A rebeldia nos jovens não é um crime.
Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a conformar-se, que está
insatisfeito com o status quo, que proclama querer mudar o mundo e está
frustrado por não saber como.
Controlar ou emancipar a juventude: eis o dilema de nossos tempos. O
inconformismo, que caracteriza os jovens, é a força renovadora que move o
mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados. Acomodados, despreparados
ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos de nós desqualificamos
a juventude, vendo-a como um incômodo ou como uma fase de passageira rebeldia.
Ao invés de emancipar, desejamos controlar, dominar, moralizar.
Provocando mudanças
Bravamente, ao longo dos tempos, os jovens resistiram e mantêm acesa a ideia de
mudar o mundo. Desejam, profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só.
Seus sonhos são suas ideias em teimosia. Os jovens têm consciência de que
precisam controlar o seu “fogo ardente”. Mas desejariam que este controle fosse
deles, não daqueles que representam qualquer autoridade (pais, professores,
psicólogos, legisladores, juízes, polícia). Rejeitam serem pensados pelos
outros.
A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia, cumprindo com o seu
papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos olhos da Filosofia, é atitude
de quem quer ser sujeito de sua história, não seu coadjuvante. Sim, porque a
Filosofia, como o inconformismo, motiva a cada um de nós na busca de seus
próprios caminhos.
É preciso compreender a juventude como uma categoria social, que varia no
tempo, de sociedade para sociedade e segundo as diferenças internas das
sociedades. “Por isso, a definição do que é juventude tem que se fazer na
contextualização histórica dos jovens que se quer compreender. Outra ideia
fundamental é a de que a juventude é vivida de modo distinto segundo as
condições econômicas, culturais, de raça, gênero etc.”, como aponta a coleção
Ofício de Professor: aprender mais para ensinar melhor. Neste aspecto, é
preciso aumentar a disposição para o diálogo e a escuta com os jovens de nosso
tempo, procurando compreender os desejos, sonhos, medos e angústias que os
movem. A busca pelo conceito de juventude deve ser superior aos nossos
preconceitos.
Pensamento próprio
O filósofo Sócrates, na Grécia Antiga, acreditando na emancipação humana,
desenvolveu o método da maiêutica. Concebeu o papel dos sábios a um trabalho de
parteira (que ajudam a dar à luz). Ele acreditava que a verdade e o
conhecimento estão com cada um e cada uma de nós, e cada indivíduo pode
descobrir as razões e verdades que motivam seu viver. Não por acaso, foi
considerado um incômodo para Atenas. Uma das razões de sua condenação à morte
foi insuflar a juventude a pensar por sua conta.
Muitas iniciativas da sociedade, de ONGs, entidades e igrejas surgiram porque
compreenderam que o jovem quer, precisa e pede o nosso apoio. E têm se dedicado
ao trabalho com a juventude, empregando o protagonismo juvenil, a arte e a
espiritualidade como formas de potencializar as energias da juventude. Seus
êxitos comprovam que com oportunidades a juventude toma os melhores caminhos.
Aliás, os jovens nunca dispensaram atitudes de apoio, escuta, compreensão e
orientação. E gostam de ser desafiados pelos adultos.
A rebeldia tem causas que a justificam como atitude altiva e saudável. Jovens e
adultos, no entanto, precisamos descobrir quais são as causas pelas quais vale
uma vida. A violência e a agressão, em forma de rebeldia, não podem ser
toleradas. Por sua vez, rebeldia saudável e protagonismo são ingredientes
indispensáveis para fomentar as renovações de que a sociedade precisa. Mas a
opção é da sociedade: apostar e empenhar-se na emancipação e inclusão da
juventude ou considerá-la como constante ameaça contra a ordem social. Cada
opção tem seu preço.
Ilustre rebeldia
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