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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O pensamento ético de Kant (ou "A ética do DEVER")

Kant parte do pressuposto hobbesiano de que o homem é egoísta por natureza e para satisfazer toda sorte de desejos é capaz de praticar os mais cruéis e nefastos atos. Para controlar essa inclinação natural, que é regida por leis estranhas à razão, precisa agir por DEVER (tutelado pela razão) para se constituir em um ser moral.

Mas, para o filósofo, a razão humana se divide em razão TEÓRICA (O que podemos conhecer?) e PRÁTICA (Como devemos agir?) . Ambas são universais em suas FORMAS (são as mesmas para todos os homens, em todos os lugares e tempos), mas variam em seus conteúdos. A razão teórica tem como objeto o mundo exterior ao homem. Nesse campo, o conhecimento estaria restrito ao âmbito dos fenômenos, isto é, ao que se apresenta à sensibilidade, logo a metafísica não seria válida como conhecimento. Mas, no campo da razão prática, Kant resgata a metafísica ao transportá-la para o interior do sujeito. Surge assim o SUJEITO TRANCENDENTAL, que é, sobretudo, o modo de pensar do homem, como uma estrutura que se encontra em toda humanidade. Assim como há algo de universal na natureza, também há algo de universal no homem (razão). É esta faculdade que o torna capaz de se impor às determinações das leis naturais, podendo agir com LIBERDADE.

Como a razão teórica tem como objeto a realidade exterior ao homem (a natureza) e opera segundo as leis naturais de causa e efeito, ela está restrita ao âmbito da NECESSIDADE. A razão prática, ao revés, é interna e capaz de criar a sua própria realidade, constituindo a seara da FINALIDADE e LIBERDADE humanas. Por ser interna, ela é movida pela VONTADE de conhecer e querer algo que valha para todos os homens, pois cada um também se reconhece como signatário das ações alheias, logo devem ansiar pelas normas de alcance universal. É a vontade livre (guiada pela razão) que torna o homem um ser moral ao possibilitar que RESPONDA pelos seus atos.

A razão prática não obriga o homem a agir de determinada maneira, mas é no seu âmbito que o exercício da liberdade se torna possivel ao permitir que ele crie normas e fins morais e os imponha a si mesmo. Mas essa “imposição” não representa um constrangimento à vontade e consciência humanas, porque é fruto da própria razão humana, por isso obedecê-la é obedecer a si próprio, constituindo a mais alta manifestação da humanidade em si mesmo. É nesse sentido que agir por DEVER é agir livre e autonomamente, posto que o homem confere a si mesmo os valores, fins e leis da ação moral. Ao revés, agir por instinto ou por interesse significa cumprir uma norma que foi criada pela natureza ou qualquer outro fator externo ao homem (ação heterônoma).

Para o filósofo, a moralidade não é natural no homem porque ele também é um ser biológico, submetido às leis inexoráveis de causa e efeito. Como tal, as paixões também exercem influência sobre a sua conduta dificultando a sua existência ética. A natureza tende a fazê-lo AGIR POR INTERESSE, concebendo os outros seres humanos apenas como MEIOS e INSTRUMENTOS para a sua satisfação.

A ação por interesse faz o homem ter a ilusão do exercício da liberdade por visar a satisfação de suas inclinações (desejos), mas para Kant constitui um impulso cego determinado por motivações psíquicas, físicas, vitais, à maneira dos animais. E como a ação por interesse normalmente é mais forte que a razão, o agente moral precisa dobrar a sua parte natural e impor-se pela racionalidade.

Mas, apesar da inexorável pressão da natureza no homem, ele pode julgar e agir fora dos limites do mundo natural, pois também é um ser racional. É exatamente a racionalidade que o torna capaz de agir por DEVER e realizar a sua verdadeira natureza de ente AUTÔNOMO. Para o filósofo não faz sentido pensar que a supressão das paixões constitui uma violência ao ser humano. Ao contrário, a violência se evidencia na satisfação irracional dos apetites e impulsos. A vontade humana somente é livre quando abdica de seguir suas inclinações, que são circunstanciais, para se guiar conforme a razão, mais precisamente quando segue o imperativo categórico, que é a expressão maior da razão prática.

Em Kant o DEVER não constitui um corpo normativo capaz de prescrever como o homem deve agir nesta ou naquela situação, pois seria contingente, ou seja, valeria para algumas situações e momentos e não valeria para outros. O DEVER é um princípio capaz de ser aplicado em toda e qualquer ação moral. É algo imperativo, incondicional, imposto pela razão, por isso assume a forma de um IMPERATIVO CATEGÓRICO. Para o filósofo esse imperativo se apresenta em uma forma geral:

“AGE EM CONFORMIDADE APENAS COM A MÁXIMA QUE POSSAS QUERER QUE SE TORNE UMA LEI UNIVERSAL”
O imperativo é a fórmula para pensar uma ética estritamente racional, ou seja, sem recorrer ao discurso unificador metafísico, que coloca como juiz de todos os homens alguma entidade superior e externa. Uma ética que não seja relativa a determinados grupos ou pessoas. Para Kant, um ser racional "só está sujeito a leis feitas por si mesmo e que, no entanto, sejam universais". Nesse sentido, todos somos igualmente legisladores e súditos.

O imperativo categórico, enquanto um princípio, não anuncia um conteúdo particular de uma ação, mas as formas gerais das ações morais. O motivo moral da vontade boa é o respeito pelo dever, produzido no ser humano pela razão. A obediência à lei moral, respeito pelo dever e pelos outros constituem a bondade da vontade ética.

"A CIMA DA MINHA CABEÇA O CEU ESTRELADO; DENTRO DE MIM, A NOÇÃO DO DEVER"

Para exemplificar o pensamento ético de Kant imaginemos o seguinte exemplo. Suponhamos que João precisa de dinheiro e solicita um empréstimo a alguém, mesmo sabendo que não será capaz de devolvê-lo. Por mais que precise do dinheiro para um propósito meritório, resta claro que estaria manipulando o credor, utilizando-o como um MEIO para atender os seus interesses, além de atentar frontalmente contra o IMPERATIVO CATEGÓRICO, pois se essa conduta fosse universalizada, o instituto do empréstimo tenderia a desaparecer por falta de confiança no devedor.

Por outro lado, se João solicita o empréstimo dizendo que poderá não pagá-lo, permitirá ao credor exercer os seus poderes racionais, consultando seus próprios valores e desejos e fazer uma escolha livre e autônoma. Neste caso o credor será o detentor da finalidade da ação e não terá a sua autonomia e dignidade afetadas.

Eté Kant a ética tinha como objetivo a FELICIDADE (ação em consonância com o ethos do povo, com vistas à felicidade), com ele a ética passa a dicutir a respeito de DEVERES, OBRIGAÇÕES, DILEMAS. Com o filósofo, a ética vai para um lado e a felicidade para o outro.

Fonte: http://blogdefilosofiadowolgrand.blogspot.com.br/

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