Pouco contato dos pais com os filhos no dia-a-dia
pode prejudicar formação cidadã da nova geração. A família deve ser a principal responsável pela
formação da consciência cidadã do jovem e também apoio importante no processo
de adaptação das crianças para a vida em sociedade. Uma boa educação dentro de
casa garante uma base mais sólida e segura no contato com as adversidades
culturais e sociais, características do período de amadurecimento. A ausência
familiar gera graves conseqüências na formação, alimentando valores
egocêntricos, que levam os mais jovens ao mundo do vício e das futilidades.
No entanto, desde o início do processo de
industrialização, a sociedade passa por transformações que resultam em uma
postura cada vez mais individualista por parte damaioria da população jovem. O
ingresso da mulher nomercado de trabalho diminuiu o tempo disponível para a
dedicação aos filhos daquela que, antes, só se dedicava quase que exclusivamente
à formação das crianças.
O educador Antônio Carlos Gomes da Costa, um dos
idealizadores do Estatuto da Criança e do Adolescente, declara que a partir do
momento em que as crianças ficam soltas na comunidade e entregues às diversões
eletrônicas, há uma perda de referência em relação aos valores considerados
importantes para o desenvolvimento de uma base sólida. Porém, segundo ele, não
basta apenas estar presente, é preciso saber educar de forma correta. “O
problema, a meu ver, não é o tempo que os pais passam com os filhos. O desafio
está na qualidade dessa convivência, que deve ser marcada por um forte
componente de presença educativa”, diz Costa.
O educador ainda afirma que, no Brasil, a ausência
dos pais na formação dos filhos é algo recorrente. “Existem muitos educadores
familiares que não são pais biológicos das crianças sob sua responsabilidade”,
revela.
O pouco contato com os pais durante o dia-a-dia faz
com que a responsabilidade do ensino básico da criança fique delegada à escola.
Se, antes, a escola desempenhava a ação de educadora profissional, hoje, muitas
vezes, desenvolve tambémo papel de primeira formadora da consciência cidadã dos
jovens.
Quando a família não dispõe de tempo ou condições
para dar a base afetiva e educadora à criança, além de iniciar a vida escolar
de forma bastante fragilizada, ela pode desenvolver carências que vão além do
âmbito escolar. A psicopedagoga Clélia Estil, diretora da Associação Nacional
de Dislexia (AND), afirma que a falta de base familiar traz diversos efeitos
negativos para a formação dos filhos. “Crianças sem base afetiva estável
carregam consigo medos e incertezas sobre suas possibilidades de aprender, que
se manifestam como vínculos negativos com a aprendizagem”.
A escola é considerada a extensão da família e,
trabalhando juntas, as duas instituições desempenham o papel de educadores.
Muitas vezes, não é simplesmente a educação apenas que leva a criança a ter
solidez e confiança naquilo que faz. Amor e atenção também são importantes. A especialista
em psicopedagogia Sônia Küster considera a escola um espaço onde a criança pode
ampliar suas relações sociais e diz que as atividades que envolvem a
participação dos pais lá desenvolvidas geralmente têm boa repercussão no
contexto educacional.
A omissão familiar faz parte da realidade mundial
e, de acordo com Sônia, essa carência pode ser suprida com um bom clima
relacional que depende muito mais da qualidade das relações do que do tempo que
os pais e os filhos passam juntos. “Podemos nos fazer presentes por meio de
telefonemas no meio da tarde, de bilhetes deixados em lugares estratégicos e de
tarefas colaborativas para a dinâmica familiar”.
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