Autor: Professor Paulo César Gomes - Especialista em História Geral
A democratização da gestão na escola
possibilita o crescimento e a melhoria de toda a escola e dos agentes nela
inseridos. No entanto, ainda são muitos os desafios que rodeiam a efetivação da
gestão democrática nos espaços educacionais, sendo um deles a percepção
burocrática da gestão escolar.
Uma concepção burocratizada e hierarquizada da
gestão, em que o papel do diretor é o principal autor, faz com que os contextos
escolares tornem-se espaços fechados, sem momentos de discussão, crescimento e
melhoria da educação.
Adotando a gestão democrática, a instituição
de ensino define o rumo de seus encaminhamentos, promovendo a participação de
todos, preservando e construindo sua identidade e autonomia pedagógica,
administrativa e financeira.
Toda instituição de ensino necessita de
estratégias que a organizem como um espaço escolar no que diz respeito à
missão, objetivos, metas, metodologia, currículo e avaliação. Nesse aspecto, o PPP
(projeto-político-pedagógico) da escola, torna-se estratégia indispensável e
insubstituível para a gestão democrática dela, direcionando, de maneira
participativa e democrática, os caminhos que a instituição de ensino irá
trilhar.
No contexto escolar, "o projeto não se
constitui na simples produção de um documento, mas na consolidação de um
processo de ação-reflexão-ação, que exige o esforço conjunto e a vontade
política do coletivo escolar" (VEIGA, 2004, p.56).
A LDB nº 9394/96 diz, no seu art. 12, que:
"Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu
sistema de ensino, terão incumbência de: I. Elaborar e executar sua proposta
pedagógica”.
A determinação desse artigo trouxe às escolas
a tarefa de planejar suas ações, compreendendo sua especificidade e assumindo
sua função social de uma maneira coletiva e participativa, envolvendo todos os
agentes escolares, criando a cultura de que todos são responsáveis pela
instituição escolar.
Pela primeira vez o pensamento educacional
brasileiro (ele se reflete na lei, não é criado por ela) toma o planejamento
como ferramenta mais importante do que o regimento para a introdução de
processos pedagógicos. De fato, a obrigação de uma “proposta pedagógica”
sobrepõe-se, no texto da lei, à do regimento (GANDIN, 2001, p.14).
No entanto, é necessário que esse PPP seja
articulado, direcionado e executado com responsabilidade, consciência,
fundamentação, participação e preparo de todos, com o entendimento essencial de
que esse trabalho vai muito além de um simples documento burocrático, como os
estudos ainda a serem citados indicam. Eyng (2002, p. 07) refere-se à definição
do PPP da seguinte maneira:
Projeto porque faz uma projeção da
intencionalidade educativa para futura operacionalização, a teleologia, ou
seja, a finalidade de cada organização educativa expressada nos seus processos
e metas propostos. Político porque coletivo, político porque consciente,
político porque define uma posição do grupo, político porque expressa um
conhecimento próprio, contextualizado e compartilhado. Político, porque supõe
uma proposta coletiva, consciente, fundamentada e contextualizada para a
formação do cidadão. Pedagógico porque define a intencionalidade formativa,
porque expressa uma proposta de intervenção formativa, refletida e
fundamentada, ou seja, a efetivação da finalidade da instituição de ensino na
formação para a cidadania.
Assim, o PPP significa um projetar de ações
apoiado na totalidade, identidade, autonomia e participação de toda
instituição, ações estas propostas por todos os participantes escolares, de
maneira que a responsabilidade da instituição de ensino se torne coletiva, com
a intenção de efetivar o papel da instituição de ensino na formação do cidadão.
Veiga (2004, p.57) reafirma a posição acima,
indicando que o PPP é “ação consciente e organizada porque é planejada tendo em
vista o futuro”.
O projeto pedagógico aponta um rumo, uma
direção, um sentido explícito para um compromisso estabelecido coletivamente. O
projeto pedagógico, ao se constituir em processo participativo de decisões,
preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que
desvele os conflitos e as contradições, buscando eliminar as relações
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando
pessoal e racionalizado da burocracia e permitindo as relações horizontais no
interior da instituição de ensino (VEIGA, 2003, p12).
Nesse sentido ele sintetiza os interesses, os
desejos, as propostas dos educadores que trabalham na escola. Com esse enfoque
que o PPP da escola deve ser construído, implantado, avaliado e constantemente
readaptado nas percepções de suas deficiências, com a promoção e o envolvimento
de todos, em uma perspectiva democrática de transformação para a democracia e
de busca da democracia.
Neste contexto a avaliação vem ganhando grande
destaque e relevância na atualidade. Por contribuir com a gestão, no sentido de
melhoria da instituição, esse tipo de estratégia traz de forma eficaz auxílio
para a tomada de decisões que norteiam os caminhos educacionais.
O avanço da educação também se constrói a
partir de ações propostas e articuladas pela gestão escolar. Assim, a avaliação
institucional torna-se uma ação que subsidia os contextos escolares, indicando
as potencialidades e os aspectos que precisam ser melhorados.
Nos últimos anos a relevância que o tema
avaliação institucional vem conquistando nos espaços institucionais aponta para
a discussão de sua importância para o processo de melhoria das escolas. Segundo
Dias Sobrinho (2003, p.13), "a avaliação adquiriu dimensões de enorme
importância na agenda política dos governos, organismos e agências dedicadas à
estruturação e à gestão do setor público e, particularmente, da educação",
ou seja, a avaliação tornou-se um aspecto decisório no direcionamento das
políticas públicas da educação, contribuindo para as transformações de estrutura
já consolidadas.
No entanto, é preciso compreender a avaliação
de maneira completa e complexa, num contexto de busca contínua da qualidade e
aperfeiçoamento da instituição de ensino. Dias Sobrinho (1995, p.53) afirma
que:
A avaliação institucional
ultrapassa amplamente as questões das aprendizagens individuais e busca a
compreensão das relações e estruturas. (...) è importante destacar que essas
relações ou processos e as estruturas que engendram são públicos e sociais. É
exatamente este caráter público e social de qualquer instituição escolar,
independente de sua forma jurídica, que impõe com maior força e mais urgência a
necessidade da avaliação institucional. Tendo em vista que esses processos são
públicos e por ser uma instituição social, criada e mantida pela sociedade, a
precisa avaliar-se e tem o dever de se deixar avaliar para conhecer e aprimorar
a qualidade e os compromissos de sua inserção.
A avaliação deve servir como instrumento de
gestão no sentido de direcionar as práticas educativas da escola. Como afirma
Stufflebeam (Dias Sobrinho, 2003) a "tomada de decisão se apoia e se
orienta no conhecimento institucional que a avaliação propicia". Sem essas
informações, as decisões podem perder a objetividade, não gerando mudanças
necessárias no sentido da melhoria do espaço escolar.
Uma proposta de avaliação institucional
deveria estar envolvendo instrumentos de coleta como o SAEB, a prova Brasil,
censo escolar e outras instâncias do espaço educacional, inclusive a
auto-avaliação e a meta-avaliação, abrangendo de maneira mais qualitativa os
contextos e realidades escolares.
Num contexto geral, as contribuições da
avaliação institucional para a gestão escolar propiciam reflexões sobre a
mudança da concepção da avaliação, exercício da gestão democrática, efetiva
participação e a consolidação da identidade da escola.
Outra contribuição que a avaliação
institucional trouxe para a melhoria da escola foi provocar as instância de
participação da comunidade e a percepção da necessidade do engajamento dos
agentes escolares nos diversos setores da escola na tomada de decisão.
Essa proposta da participação de todos produz
a conscientização da comunidade escolar de que todos os agentes da escola
possuem o mesmo grau de importância para o bom funcionamento da instituição e
que todos podem contribuir e são responsáveis para a melhoria da educação
básica.
Propor a auto-avaliação institucional nas
escolas de educação básica é um desafio, porque as próprias políticas
educacionais não dão grande relevância a essa prática. Assim, é preciso uma
mudança de cultura para que ela se efetive nas instâncias educacionais no
intuito de trazer a melhoria para a instituição de ensino. Fernandes (2002, p.
140) propõem uma análise a respeito do processo de avaliação que resume a contribuição
da avaliação institucional em uma instituição:
A escola que passa por um
processo avaliativo sério e participativo descobre sua identidade e acompanha a
sua dinâmica. Muita coisa aprende-se com esse processo. Mas o que fica de mais
importante é a vivencia de uma caminhada reflexiva, democrática e formativa.
Todos crescem. Os dados coletados mudam, mas vivencia marca a vida das pessoas
e renova esperanças e compromisso com um trabalho qualitativo e satisfatório
para a comunidade escolar e para a sociedade. Avaliação Institucional é,
portanto, um processo complexo e não há pronto para consumo, um modelo ideal e
único para as escolas. Ela precisa ser construída. É o desafio de uma longa
caminhada possível e necessária.
Inúmeras reflexões e analises, devem ser
feitas levando em consideração o respeito da avaliação institucional serão
necessárias, mas o contexto político-social brasileiro e as diversas pesquisas
em educação indicam a necessidade de uma mudança nas práticas das escolas sobre
a avaliação escolar e a urgência em desenvolver políticas públicas de avaliação
institucional voltada para as escolas de educação básica, com fins de melhoria
dos espaços educacionais brasileiros e consequnetimente o nível educacional dos
alunos.
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