Um
golpe para a história! Essa é a expressão que resume o que o Brasil assistiu
neste triste dia 31 de agosto. Um golpe para a história! A retirada do mandato
da presidente de Dilma Rousseff entra para a história do Brasil como um golpe.
Golpe que foi orquestrado pelos setores mais conservadores do país, em uma
aliança entre os grandes grupos econômicos, partidos de direita, políticos
envolvidos em corrupção e seguimentos da grande mídia nacional.
Não basta dizer que o impeachment é uma ferramenta
constitucional, é preciso explicar que essa ferramenta foi usada para fins
meramente políticos, e não para moralizar o Brasil. Se fosse assim ela teria os
seus direitos cassados, o que não ocorreu. A decisão de hoje joga uma pá de
terra no mais importante direito de um cidadão, que é o voto. Nesse caso, foram
54 milhões de brasileiros que votaram em um projeto de governo. Dez milhões de
pessoas nas ruas não podem ser mais importantes do que o voto de 54 milhões.
É verdade que o governo Dilma cometeu inúmeros erros, bem
como o de Lula, a começar pela aliança com setores que agora os traíram. Mas é
verdade também que as camadas mais baixas tiveram uma ascensão popular até
então nunca vista. Também é preciso ressaltar que os casos de corrupção
envolvendo o PT são inaceitáveis, principalmente vindos de um partido que
pregava a ética na política. Entretanto é preciso dizer que o PMDB de Michel
Temer, PSDB de Aécio Neves e PSB de Paulo Câmara também estão melados com a lama
da corrupção.
Dizer que o STF legitimou o impeachment é um equívoco sem
precedente, pois o STF não possui legitimidade constitucional para julgar um
Presidente da República. O que o STF fez foi apenas legitimar o rito, já que
cabia ao parlamento a competência de admitir e julgar o processo. O papel do
STF nesse caso será o de analisar se o mérito do processo é procedente, ou
seja, confirmar se as pedalas fiscais e os decretos assinados sem autorização
do congresso são de fato crimes de responsabilidade, já que essa matéria é até
então sem tipificação. Caso o STF absolva Dilma, teremos a confirmação de que houve
um golpe.
O pior de tudo é ver um presidente assumir sem um mandato
popular, sem que a população tenha respaldado o seu plano de governo. Um presidente
fraco, covarde, usurpador, traidor e golpista. Um presidente que não é
conhecido pelo povo e que vive a sombra da beleza da esposa e da ingenuidade do
filho.
É lamentável ver que o voto no dia de hoje perdeu o seu
valor. Quer os interesses econômicos e políticos se sobreponham aos interesses
sociais. Que as políticas públicas voltadas para educação, moradia,
distribuição de renda, de inclusão social e de gênero sejam deixadas em um
plano inferior.
O dia de hoje passará para a história como um golpe! Um
golpe que delimitará quem é quem nesse país. Um golpe pautará as próximas
eleições e os embates sociais. Infelizmente o golpe dividiu e não uniu o país,
mas ainda assim é preciso acreditar que o futuro nos pertence e que certamente
iremos nos reencontrar com o que é de fato um Brasil justo e democrático.
Paulo César Gomes,
Professor, Historiador e Pesquisador serra-talhadense.
pcgomes-st@bol.com.br