Autor: Professor Paulo César Gomes - Especialista em História Geral
Dez entre dez educadores concordam que
o Brasil precisa cuidar melhor de suas crianças e de como elas são
alfabetizadas. “O Brasil gasta muito com alfabetização de jovens e adultos
porque não fez o dever de casa no tempo certo”, comenta Mozart. E para
melhorar, é preciso antes medir, diagnosticar. Em 2006, a Prova Brasil ganhou
as manchetes brasileiras com resultados alarmantes sobre a capacidade de
leitura e escrita dos alunos de 4.a série.
Mesmo com a notícia recente de que
houve erro na interpretação dos dados (o que teria mudado a posição de alguns
municípios no ranking), persiste a informação essencial: mais da metade das
crianças chega à 4.ª série sem desenvolver adequadamente sua capacidade de
leitura e escrita.
A Prova Brasil teve sua importância,
mas mostrou-se uma avaliação tardia, na opinião da comunidade educacional. “Não
adianta avaliar na 4.ª série do Fundamental, só para dizer que a criança já tem
dificuldades. Aí já é muito tarde”, contesta a secretária de educação de
Esteio–RS, Magela Lidner Formiga. Ela conta que lá, a avaliação desde a 2.ª
série já é padrão desde 2005. Em Pernambuco e Minas Gerais também. O MEC ouviu
e agora está propondo, como parte do PDE, a Provinha Brasil, que vai avaliar a
alfabetização de estudantes de 6 a 8 anos de idade. O adiantamento da avaliação
é unanimidade, mas o formato não.
“É a continuidade de uma política
errada, que é a de se medir o resultado de um processo de anos em uma prova
padronizada aplicada durante poucas horas. As avaliações devem ser processuais,
não de produto”, diz Erasto. Para ele, não vale só avaliar a assimilação de
conteúdos, mas também a capacitação do professor e a infra-estrutura da escola,
além de levar em conta que cada criança tem um tempo diferente, e a velocidade
da alfabetização varia de uma para a outra. Celso Antunes chega a dizer que a
Provinha Brasil nem pode ser considerada uma avaliação propriamente dita.
“Avaliações como esta, o ENEM e o antigo PROVÃO são, no máximo, exames
nacionais”.
Mozart também acredita na importância
da avaliação do processo, mas não invalida a Provinha. “Eu acho que a
fotografia, quando bem tirada, retrata o processo, isto é, precisamos olhar o
produto do processo.” Vale lembrar que, com o início da aplicação do Ideb, os
dados da Provinha Brasil passam sim a fazer parte de um processo de avaliação
mais completo, que pode ser chamado de avaliação de processo. “A única ressalva
que eu tenho em relação ao índice”, diz Magela, “é que ele traz uma pontuação
geral para a educação pública do município, mas não diferencia as redes de
escolas estaduais e municipais.
E são dois sistemas autônomos, que não
têm gerência um sobre o outro. Podem ocorrer casos em que a rede municipal faz
muito esforço para poder melhorar o indicador e o Estado não, e vice-versa.”
A professora da
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Stella Bortoni defende
que os resultados sejam utilizados para apoiar as escolas que apresentem baixos
índices de alfabetização. “Para levar um curso de educação continuada para que
os alfabetizadores tenham a oportunidade de se capacitar melhor, por exemplo, é
uma boa medida. A prova precisa resultar em políticas que visem socorrer
aquelas escolas ou sistemas cujos resultados estejam ruins” aponta.
A pesquisadora,
especialista em alfabetização e letramento, avalia que os cursos de formação de
professor não dedicam esforço suficiente para preparar os futuros
alfabetizadores. “Alfabetizar não é um bicho de sete cabeças, mas é preciso
formar bons alfabetizadores que saibam o que estão fazendo”, diz. Ela defende
que a Provinha Brasil é um bom instrumento de avaliação e pode dar o feedback
que o sistema precisa para desencadear medidas de apoio.
Daniel Cara aponta
que a pergunta central deve ser “qual é objetivo da avaliação?”. “Se for para
pressionar as redes e as crianças a serem alfabetizadas na idade certa, não
serve. Mas se for na perspectiva de criar um pensamento de porque essas
crianças não conseguem se alfabetizar, quais são as dificuldades que elas têm,
sim”, diz.
A julgar pelo uso que
é feito dos resultados de outras avaliações educacionais aplicadas pelo MEC,
Cara defende que a mudança na Provinha Brasil poderá resultar em uma “pressão
equivocada sobre as crianças” em vez de colaborar para processo de aprendizagem.
Para a presidente da
União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho, a
mudança do perfil da Provinha Brasil pode ter efeitos positivos “As avaliações
organizam os processos, se as redes souberem trabalhar e entender que são
crianças de 8 anos [participando do exame], nós vamos ter mais tempo para fazer
um trabalho coerente.
Como sempre, na
primeira vez, vai começar uma discussão de quem é melhor, quem é pior. Mas a
avaliação serve como diagnóstico para a gente mudar essa realidade. Não temos
nenhum problema com avaliação”, diz a presidente da entidade.
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