tem isso?… O que é meu eu dou a quem quero!…

Enlouquecido em místico de vergonha, raiva, ódio e desespero ao mesmo tempo, Zé Baiano arrastou Lídia até uma árvore ali perto e após amarrá-la, matou-a impiedosamente a cacetadas e depois chorou copiosamente a perda do seu grande amor, enterrando o seu tão desfigurado corpo do que antes tinha sido uma linda mulher. Para ele a sua honra fora lavada com o sangue da traidora. A partir de então Zé Baiano que já era malvado ficou ainda pior, principalmente contra as mulheres.

Já o cangaceiro delator, Besouro, foi morto ali mesmo por ordem de Lampião no momento em que Lídia disse que ele assim tinha denunciado o fato em contrapartida dela não ter aceitado também transar com ele. Por sua vez, o cangaceiro Bem-te-vi logo no início da conversa, de um pulo, tratou de fugir na escuridão, mato adentro em desabalada carreira para nunca mais se ter notícias dele.

Era um tempo atroz em que não se aceitavam traições femininas em hipótese alguma e quem assim se atrevesse a contrariar as regras pagava com a sua própria vida.

* Autor: Archimedes Marques (delegado de Policia no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela Universidade Federal de Sergipe).

* Fonte (cariri ligado)

RELIGIOSIDADE dos Escravos no Brasil


Quando os negros escravos chegaram ao Brasil trazidos da África de variados grupos étnicos eles trouxeram consigo as suas crenças e rituais, e ao correr do tempo foram aculturados, catequizados e convertidos ao catolicismo pelos padres da Companhia de Jesus.

E nesse processo de assimilação, muito dos seus valores culturais foram preservados assim como as imagens dos mitos anteriores que foram associados aos santos a própria maneira de ser, o gosto pela música, pela dança e pelos panos coloridos.

Na cidade do Rio de Janeiro, os negros foram inicialmente aceitos na igreja de São Sebastião do morro do Castelo, porém quando da transformação daquele templo em Sé, os negros acabaram sendo hostilizados, e passaram à ter muitas dificuldades para realizarem os seus cultos, em virtude dos fatos os irmãos se empenharam e decidiram construir seu próprio templo, e para isto em 14 de Janeiro de 1700 obtiveram o alvará de licença para edificação e o privilégio de escolher o sacerdote para a celebração do ofícios, e em Agosto de 1701 foi oficializado a doação do terreno por parte de Dona Francisca de Pontes diante do tabelião João de Carvalho Mattos, e no dia 2 de Fevereiro de 1708 foi colocada a pedra fundamental para a construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Preto que cresceu e desenvolveu-se conforme a sua vocação natural sem ostentar muito luxo porém com seu caráter festivo que nos dias dos santos se tornou palco memoráveis de comemorações.

Ao reunir fieis pretos e brancos das mais variadas camadas sociais de toda a cidade para presenciarem um curioso desfile que reunia o rei e a rainha negros com sua corte vestidos de ricos trajes bordados que saiam pelas ruas dançando e batendo palmas num ritual a que muitos estudiosos atribuem as origens do carnaval.

E no ano de 1734 quando das obras na igreja do morro do Castelo, a catedral foi transferida para a igreja Cruz dos Militares, mas em conseqüência de desacordos surgidos em 1737, a Sé foi transferida para a igreja a igreja do Rosário e São Benedito onde o cabino não demorou a criar novas contrariedades, que levou a irmandade a se queixar ao rei, todavia em resposta a carta da irmandade o soberano determinou que a catedral permanecesse até a construção de uma nova Sé. E quando da chegada de Dom João VI ao Rio de Janeiro em 7 de Março de 1808, ele manifestou a intenção de visitar a catedral da cidade e tal travou-se uma verdadeira batalha ente os cônegos que queriam receber os reis à porta, e por este motivo acabaram impedindo que o pessoal da irmandade e donos da igreja participassem da recepção, ante porém que a disputa se tornasse mais radical.

Os irmãos optaram em demonstrar que estavam conformados com a decisão e se retiraram da igreja e se ocultaram nas redondezas, no momento em que o cortejo real com Dom João VI aproximava-se do templo, os irmãos tomaram a dianteira do grupo, festejando e fazendo alas para a passagem dos soberanos e seus acompanhantes até o altar.

Irmandade dos Homens Pretos


A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é uma confraria de culto afro-brasileiro, congregados em torno da devoção a Nossa Senhora do Rosário.

Origens da devoção a Nossa Senhora do Rosário

A devoção a Nossa Senhora do Rosário tem sua origem entre os dominicanos, por volta de 1200. São Domingos de Gusmão, inspirado pela Virgem Maria, deu ao rosário sua forma atual. Isto pode ser comprovado em episódios revelados em sua iconografia. A primeira irmandade do rosário foi instituída pelos dominicanos em Colônia (Alemanha), em 1408. Logo a devoção se propagou, sendo levada também por missionários portugueses ao Reino do Congo.

A irmandade de Nossa Senhora do Rosário no Brasil

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário chegou ao Brasil no século XVI. Em Santos, a igreja matriz já tem como padroeira Nossa Senhora do Rosário. No século XVII, esta mesma imagem de Nossa Senhora é a padroeira principal de Itu, Parnaíba e Sorocaba.
A partir do fim do período colonial, as irmandades do Rosário passam a ser constituídas pelos "homens pretos".

No Brasil, ela foi adotada por senhores e escravos, sendo que no caso dos negros ela tinha o objetivo de aliviar-lhes os sofrimentos infligidos pelos brancos. Os escravos recolhiam as sementes de um capim, cujas contas são grossas, denominadas "lágrimas de Nossa Senhora", e montavam terços para rezar.

Registra-se as seguintes datas de fundação das Irmandades dos Homens Pretos:
·                    1640 - Rio de Janeiro (cidade), Rio de Janeiro
·                    1708 - São João del-Rei, Minas Gerais
·                    1711 - Cidade de São Paulo. Sede atualmente localizada no largo do Paiçandu, região central. A entidade foi criada para abrigar a religiosidade do povo negro, impedido de freqüentar as mesmas igrejas dos senhores, e resiste à urbanização, mantendo em seu calendário uma devoção secular a Nossa Senhora do Rosário. São realizadas procissões, novenas e rezas do terço, despertando o interesse dos que transitam pelas proximidades da avenida São João e da avenida Rio Branco.
·                    1713Cachoeira do Campo e Sabará, Minas Gerais
·                    1715Ouro Preto, Minas Gerais
·                    1728Serro, Minas Gerais
·                    1754 - Viamão, Rio Grande do Sul
·                    1771 - Caicó, Rio Grande do Norte
·                    1773 - Mostardas, Rio Grande do Norte
·                    1774 - Rio Pardo, Rio Grande do Sul
·                    1796 - Salvador, Bahia
·                    1782Paracatu, Minas Gerais

A Irmandade do Rosário possuía a seguinte hierarquia: a Mesa Administrativa, o Conselho de Irmãos, a Coorte e o Estado Maior com suas Guardas. Em alguns lugares, devido à perseguição promovida pelo clero, algumas destas irmandades desvincularam-se da Igreja Católica. Mais recentemente, em algumas dioceses há uma reaproximação, através da Pastoral Afro-Brasileira.

Com quase três séculos de existência, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos é uma referência para movimentos de consciência negra, porque apresenta uma tradição religiosa que remonta aos tempos dos primeiros escravos. Texto de Maria José de Deus.

Irmandade dos Homens Pretos em São Paulo

A Irmandade sofreu as agruras de ver sua primeira igreja, na Praça Antônio Prado, construída em 1725 com a arrecadação de doações e esforço dos malungos (irmãos), ser demolida para dar lugar a projetos de urbanização da Província.

Os negros conseguiram manter relativo patrimônio ao redor dessa igreja, casas simples serviram para atividades religiosas, acolhimento dos alforriados e a administração da Irmandade, composta de diretoria e mesários.

Irmandade do Rosário em Minas Gerais As irmandades religiosas nas minas sestessentistas eram particulamente diferentes em sua organização, já que a igreja não era autorizada a ter ordens em Minas Gerais. A organização das ordens terceiras erma exclusivamente feitas por leigos, nesse caso os negros libertos e escravos.

Hoje, esse estilo colonial permanece nas dependências da igreja que, por ser capela, está sob a jurisdição da paróquia de Santa Ifigênia. No subsolo fica a mesa administrativa, onde os irmãos se encontram para a celebração da missa de domingo, para confraternização e para a distribuição mensal de cerca de 150 cestas básicas. Eles vivem esses momentos agradáveis e de decisões em meio a recordações, mantidas num acervo de pinturas, ilustrações, fotografias, imagens e documentos que trazem à lembrança os primeiros irmãos. "Eu me emociono e sinto um grande amor por tudo isso aqui", revela Cleofano de Barros, há 50 anos na Irmandade.

A eleição da diretoria é anual para os cargos de juiz provedor, secretário, tesoureiro e procurador, que exercem atividades administrativas e pastorais na comunidade, incentivando a formação da juventude, de equipes de música e de liturgia. Nessa ocasião, também são eleitos os festeiros, o rei e a rainha, que juntos com o juiz e a juíza organizam, durante o ano, com o apoio das irmãs e dos irmãos, as festas de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. "A Irmandade conseguiu agregar um número considerável de afro-brasileiros. Somos cerca de 220 membros", diz o juiz provedor Marcelo Antonio Saraiva, 32 anos.

Os irmãos recebem pesquisadores, religiosos e pessoas de outros Estados e até do exterior, interessados em conhecer e estudar as razões de tanta longevidade e que ficam deslumbrados com o interior da igreja, que apresenta uma variedade de detalhes na pinturas das paredes, nas vestimentas e adornos dos santos, nas luzes do altar-mor que refletem entre lustres, candelabros e flores. "Só a devoção a Nossa Senhora foi capaz de manter-nos unidos, com a Irmandade aproximando-se dos 300 anos, e trazendo com a religiosidade, a conscientização capaz de forjar o surgimento de outros movimentos negros", esclarece a advogada e ex-deputada estadual, Theodosina Rosário Ribeiro, que já foi juíza, é mesária, e ainda faz parte da equipe litúrgica.

Tradições e festejos

A festa de Nossa Senhora do Rosário era conhecida como da Oraga, que quer dizer padroeira. Essa designação foi usada até o Concílio Vaticano II, quando as missas eram rezadas em latim e a ladainha cantada. "Há alguns anos, os festejos se estendiam até à noite, mas com a cidade de São Paulo cada dia mais violenta, preferimos realizar a celebração durante o dia", revela Jonas Gregório Lucas, mestre de cerimônia. Há 40 anos na Irmandade, Jonas acrescenta que ainda são conservadas tradições nas festas e posse dos irmãos e irmãs, quando os homens usam a opa, uma vestimenta sobre os ombros e as mulheres, fita azul sobre vestidos pretos ou brancos.

No primeiro domingo de outubro, quando é realizada a festa do Rosário, a igreja vive momentos de esplendor com missa solene, coroação de Nossa Senhora, almoço para a comunidade e irmandades de São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. Nesse dia, o povo sai em procissão pelas ruas do centro, cantando e acompanhando a banda de música, as crianças vestem-se de anjos, cumprindo as promessas dos pais, os irmãos e irmãs carregam os andores, o rei e a rainha as coroas, lembrança dos reisados e congadas. "Sinto muito alegria em ser a madrinha e responsável em levar o estandarte de Nossa Senhora", conta Lucy Mineiro, que neste ano passará a incumbência para outra irmã, já que foi escolhida para ser a rainha.

Bibliografia
·                    Azzi, Riolando (1983): "A instituição eclesiástica durante a primeira época colonial", in: História da Igreja no Brasil, (3a edição), Edições Paulinas/Vozes, Petrópolis, Brasil.
·                    Cássia, Taynar de (2001): Movimento negro de base religiosa: a Irmandade do Rosário dos Pretos. CADERNO CRH, Salvador, nº 34, p. 165-179.
Secco, Lincoln et al. (orgs.). São Paulo - Espaço e História. LCTE.

CANGAÇO: Um cenário violento


Os sertões do nordeste brasileiro no início do século XX foram o cenário e o refúgio de pessoas que derramaram muito sangue. Além da seca castigante, do descaso político, do total abandono da população pobre do Nordeste, ainda era preciso sobreviver ao cenário de grande violência e de ausência de direitos. No período compreendido entre 1920 e 1930, já não havia mais o cangaço romântico praticado por cangaceiros que se mostravam próximos do povo e foi época marcada pelo cangaço mais violento, em que são muitos os exemplos de matança com o proposto de roubar e de ampliar a fama dos seus ícones.
No entanto, a violência não estava apenas refugiada na caatinga, nas temidas figuras dos cangaceiros. É o que explica o professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), historiador Lemuel Rodrigues. Lemuel é atualmente o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e ressalta que este é o tema central do XIV Fórum do Cangaço – ‘Violência nos sertões do Nordeste no Tempo do Cangaço’ – que acontecerá nesta semana de 12 a 14 de junho na Universidade Potiguar (UnP). “O Fórum neste ano será realizado em parceria com o Curso de Direito da UnP, trazendo duas temáticas com caráter interdisciplinar: A violência contra a mulher e a liberdade de imprensa. Teremos alunos das áreas da História, Direito, Ciências Sociais, Comunicação Social, Pedagogia, Serviço Social, dentre outras”, explica Lemuel.

Para uma compreensão da temática da violência no contexto do cangaço, Lemuel lembra que é preciso entender a violência de forma ampla:

“Precisamos lembrar que o sertanejo sofria a seca e tinha poucas oportunidades. Se não fosse comerciante, se não tivesse acesso aos estudos como as famílias da elite, seria agricultor, policial ou cangaceiro. Era o tempo do coronelismo em que os grandes fazendeiros detinham o poder político, oprimiam e mandavam na polícia e esta atendia aos seus interesses. Esse era o cenário na época. O Estado não oferecia proteção e nem garantia dos direitos e o cidadão precisava se armar para defender a sua vida e de sua família. Por isso a violência não estava apenas no cangaço”, explica.

A mulher sertaneja
Nesse ambiente, o professor lembra sobre como a mulher sertaneja dessa época, totalmente subserviente ao modelo patriarcal, era alvo constante de violência:

“A mulher dessa época sofria violência do Estado que a considerava inferior. Mas ela era alvo de violência dentro da própria família. Não se podia falar de cidadania à mulher como se fala hoje. Algumas mulheres se destacaram, mas foram casos isolados dentro de uma sociedade puramente machista”, analisa.

Quando observados os casos de violência a mulheres pelos cangaceiros, havia o sequestro de meninas para que elas lhes servissem no bando, quando não eram violentadas, ou mesmo ferradas (com ferro quente) no rosto como acontecia com as vítimas do cangaceiro Zé Baiano.
Nesse sentido, o Fórum pretende mostrar qual era o cenário da constituição da época, como as leis tratavam as mulheres e de que modo a imprensa desse período tratava a temática do cangaço, geralmente com o olhar da burguesia da época.

“Sabemos que existem pesquisadores que olham o cangaceiro como bandido e outros que o observam como frutos da sociedade dessa época. Porém, o que prevaleceu enquanto memória na imprensa é a visão do cangaceiro como bandido, perigoso e violento, e precisamos pensar mais sobre esses discursos. Sabemos que a própria polícia na época agia com a mesma violência em relação aos cangaceiros, uma prova disso é a imagem das cabeças degoladas quando do ataque surpresa ao bando de lampião. Uma prática (de degola) que remete a outros momentos da história como foi feito com Tiradentes, por exemplo. Era uma forma de mostrar poder e de que servisse de exemplo para os outros”, relembra Lemuel.

Dizem alguns pesquisadores que com a entrada de algumas mulheres ao bando de Lampião, houve uma maior sensibilização para os atos de crueldade contra inimigos e contra outras mulheres: 

“As mulheres, de acordo com alguns pesquisadores, sensibilizaram o ambiente do cangaço porque a própria presença feminina ali acalmava. Elas humanizaram as feras”, ressalta Lemuel Rodrigues.


Qual a semelhança entre a filosofia e a fase da adolescência?


Autora: Maria Lúcia A. Aranha

É na puberdade e adolescência que o jovem começa a construção de uma consciência moral. Nesta fase, afetividade e inteligência sobrepõem o egocentrismo primitivo.
O pensamento evolui para formas mais elaboradas, sendo capaz de abstração. O adolescente converte a afetividade dominadora da fase egocêntrica em atos de reciprocidade e cooperação.
Na adolescência surge a possibilidade de fazer planos futuros, pois possui condições intelectuais e afetivas para traçar o que será da sua caminhada humana,

“pois a tendência é ampliar cada vez mais a experiência, e esta por sua vez se enriquece, aperfeiçoa a reflexão e a capacidade de se relacionar. A sabedoria do homem maduro está nesse exercício inesgotável, e por isso ele não cessa nunca de aprender: aprender a conhecer o mundo, aprender a liberdade, aprender o encontro com o outro, aprender a democracia.
Tudo isso não se faz automaticamente, pois é necessário aprendizagem. Se o adolescente não é estimulado a desenvolver a reflexão crítica, mas, ao contrário, se encontra submetido à educação dogmática (ou a nenhuma educação, como é ocaso dos excluídos da escola), é provável que muito dificilmente atina os níveis desejáveis do pensamento formal. Do mesmo modo, as pessoas devem ser educadas para a cooperação, sob pena de permanecer infantilmente egocêntricas, o que não é nada raro na sociedade individualista...

Assim, na fase de transição, em que se acomoda a uma situação cujo equilíbrio móvel ainda não foi atingido, o adolescente oscila entre o egocentrismo e a superação dele: vivendo a idade meta-ísica por excelência, o egocentrismo intelectual reside justamente na crença da onipotência da reflexão, como se não coubesse a ela explicar a realidade, mas esta, sim, devesse se adaptar à razão.


Do ponto de vista afetivo também há contradição, resultante da mistura constante de devotamento à humanidade, como um todo abstrato, e intenso egoísmo.” 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A História Serial e a História Quantitativa


Autor: José D'Assunção Barros

A História Serial está entre algumas das modalidades historiográficas mais emblemáticas do último século, uma vez que contribuiu para a constituição de um influente paradigma que praticamente hegemoniza todo um setor da historiografia francesa entre os anos 1940 e 1970. Quando surgiu, a História Serial chegou a ser vista como uma revolução nas relações do historiador com as suas fontes, e alguns chegaram mesmo a pensar que este tipo de historiografia substituiria de todo o antigo fazer histórico tradicional. Ao invés das fontes habituais que eram sempre tomadas para uma abordagem qualitativa, a chamada História Serial introduziu nas proximidades dos meados do século XX uma perspectiva inteiramente nova: tratava-se de constituir “séries” de fontes e de abordá-las de acordo com técnicas igualmente inéditas.


Se pensarmos em termos de constituição de um recorte de pesquisa pelo historiador, podemos dizer que, com a História Serial, recorta-se o objeto não propriamente em função de uma determinada realidade histórico-social concernente a uma delimitação espaço-temporal preestabelecida, mas mais precisamente em função de uma determinada série de fontes ou de materiais que é constituída precisamente pelo historiador. Ainda que se possa pensar em outras possibilidades de utilização historiográfica da serialização, este foi o modelo que começou a emergir a partir de meados do século XX, tendo como ponto de partida os trabalhos pioneiros de Ernst Labrousse sobre "Os preços no Antigo Regime", e como marco mais significativo a célebre obra de Pierre Chaunu sobre 'Sevilha e o Atlântico' (1954).

É importante distinguir a História Serial de uma outra modalidade que, por vezes, apresenta-sa como sua co-irmã, mas que se refere a outro critério: a História Quantitativa. História Serial e História Quantitativa podem aparecer conectadas, mas é possível perfeitamente pensar trabalhos de História Serial sem a preocupação quantitativa propriamente dita, e, de todo modo, é preciso distinguir bem uma modalidade da outra. Para entendermos bem esta diferença, vamos, antes de mais nada, refletir sobre o que é exatamente uma "série" na historiografia.

Na chamada ‘História Serial’ o historiador estabelece uma “série”, e é esta série que particularmente o interessa. François Furet, em seu 'Atelier do Historiador' (1982), define a História Serial em termos da constituição do fato histórico em séries homogêneas e comparáveis. Dito de outra forma, trata-se de “serializar” o fato histórico, para medi-lo em sua repetição e variação através de um período que muitas vezes é o da longa duração. Na verdade a duração longa, ou pelo menos a média duração (relativa às conjunturas), foram as que predominaram nos primeiros trabalhos de História Serial – muito voltados, nesta primeira época, para a História Econômica e para a História Demográfica, ao mesmo tempo que combinados com a perspectiva de uma História Quantitativa. Todavia, pode-se proceder a uma serialização relacionada também a um período relativamente curto, desde que o conjunto documental estabelecido seja suficientemente denso.

De certo modo, as possibilidades de tratamento serial permitiram uma sensível ampliação de alternativas em termos de recorte historiográfico, uma vez que as séries singulares a serem construídas por cada historiador já não se enquadrariam nas periodizações tradicionalmente preestabelecidas. Criar uma série é, em certa medida, recriar o tempo – assumi-lo como ‘tempo construído’, e não como ‘tempo vivido’ a ser reconstituído.

Por outro lado, optar pelo caminho serial pressupõe necessariamente escolher ou construir um problema condutor muito específico – problema este que é fator fundamental na constituição da própria série. A História Serial veio assim diretamente ao encontro de uma História Problema, como as demais modalidades historiográficas que passaram a predominar na historiografia profissional do século XX.

Com relação a este aspecto, e em se tratando de uma série documental homogênea, não teria sentido examinar esta série evasivamente, de modo meramente impressionista. A História Serial constitui-se necessariamente de uma leitura da realidade social através da série que foi construída pelo historiador em função de um certo problema (sendoque muitas vezes a própria série chega a se confundir com o problema,com ele entremear-se na prática historiográfica). Não se trata, de todo modo, de optar inicialmente pelo estudo de uma determinada sociedade para só depois buscar as fontes que permitirão este estudo ou o acesso a esta sociedade, como poderia se dar em outros caminhos historiográficos. Pode-se dizer que, nesta modalidade historiográfica, o problema e as fontes chegam juntos: fazem parte um do outro. O que o historiador serial estuda é precisamente a série: este é basicamente o seu recorte e a essência de seu objeto. E pode-se compreender como uma “série” tanto os fatos repetitivos que permitem ser avaliados comparativamente, como uma determinada documentação homogênea.

No primeiro sentido, François Furet fala em termos de uma serialização de fatos históricos que trazem entre si um padrão de repetitividade (fatos históricos que serão obviamente de um novo tipo, não mais se reduzindo aos acontecimentos políticos). No segundo sentido, ao examinar os novos paradigmas historiográficos surgidos no século XX, Michel Foucault assinala que “a história serial define seu objeto a partir de um conjunto de documentos dos quais ela dispõe” . Isto abre naturalmente um grande leque de novas possibilidades:


“Assim, talvez pela primeira vez, há a possibilidade de analisar como objeto um conjunto de materiais que foram depositados no decorrer dos tempos sob a forma de signos, de traços, de instituições, de práticas, de obras, etc ...” (FURET, 1982]


Portanto, em que pese que fontes administrativas, estatísticas, testamentárias, policiais e cartoriais se prestem admiravelmente a um trabalho de História Serial, é possível também constituir em série documentação literária, iconográfica, ou mesmo práticas perceptíveis a partir de fontes orais. É mesmo possível constituir séries às quais não se pretenda necessariamente aplicar um tratamento quantitativo propriamente dito, mas sim uma abordagem mais tendente ao qualitativo – interessada ainda em perceber tendências, repetições, variações, padrões recorrentes e em discutir o documento integrado em uma série mais ampla, mas sem tomar como abordagem principal a referência numérica.

Uma das obras de Gilberto Freyre, por exemplo, constitui como série documental para o estudo da Escravidão no Nordeste os anúncios presentes em jornais da época – onde os grandes senhores anunciavam a fuga de escravos fornecendo descrições detalhadas dos mesmos, inclusive sinais corporais que falavam eloqüentemente das práticas inerentes à dominação escravocrata . Não é propriamente o Escravo que é o seu objeto, mas “o Escravo nos anúncios de jornal”, como o próprio título indica. Ou seja, busca-se recuperar um discurso sobre o Escravo a partir de uma série que coincide com os periódicos examinados pelo autor; procura-se dentro desta série perceber uma recorrência de padrões de representação, mas também as singularidades e variações, e por trás destes padrões de representação os padrões de relações sociais que os geraram.

Conforme logo veremos, a série pode se prestar à percepção do quantitativo, mas também pode se prestarào entendimento das mudanças qualitativas. Mas antes de adentrarmos este ponto, podemos desde já reconhecer que, com o advento da História Serial em meados do século XX, os caminhos historiográficos marcados pela ultrapassagem do documento isolado passaram a se integrar definitivamente ao repertório de possibilidades disponíveis para o historiador. O recorte documental mostra-se aqui como uma outra possibilidade para o historiador delimitar o seu tema. Definido este recorte, surgirá então uma delimitação temporal específica, que será válida para aquele recorte problemático e documental na sua singularidade, e não para outros. Dito de outra forma, em alguns destes casos é uma documentação que impõe um recorte de tempo, a partir dos seus próprios limites e das aberturas metodológicas que ela oferece.

Será bastante buscar uma exemplificação final com o próprio estudo pioneiro de Pierre Chaunu. O recorte de sua tese, estabelecido entre 1504 e 1650, é criado a partir de uma primeira data em que a documentação da ‘Casa de Contratação de Sevilha’ lhe permite uma construção estatística, e extingue-se no marco de uma segunda data quando a documentação já não permite uma avaliação quantitativa dos fatos (precisamente uma data relativa ao momento em que o comércio atlântico deixa de trazer a marca do predomínio espanhol e em que, consequentemente, a documentação de Sevilha se dilui como definidora de uma totalidade atlântica). O recorte documental problematizado, enfim, organizou o tempo do historiador.

Nesta parte final, gostaria de discorrer sobre uma confusão que constantemente assalta o historiador em formação quando este é apresentado às diversas modalidades historiográficas. Refiro-me precisamente à diferença entre História Serial e História Quantitativa. Embora sejam comuns as já mencionadas possibilidades de que as duas abordagens se superponham para formar uma História Serial Quantitativa, as duas modalidades também podem andar separadas, e existem diferenças a serem notadas entre estes dois campos históricos.

A História Serial refere-se ao uso de um determinado tipo de fontes (homogêneas, do mesmo tipo, referentes a um período coerente com o problema a ser examinado), e que permitam uma determinada forma de tratamento (a serialização de dados, a identificação de elementos ou ocorrências comuns que permitam a identificação de um padrão e, na contrapartida, uma atenção às diferenças, às vezes graduais, para se medir variações). Já a História Quantitativa deve ser definida através de um outro critério: o seu campo de observação. O que a História Quantitativa pretende observar da realidade está atravessado pela noção do “número”, da “quantidade”, de valores a serem medidos. As técnicas a serem utilizadas pela abordagem quantitativa serão estatísticas, ou basea-das na síntese de dados através de gráficos diversos e de curvas de variação a serem observadas de acordo com eixos de abscissas e coordenadas. Algumas análises quantitativas mais sofisticadas poderão utilizar logarítimos, recursos matemáticos mais avançados como integrais e derivadas. O computador será neste caso de uma ajuda inestimável. Com relação ao tipo de fontes para a efetivação de uma pesquisa com base na História Quantitativa, estas serão fatalmente “fontes seriais”, e aqui está o nó do esclarecimento.

A quantificação pressupõe a serialização (se não de fontes, pelo menos de dados). O inverso é que não ocorre. Posso trabalhar com séries de fontes sem estar necessariamente interessado no número. Estarei interessado em verificar recorrências, mas não necessariamente quantidades. Posso, por exemplo, verificar padrões iconográficos. A quantidade de documentos em que se repete um determinado padrão, ou a sua recorrência com variações mínimas, isto pode até ser contabilizado - mas como um recurso paralelo. E não necessariamente. A chave para definir uma prática como História Serial é portanto a busca de padrões recorrentes e variações ao longo de uma série de fontes ou materiais homogêneos. Mas não necessariamente a quantidade, ou pelo menos isto não é o principal. Assim, para dar um último exemplo, posso serializar notícias de jornais durante um período mais ou menos longo para verificar a repetição de determinado tipo de anúncios, ou a sua gradual variação ao longo do tempo, ou mesmo as variações bruscas que serão indicativas de algum acontecimento que produziu a transformação. A “série” é o que canaliza a atenção do historiador na modalidade da História Serial; o “número” ou a medida é o que canaliza a atenção do historiador no caso da História Quantitativa. Se as duas coisas constituem o ponto nodal da abordahem historiográfica empregada, temos aí uma conexão entre a História Quantitativa e a História Serial.

Um alerta final é sempre útil quando se apresenta, aos historiadores em formação, as modalidades que trabalham com o quantitativo. Ao empreender uma História Quantitativa, o historiador deve tomar o cuidado (isto é, se quiser tomar este cuidado) para não realizar uma história meramente descritiva de informações numéricas, sejam estas relativas à população ou à economia. Se a sua História Quantitativa se resumir a uma exposição de quantidades, terminará por se constituir meramente em uma História Descritiva, não-problematizada. Convenhamos que este tipo de história é a contrapartida, para o caso da História Narrativa, daquela tendência historiográfica do século XIX que ficou conhecida como História Factual (ou História Eventual) devido à intensa crítica que os historiadores da Escola dos Annales, e outros, fizeram a esta historiografia não-problematizada (que também era chamada pejorativamente de “historiografia positivista”, embora não se referindo necessariamente ao Positivismo enquanto corrente sociológica).

Reconheçamos que narrar simplesmente os fatos, de maneira não-problematizada, como se o que importasse na História fosse a mera descrição dos eventos ou “dos fatos que aconteceram” (como chegou a propor Ranke em uma frase célebre) será tão passível de críticas, de acordo com os critérios de uma História Problema, como descrever simplesmente os dados demográficos ou econômicos de uma determinada sociedade. Em uma caso teremos a História Narrativa Factual (da qual está muito longe a moderna História Narrativa problematizada que começou a aparecer a partir da década de 1980). Em outro caso teremos a História Quantitativa meramente descritiva, que levanta dados e mais dados mas não estabelece problemas, não utiliza estes dados minuciosamente levantados para produzir uma reflexão problematizada sobre a sociedade em um momento ou processo histórico.

Como o tratamento estatístico foi uma novidade na historiografia da primeira metade do século XX, nesta época se fez muita história quantitativa meramente descritiva que de fato soou como uma grande novidade (e, em certo sentido, era mesmo). Mas levantar os fatos cientificamente também era uma novidade para a historiografia do século XIX. Depois de décadas acumulando estes fatos (hoje se sabe que selecionar fatos e conectá-los deste ou daquele jeito é já parte de uma interpretação ou construção historiográfica) começou-se a se perguntar o que fazer com estes fatos. A História Problema rejeitou a História Narrativa meramente factual. Hoje a História Problema deve rejeitar a História Quantitativa meramente descritiva que alguns ainda insistem em fazer. O historiador de hoje deve lançar mão dos levantamentos quantitativos (empreendidos por ele mesmo ou por um outro) para formular problemas. Isto é, se ele quiser acompanhar este grande fluxo da História Problema que atravessou o século XX e chegou ao século XXI.

Posto isto, há lugar para todas estas especialidades combinadas às várias tendências. Para a história quantitativa serial problematizada. Para a história serial não essencialmente quantitativa (e também problematizada). Haverá até mesmo um lugar para a história quantitativa descritiva, pois sempre será útil para um 'historiador problematizador' se beneficiar desta exaustiva pesquisa que fizeram os historiadores quantitativos descritivos, para a partir dela formular questões e propor hipóteses. Da mesma forma, os historiadores problematizadores agradecem aqueles exaustivos levantamentos de fatos que foram empreendidos pelos historiadores factuais, porque eles podem ser utilizados como materiais (como pontos de partida) para uma reflexão problematizada sobre sociedades historicamente localizadas. Qualquer informação pode ter lá a sua valia em algum momento. O importante é que o historiador profissional compreenda bem que tipo de história estará fazendo: levantando fatos e dados, ou construindo uma história problematizada a partir destes fatos e dados?


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[A primeira parte do presente texto foi extraído do livro "O Projeto de Pesquisa em História" (Editora Vozes, 2011, 7a edição). A segunda parte foi extraída do livro "O Campo da História" (Editora Vozes, 2011, 8a edição)]


[BARROS, José D'Assunção. O Projeto de Pesquisa em História. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, 7a edição. p.47-51]

[BARROS, José D'Assunção. O Campo da História. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, 8a edição. 

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Referências:

BARROS, José D'Assunção. O Projeto de Pesquisa em História. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, 7a edição.
BARROS, José D'Assunção. O Campo da História. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, 8a edição.
CHAUNU, Pierre e CHAUNU, Huguette. Séville et l’Atlantique. Paris: S.E.V.P.E.N., 1955-1956.
FREYRE, Gilberto. O Escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. São Paulo: Brasiliana, 1988.
FURET, François. A Oficina da História. Lisboa: Gradiva, 1991. v. I. 

História e Teoria na Era dos Extremos


Estevão Rezende de Martins, em seu texto “História e Teoria na Era dos Extremos”, trabalha com os diferentes extremos que a produção historiográfica do século XX conheceu. Segundo o autor, os extremos foram – ou talvez ainda sejam – a irrestrita confiança nas fontes, o relativismo cético, a necessidade de se estabelecer modelos, a tentação totalitária de dogmatização, o risco da inespecificidade do conhecimento histórico, e a ameaça de sua dissolução em outras especialidades.

Como resposta ao desafio da historiografia do século XX, de legitimar seu conhecimento, afirma-se a adoção de sólida sustentação teórica. A diferença em relação ao século XIX, segundo o autor, estava então na afirmação da cientificidade das ciências sociais. Entretanto, o século XX viu oscilar a concepção do conhecimento histórico entre um ceticismo zombeteiro, e uma confiança ilimitada nas informações da fonte. Contudo a consciência histórica soube articular entre esses dois extremos, ou seja, “nem a informação é canônica por simplesmente estar presente em alguma fonte, nem a certeza é uma mera questão de subjetividade particular”. Entendemos então, que a fim de conceber trabalhos efetivamente legítimos e válidos, o equilíbrio entre investigação, método, subjetividade e racionalidade deve ser pretendido não apenas por historiadores, mas por todo cientista. Na História encaramos o passado como um ato real, sendo sua reconstrução feita da melhor forma possível em função da disponibilidade de fontes.

Outro ponto importante do século XX notado por Martins é o crescimento da abordagem sistemática da historiografia como objeto de pesquisa. Temos fundamentalmente três casos. Inicialmente a legitimação da história diante do paradigma das ciências naturais experimentais. Como no caso do positivismo que, mediante suas fontes – entendidas como verdadeiras – afirmava conceber sempre um conhecimento científico, verdadeiro e até mesmo exato. O segundo caso é dominado pelos Annales, desde sua fundação em 1929 até os anos 60, que se afirma mediante o empirismo de seu conhecimento. O terceiro trata da articulação da fundamentação teórica com a realização prática, que ocorre desde há meio século, independente da filiação doutrinária do historiador.

Esses três casos originam-se de duas formas de percepção e experiência da realidade. A primeira é a pesquisa empírica direta expressa no investigar, definir, identificar, delimitar, localizar, constatar ou afirmar como tendo sido o caso, o acontecimento, o fato. Porém esse acontecimento não se esgota em si, através da simples constatação mediada pelas fontes, há a necessidade de contextualização para se poder compreender, explicar e apresentar o fato. A segunda forma de percepção se dá na utilização da própria práxis do historiador, na forma da historiografia, como matéria prima para a teoria da história. Dessa forma Martins conclui então que se têm duas formas de mediação do passado: Primeiro as fontes, e segundo a produção historiográfica sobre o evento ou período de estudo. Essa produção – devemos entender assim – é reflexo do próprio tempo em que foi desenvolvida, fruto das perguntas que naquele momento eram pertinentes ao passado. Essa é a natureza da produção histórica, transformar-se em historiografia a ser consultada pelo futuro. A esse respeito o autor afirma:
“A história dessa historiografia é hoje um manancial importante para retraçar o itinerário metódico que levou à consolidação do caráter científico da história e para reconstruir a arquitetura teórica nas ciências sociais que forneceu à pesquisa histórica seu grau de autonomia”.

A teoria da história é a responsável pela autocrítica da história, para a problematização de seus conceitos. Assim se revê controvérsias antigas, abordagens esquecidas e se reexamina velhos argumentos. Martins afirma que “A teoria da história é, pois, uma vertente da epistemologia das ciências sociais, que se constrói a partir da experiência acumulada de pesquisa empírica na historiografia”.

O autor trata ainda da importante questão dos paradigmas da história, ou de seus modelos de explicação. Segundo ele, a partir da adaptação do conceito, sob o nome de matriz disciplinar, por Jörn Rüsen, houve uma larga aceitação entre os profissionais de história. Entende-se então, que a ciência da história também se desenvolveu ao longo de rupturas e transformações nos modelos de explicação. Dessa forma é possível identificar fases de transição, marcadas por controvérsias acerca dos fundamentos da especialidade, diferente da época em que se pesquisava sem questionamentos, apenas recorrendo-se aos modelos consagrados.

Rusën identifica então cinco aspectos ou paradigmas nos modelos explicativos: A influencia da carência de orientações do presente nas questões do historiador, as idéias ou perspectivas que determinam a forma com que se lida com o passado, as regras da pesquisa empírica, as formas de apresentação e as funções da cultura histórica. A expressão “matriz disciplinar” foi escolhida por Rusën devido à realidade multifacetada da historiografia contemporânea, o que permitiria uma elaboração de historiografias a partir de pressupostos teóricos distintos sem se esgotar em discussões políticas sobre qual teoria seria a verdadeira ou correta. Contudo dois requisitos são fundamentais na utilização de uma matriz disciplinar: a racionalidade e a pretensão de verdade. Martins afirma que não obstante a subjetividade, “a racionalidade e a verdade pré-tendem a ação cognitiva de todo cientista, inclusive a do historiador”.

O autor ainda toca em outro aspecto da história que, conforme colocado no resumo de seu artigo, representa outro extremo vivido pela historiografia do século XX. Trata-se da interdisciplinaridade da história e da aparência de uma dissolução entre outras especialidades. Martins lembra que a história é parte de outro campo maior, o das ciências humanas, que lhe proporciona um relacionamento com as disciplinas aparentadas, o que à sustem. Do ponto de vista metódico e epistêmico, esse relacionamento é fundamental tanto para a perspectiva interpretativa dos fenômenos de massa (macro-história), como para os fenômenos particulares (micro-história). O autor afirma:

“A teoria da história, assim, não pode deixar de incluir em seu campo de abordagem a circunstancia estratégica da transposição epistemológica interdisciplinar. Teoria literária, teoria sociológica, teoria política, dentre tantas outras tornaram-se instrumentos operacionais sem os quais a evolução mesma da disciplina científica da história se inviabilizaria”.

Martins pergunta então o que faz da história uma ciência. Seria, segundo ele, a elaboração argumentativa e de forma metodologicamente controlável, da explicação das ocorrências que se deram no passado por força da ação humana. Obviamente respeitando determinado corte temporal. Nessa construção de história se entrelaçam o político, o econômico, o social e o cultural. Segundo o autor a presença de todos esses fatores faz da história o campo principal das chamadas ciências da cultura.

Na terceira parte de seu artigo, Estevão de Rezende Martins expôs os riscos de se transpor determinadas crenças e valores, sejam eles de qualquer espécie, para o campo da pesquisa científica. E exemplifica isso ao tratar da consolidação da história como elemento importante da cultura política no século XX. Nas suas palavras, “não poucos historiadores engajaram-se em movimentos político-sociais, em polêmicas na mídia acerca de questões de atualidade interna e internacional, colocaram seu saber profissional a serviço de projetos conjunturais de sociedade” . Isso poderia, na visão de Martins, levar ao extremo da dogmatização.

Por fim, o autor afirma ainda enxergar uma historiografia fortemente nacional. Mesmo os estudos de outras culturas (como sobre a América Latina), por exemplo, ainda são escritos na língua da própria nação do historiador, para o público daquele determinado país e, dificilmente, são traduzidos em outros idiomas. Contudo, isso não impede o intercâmbio de idéias e a troca de experiências contrastantes. Pode-se dizer que ao longo dos últimos 120 anos a metodologia, a autodefinição dos historiadores e a elaboração teoria promoveram uma aproximação entre especialistas de várias partes do mundo. O objetivo da teoria da história seria então encontrar os denominadores comuns que permitem analisar de forma segura as produções historiográficas, além de contribuir para que se evite cair novamente nos extremos epistemológicos os quais a história já conheceu.

Greve dos trabalhadores em educação cobra melhorias nas escolas públicas

Escrito por Everson Teixeira   

Mobilização nacional tem início nesta terça-feira (23). Em Pernambuco, Sintepe promete acionar Ministério Público do Trabalho, caso governo decida pelo corte do ponto.

Os profissionais da rede estadual de ensino vão às ruas, nesta terça-feira (23), para cobrar mais investimentos na educação pública. A atividade, que faz parte da 14ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, repete-se em todo o país. As ações que compõe a semana foram apresentadas em uma coletiva de imprensa, realizada nesta segunda-feira (24), na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), no Recife.

A paralisação segue até a próxima quinta-feira (25). A expectativa do Sintepe é que a mobilização tenha a adesão de 90% da categoria. Porém, na manhã desta segunda-feira (22), o Sindicato recebeu diversas denúncias de que a Secretaria Estadual de Educação estaria pressionando os diretores das escolas para que esses coagissem os professores a não aderirem à greve.

Contudo, o presidente do Sintepe, Heleno Araújo, assegurou que, caso o governo decida pelo corte do ponto, a representação sindical vai acionar o Ministério Público do Trabalho. “Os alunos têm direito a 200 dias letivos. Se a Secretaria de Educação optar pelo corte, automaticamente, não poderemos repor às aulas. Com isso, vamos acionar o MPT, para que a lei seja cumprida e os alunos não sejam prejudicados”, garantiu.

As atividades da semana de mobilização seguem até a próxima sexta-feira (26), quando um seminário na sede do Sintepe encerra as ações. 

Confira a programação:

Terça-feira (23.04) - GREVE NACIONAL. Atos públicos em frente às 13 Gerências Regionais de Educação e na Secretaria Estadual de Educação, a partir das 9h.

Quarta-feira (24.04) - GREVE NACIONAL. Ocupação das casas legislativas (Câmaras dos Vereadores e Assembleia Legislativa de Pernambuco) – na ALEPE, usando camisa vermelha, a partir das 14h.

Quinta-feira (25.04) - GREVE NACIONAL. Debate sobre a crise econômica mundial e a educação no Brasil e na Espanha, às 14h, no Centro de Educação da UFPE.

Sexta-feira (26.04) - Seminário Ação Mundial pela Valorização dos/as Profissionais da Educação, na Sede do Sintepe, das 9h às 17h. Na ocasião será apresentado o resultado parcial da pesquisa: “O trabalho na educação básica em Pernambuco”.

Stuart Hall - A identidade cultural na pós-modernidade


Em A Identidade cultural na Pós-Modernidade (2003), Stuart Hall busca avaliar se estaria ocorrendo uma crise com a identidade cultural, em que consistiria tal crise e qual seria a direção da mesma em momento pós-moderno. 

Para efetivar tal intento, analisa o processo de fragmentação do indivíduo moderno enfatizando do surgimento de novas identidades, sujeitas agora ao plano da história, da política, da representação e da diferença. 

A preocupação de Hall também se volta para o modo como haveria se alterado a percepção de como seria concebida a identidade cultural. Todos esses aspectos constituem-se como fases de um procedimento analítico que intenta descrever o processo de deslocamento das estruturas tradicionais ocorrido nas sociedades modernas, assim como  o descentramento dos quadros de referências que ligavam o indivíduo ao seu mundo social e cultural. Tais mudanças teriam sido  ocasionadas, na contemporaneidade, principalmente, pelo processo de globalização.

A globalização alteraria as noções de tempo e de espaço, desalojaria o sistema social e as estruturas fixas e possibilitaria o surgimento de uma pluralização dos centros de exercício do poder. Quanto ao descentramento dos sistemas de referências, Hall considera seus efeitos nas identidades modernas, enfatizando as identidades nacionais, observando o que gerou, quais as formas e quais as conseqüências da crise dos paradigmas do final do século XX.

ATIVIDADE DE DIREITO CIVIL - SUCESSÃO

        QUESTÕES DISSERTATIVAS DE SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA QUESTÃO 1 :  João fez um testamento para deixar um dos seus 10 imóveis para seu gra...