Por Paulo César Gomes, Professor, escritor e colunista do Farol
“O essencial é invisível aos olhos. Só se ver bem com o coração” a célebre frase propagada ao mundo através do livro O Pequeno Príncipe foi o norte que nos conduziu nessa narrativa que aborda a rotina e os desafios dos voluntários da ONG Animal Feliz, trabalho que contou com a participação ímpar do repórter fotográfico do Farol de Notícias, Alejandro J. García.
ONG ANIMAL FELIZ; SONHO QUE UMA TRAGÉDIA NÃO FOI CAPAZ DE SEPULTAR
A Animal Feliz foi criada por Ivan Rui Rodrigues, carinhosamente chamado de Neguinho, que faleceu precocemente aos 47 anos, vítima de um infarto fulminante. Enfermeiro por oficio e defensor dos animais por opção, Neguinho dedicou grande parte de sua vida a cuidar das pessoas e dos animais. A lacuna deixada por Neguinho pôs em xeque a sobrevivência de um dos seus grandes sonhos. Após a fatalidade do dia 24 de março de 2015, a responsabilidade por levantar a bandeira de defesa dos animais recaiu sobre os ombros de Daniela Barros, 46 anos, que diante a situação conclamou a sociedade a lutar pela continuidade das atividades da Animal Feliz.
Os apelos de Daniela se propagaram e alguns jovens se dispuseram a ser voluntários, um deles foi Jhonatan Alencar, 26, estudante de Engenharia Agronômica na Uast e natural de Santa Maria da Boa Vista. Ele conheceu a ONG através da academia de artes marciais que frequenta. Na época a ONG estava precisando de voluntários se não iria fechar. “Gosto muito de animais e me interessei pela ideia. Desde que participei da primeira reunião aqui no Centro de Zoonoses nunca mais parei de vir”, declara Alencar que hoje ocupa a presidência da ONG.
Outros jovens, como os irmãos Thiago e Tamires, já fazem trabalho como voluntário desde que Neguinho ainda era vivo. “Eu sempre conheci Neguinho, éramos vizinhos. Ele sempre falou do sonho de criar uma ONG, então ele conseguiu. Esse Hospital Veterinário leva o nome dele, após o falecimento de Neguinho a gente veio com outros voluntários e começamos a trabalhar”, relata Tamires Ferreira, 22 anos, estudante o curso de Direito e vice-presidente da Animal Feliz. A rotina dos voluntários vai muito além do amor pelos animais. É preciso muita coragem para enfrentar os gigantescos desafios colocados diante desses jovens.
“A rotina é dura durante toda a semana. A gente vem duas ou três vezes na semana. À tarde e às vezes à noite. Todo final de semana e feriado a gente está aqui. A gente entra de 10h, mas não tem hora para sair. A gente ajuda na limpeza do hospital, já que não possuímos abrigo. Aplicamos a medicação que é deixada pelo veterinário. Muitos medicamentos é a ONG que compra outros são do hospital. No final de semana a gente procura os veterinários voluntários como Aldeci, Orestes e Milena. Tudo que um veterinário faz a gente faz também, só não prescreve a medicação”, descreve a voluntária.
“Para ser voluntário não é fácil, é um trabalho difícil! Além do psicológico, por que você vê muito animal maltratado, machucado. Não adiante ser de uma ONG apenas para postar fotos no Facebook, ser voluntário por status”, desabafa a vice-presidente ao analisar a postura de alguns jovens que ainda não entenderam o papel de ser voluntário. Para ela, o voluntário precisa de muita força de vontade e amor pelo que está fazendo, “é preciso querer ver o bem do animal e ter amor a ele. Fazer a diferença. Fazer por amor”.
Esse sentimento que envolve os jovens voluntários é algo bastante tocante, “além de ser um trabalho gratificante, você está prestando um serviço a um ser que também tem sentimentos que de alguma forma vai retribuir o que você está fazendo por ele. Acho que a gente tem que plantar o bem, colher o bem e fazer o bem. Eu não vou em casa há mais de seis meses. Já cheguei em casa chorando por não ter conseguido salvar o animal”, relata o presidente da ONG. Segundo Jhonatan além da falta de mais voluntários – hoje resumido a sete apenas, sendo que a maioria trabalho ou estuda – outros fatores dificultam o trabalho do grupo.
“Falta transporte para os voluntários se locomoverem até o hospital. A gente paga os mototaxistas do próprio bolso. Quando faltam doações a gente tem que pagar do bolso, tanto para comprar medicamentos como para pagar os táxis para resgatar animais. Falta um reboque para pet, que é um equipamento ajudaria nos resgates. As pessoas adotaram uma cultura meio ignorante, não só aqui em Serra Talhada, não adotam o animal por amor, procuram animais com pedigree. Querem apenas manter os status sociais e não pela satisfação de salvar uma vida que esta sofrendo nas ruas e que precisam de uma mão amiga, de amor e carinho”, reflete Thiago Henrique, 26 anos, que é voluntário há mais de um ano.
“A ausência dos poderes públicos são responsáveis por tanta violência contra cães e gatos”, afirma Thiago Henrique. No hospital quantidade de animais é rotativa, os animais resgatados ficam por no máximo por 20 dias. “Vem para o hospital onde é tratado, castrado e se não for adotado volta para a rua”. Para acabar com essa rotatividade era necessário que o abrigo para animais fosse construído, um sonho que precisa de apoio para se tornar realidade. “Um local para o abrigo provisório foi cedido pela prefeitura para a ONG. O prédio funcionava como Grupo Escolar e atendia aos moradores da vila do DNOCS (em frente ao corpo de bombeiros)”.
“A gente já cercou o espaço, só não temos há previsão de quando vamos construir. Lá vamos precisar de muitos quilos de ração e de medicamentos. Vamos precisar também de internet, de câmeras de seguranças e de contratar uma funcionária para limpar e colocar comida para eles. Além de doações em dinheiro para pagar as consultas médicas”, explicou a jovem. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, os voluntários buscam inspiração e motivação na obra do inesquecível Neguinho, uma prova disso é que a mascote da ONG é “Menina”, uma das cadelas que pertencia ao falecido enfermeiro.
COMO AJUDAR A ONG E ADOTAR UM ANIMAL?
Para ser voluntário o processo é simples, basta entrar em contato pelo telefone (87) 9960-6482 (Jhonatan Alencar) ou pela página da ONG no Facebook. Depois disso é agendada uma reunião para dar as orientações sobre as atividades da ONG. Para resgate de animais vítimas de maus tratos ou feridos, assim como para doações de ração e medicamentos, os contatos são os mesmos.
Para adotar um animal é preciso se dirigir ao Hospital Veterinário, que fica no entro de zoonoses, de segunda a sexta, das 7 às 13 horas. Após a escolha do animal é preciso assinar um termo de adoção e deve levar os documentos pessoais e um comprovante de residência. No momento, o hospital conta com mais de 10 animais (filhotes) em condições de serem adotados.
As doações financeiras de qualquer valor para ONG Animal Feliz devem ser feitas na Conta Poupança no. 35.089-3, Variação 51, Agência 0246-1, Banco do Brasil.