O Arcadismo foi um estilo literário que perdurou
pela maioria do século XVIII, tendo como principal característica o bucolismo,
elevando a vida despreocupada e idealizada nos campos. Muitos dos participantes
da Conjuração Mineira foram poetas árcades.
Cláudio
Manuel da Costa
Introdutor
do Arcadismo no Brasil, Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) estudou Direito em
Coimbra. Rico, advogou em Mariana, SP, onde nasceu e estabeleceu-se depois em
Vila Rica. Foi um poeta de transição, ainda muito preso ao Barroco. Era grande
amigo de Tomás Antônio Gonzaga, como atesta a poesia deste. Tinha os
pseudônimos (apelido, no caso dos árcades, de origem pastoril) de Glauceste
Satúrnio e Alceste. O nome de sua musa era Eulina. Foi preso em 1789, acusado
de reunir os conjurados da Inconfidência Mineira. Após delatar seus colegas, é
encontrado morto na cela, um caso de suicídio até hoje nebuloso. Na citação a
seguir está presente um elogio ao campo, lugar idealizado pelos árcades.
"Quem
deixa o trato pastoril, amado,
Pela ingrata civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro da paz não tem provado."
Basílio
da Gama
O poeta
José Basílio da Gama (1741-1795), nascido em São João del Rei, MG. Estudou com
os Jesuítas no RJ até a expulsão destes do Brasil pelo Marquês de Pombal. Foi
para Itália e ingressou na Arcádia Romana, adotando o pseudônimo de Termindo
Sipilío. Escapou de acusações de jesuitismo escrevendo elogios ao casamento da
filha do Marquês de Pombal. Escreveu O Uruguai ajudado por este e o publicou em
1769. A segunda passagem é uma das passagens mais famosas de sua obra: a morte
de Lindóia.
"Na
idade que eu, brincando entre os pastores,
Andava pela mão e mal andava,
Uma ninfa comigo então brincava,
Da mesma idade e bela como as flores."
"Açouta
o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! No frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito." O Uruguai
Tomás
Antônio Gonzaga
Nascido
em Porto (1744-1810?) de pai brasileiro, estudou na BA e formou-se em Coimbra
em Direito, sendo um jurista habilidoso. Envolvido na Inconfidência é preso em
23/05/1789 e mandado para a prisão no Rio de Janeiro. É deportado para a África
em 1792. Na África se casa com uma rica herdeira, recupera fortuna e
influências e morre, provavelmente, em 1810. Produziu pouco, exceto no curto
tempo em que esteve em MG. Apaixonado por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas,
escreveu Marília de Dirceu em sua homenagem. Ele ia casar-se com ela e partir
para a Bahia assumir um cargo de desembargador, mas foi preso uma semana antes.
Segundo suas poesias ele não participava da Conjuração, apesar de ser amigo de
Cláudio Manuel da Costa. De fato, Gonzaga, acusado de ser o mais capaz de
dirigir a Inconfidência e ser o futuro legislador, não suportava Tiradentes.
Escreveu também as Cartas Chilenas, que satirizavam seu desafeto, o governador
Luís Cunha Meneses. Sua obra apresenta características transitórias para o
Romantismo, como a supervalorização do amor e a idealização da mulher em
Marília de Dirceu.
"Eu
vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos ainda não está cortado;
Os Pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder de meu cajado." Marília de Dirceu
"
Assim o nosso chefe não descansa
De fazer, Doroteu, no seu governo,
Asneiras sobre asneiras e, entre as muitas,
Que menos violentas nos parecem,
Pratica outras que excedem muito e muito
As raias dos humanos desconcertos." Cartas Chilenas
Santa
Rita Durão
O Frei
José de Santa Rita Durão (1720-1784), orador e poeta, pode ser considerado o
criador do indianismo no Brasil. Seu poema épico Caramuru é a primeira
obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de
Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos
(árcades). Santa Rita Durão nasceu em Cata Preta (MG) e mudou-se para a Europa
aos 11 anos de idade, onde teve grande participação política. Foi também um
grande orador.
Alvarenga
Peixoto
Inácio
José de Alvarenga Peixoto (1744?-1792) estudou com os jesuítas e formou-se com
louvor na Universidade de Coimbra. Foi juiz e ouvidor. Casou-se com uma poetisa
e deixou a magistratura, ocupando-se da lavoura e mineração no MG. Foi
implicado na Inconfidência Mineira junto com seu parente, Tomás Antônio
Gonzaga, e seu amigo Cláudio Manuel da Costa. Sentenciado a morte, teve a
sentença comutada para degredo para Angola, onde morreu num presídio. Sua obra
artística foi pequena, mas bem acabada. Segue um exemplo.
"Eu
vi a linda Jônia e, namorado,
Fiz logo voto eterno de querê-la;
Mas vi depois a Nise, e é tão bela,
Que merece igualmente o meu cuidado."
Nenhum comentário:
Postar um comentário