Por Paulo César Gomes, professor e pesquisador mestrando em História pela UFCG
As atuações de grupos revolucionários durante a Ditadura Militar eram desconhecidas até então no interior de Pernambuco. No entanto, uma reportagem publicada na revista O Cruzeiro, realizada pelo jornalista Hélio Mota, produzida em novembro de 1970, e que apenas agora foi descoberta, coloca uma pulga atrás da orelha de historiadores, pesquisadores e membros da Comissão da Verdade.
A matéria revela que os militares temiam que os sertões nordestinos fossem dominados por “guerrilheiros” comunistas, já que nos centros urbanos as atividades políticas estavam sendo violentamente sufocadas, restando aos ativistas de esquerda a opção de agir no interior. Visando organizar um grande número de militantes para poderem assim derrubar o regime ditatorial.
Desta forma iniciou-se o combate virtual contra “a guerrilha na caatinga”, que foi liderada por 100 oficiais da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Sendo está uma das maiores manobras do exército brasileiro até então, segundo a revista O Cruzeiro. Em uma ação conjunta com os componentes do IV exercito, que realizavam atividades anti-guerrilha em lugares do Nordeste onde eles acreditavam poderia surgir algum foco de revolucionários.
Entre as regiões estava a zona cacaueira, na Bahia; a serra do Ibiapaba, na fronteira do Ceará com o Piauí; e no interior de Pernambuco, na serra que dá nome a nossa cidade. As simulações de combate na serra talhada e em outros pontos do município ocorreram durante vários dias, sendo observadas pelo general Candal da Fonseca, comandante do IV exército, e o general Duque Estrada, comandante da recém criada Brigada do Pajeú.
Os militares usaram armamentos pesados e sofreram bastante com o clima semi-árido. Ao mesmo tempo, integrantes do 15º Regimento de Infantaria, que era sediado em João Pessoa, introduzia a Ação Civil Social (Aciso) que constava na construção e reforma de escolas em Triunfo e Santa Cruz, o objetivo do trabalho social era ganhar a simpatia dos moradores da região. No final da manobras os militares participaram de um desfile pelas ruas de Serra Talhada.
MAJOR JOSÉ FERREIRA E VILMAR GAIA
O ex-Major José Ferreira dos Anjos é acusado de ter participado CCC – Comanda de Caça aos Comunistas em Pernambuco, e com denúncias que envolvem o seu nome a morte do Padre Henrique, que era um dos auxiliares de Dom Helder Câmara.
Um detalhe que chama atenção na controversa história de vida do ex-Major Ferreira, é a sua presença em Serra Talhada, no nebuloso ano de 1975. Em, 22 de março de 1975, o Governo do Estado de Pernambuco contratou, ao invés de nomear, o campeão brasileiro de tiro-livre, o ex-major, para perseguir e prender Vilmar Gaia. Cinco meses depois Vilmar Gaia é cercado em uma fazenda no Ceará e se entrega.
Após ser apresentado em Serra Talhada Vilmar é conduzido ao Dops, o órgão que tinha a função de assegurar e disciplinar a ordem militar no país, no Recife. Vilmar voltou para Serra Talhada, de onde fugiu da cadeia e depois entregou-se, para em seguida ser levado para a cadeia de Caruaru. Durante esse período Ferreira percorreu as caatingas em jornadas longas e intermináveis, em operações que não foram registradas pela imprensa da época.
Após se casar com a Miss Pernambuco, a serra-talhadense Fátima Mourato, o ex-Major foi surpreendentemente exonerado em 16 de novembro de 1975, menos de oito meses depois da sua contratação. A curiosidade da presença do ex-Major aqui é o fato dele não ter sido um delegado de polícia e nem tão pouco Vilmar Gaia era um comunista que merece a atenção do CCC. No entanto, um cruzamento com outra informação pode corroborar para o surgimento de um novo significado para vinda de Ferreira ao Pajeú.
Algumas pessoas que conheceram de perto o ex-major avaliam que o militar estava na região para investigar a atividade de um grupo de militantes políticos que pretendiam atuar na região. Entre esses militantes políticos estava José Dirceu, ex-ministro e ex-presidente da UNE – hoje ele está preso em Curitiba-PR -, que após ter se exilado em Cuba por alguns anos voltou ao Brasil como um nome falso.
Também passou por algumas cidades do interior de Pernambuco em 1975, como Caruaru, Arcoverde, Cruzeiro do Nordeste (distrito de Sertânia), Salgueiro e por Serra Talhada. Segundo ele, se hospedou em um hotel. Como Ferreira não conseguiu avançar nas caçadas aqui, restou-lhe voltar para Recife para continuar sua rotina de violência contra os opositores da ditadura.
A grande verdade dessa história é o fato de que pouco se sabe sobre a fase da Ditadura Militar no Sertão do Pajeú. O que implica dizer que é preciso realizar uma pesquisa mais aprofundada, com o estudo de documentos e o registro de testemunhas que viveram aquele triste e sombrio período.
Um forte abraço e até a próxima!
Publicado no portal Farol de Notícias de Serra Talhada, 07 de novembro de 2016