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sábado, 6 de novembro de 2010

A batalha da Serra Grande

Lampião já havia derrotados várias volantes pelo sertão afora, porém faltava a grande batalha, o que ocorreu em 1926, quando por ocasião da reunião do comando da Policia Militar de Pernambuco em Villa Bella.
Encontravam-se reunidos alguns dos mais terríveis inimigos entre os quais Manuel Neto, o Mané Neto, Arlindo Rocha e Higino Belarmino, o Nego Higino. Os policiais deslocaram até a Serra Grande, a 25 km de Villa Bella, com o intuito de resgatar o refém, Pedro Paulo Mineiro Dias, pela vida do qual os bandoleiros pediam 16 contos de réis. O confronto parecia inevitável, a volante contava com aproximadamente 300 homens, do outro uns 90 cangaceiros.
A tensão era grande entre os membros da volante. ”Em meio a tanta confusão, marcharam para. Alguém ainda chegou a sugerir, almoçaremos primeiro. Arlindo Rocha respondeu com a cara feixada: ‘Hoje vamos almoçar bala! ’” (SOUZA, 2006/2007, p. 136)
Sob o comando de Lampião, os bandoleiros destroçaram a supervolante.
O sargento Mané Neto, que perseguiu o bandido durante toda a vida, perdeu parcialmente o movimento das pernas ao ser atingido durante a luta. Já o sargento Arlindo Rocha levou um disparo na boca que quase lhe destruiu a mandíbula, o que faria com que tivesse problemas de mastigação pelo resto da vida. No total, pelo menos dez soldados morreram e 30 ficaram feridos no embate. Entre os bandidos, há notícias de somente alguns feridos. A razão da derrota é que os cangaceiros estavam postados no alto da serra, protegidos por pedras, enquanto os policiais avançavam de peito aberto. Aqueles tinham apenas o trabalho de escolher o alvo e atirar.
Por muito tempo, a polícia, desmoralizada, manteve a versão de que Antônio Ferreira, um dos irmãos de Lampião, havia sido morto no confronto. Era uma forma de diminuir um pouco o impacto da derrota. Na verdade, Antônio seria morto em um acidente, em janeiro do ano seguinte, devido a um tiro disparado inadvertidamente pelo cangaceiro Luiz Pedro. Na Batalha da Serra Grande, o tiroteio, que se iniciou por volta das 8h30, durou praticamente o dia inteiro e só acabou quando os cangaceiros cansaram-se de "matar macacos" e resolveram descer a serra para seguir em direção à fazenda de Ângelo Gomes, conhecido como Anjo da Guia.

FONTE: Monografia: LAMPIÃO E SEU GRUPO NOS IDOS DOS ANOS 1920. O CANGAÇO GOVERNANDO O SERTÃO. Autor: SANTOS, PAULO C. G DOS . SERRA TALHADA – PE SETEMBRO DE 2009

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O encontro de Lampião e Padre Cícero – O Cangaço de patente

Ali estavam, frente a frente, pela primeira e única vez, Lampião e Padre Cícero, os dois maiores mitos de toda a história nordestina. Uma terceira figura mitológica era indiretamente responsável por aquele encontro inusitado: Luís Carlos Prestes, o comandante da Coluna Prestes, movimento militar guerrilheiro que desde o ano anterior serpenteava pelo interior do país, enfrentando as tropas do presidente Artur Bernardes.
Quando a marcha da coluna revolucionária rumou para o Nordeste, o governo federal não teve dúvidas: convocou os chefes políticos locais para formarem exércitos próprios e combater os rebeldes. No livro O General Góes Depõe, da década de 1950, o próprio general Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior das operações contra a Coluna, assume que partiu dele a idéia de convocar jagunços e cangaceiros para fazer frente ao avanço de Prestes.
No Ceará, coube ao deputado Floro Bartolomeu, médico e aliado político do Padre Cícero, fazer o convite oficial ao bando de Lampião para se engajar no “Batalhão Patriótico”.
Em fevereiro de 1926, Padre Cícero ainda tentou uma solução pacífica. Enviou aos revolucionários uma carta em que os incitava a depor armas. Em troca, prometia-lhes abrigo em Juazeiro do Norte (CE), onde teriam garantias legais de que seriam submetidos a um tratamento justo.
De acordo com o relato de Lourenço Moreira Lima, secretário da Coluna revolucionária, a mensagem foi recebida. “Tivemos a oportunidade de ler essa carta, escrita com uma grande ingenuidade, mas da qual ressaltava o desejo íntimo e sincero do padre no sentido de conseguir fazer a paz”, escreveu Moreira Lima em seu diário de campanha, publicado em 1934. O pedido, como se sabe, foi ignorado.
Quando Lampião chegou no dia 4 de março à cidade de Juazeiro do Norte, atendendo ao chamado de Floro, este não se encontrava mais por lá. Doente, o deputado federal viajara para o Rio de Janeiro, onde acabaria morrendo.
Padre Cícero se viu então com um problema nas mãos: recepcionar o famoso bandido e seus cabras na cidade e, mais ainda, cumprir o que havia sido combinado entre Lampião e o deputado, com a devida aprovação do governo federal: o cangaceiro deveria receber dinheiro, armas e a patente de capitão do “Batalhão Patriótico”.
Lampião e outros 49 cangaceiros ocuparam uma casa próxima à fazenda de Floro, nas imediações da cidade, e, em seguida, alojaram-se em Juazeiro do Norte, no sobrado onde residia João Mendes de Oliveira, conhecido poeta popular da região. Foi lá que, da janela, Virgolino atirou moedas ao povo e onde, durante a madrugada, Padre Cícero encontrou o bando.
Os bandidos, ajoelhados em deferência ao sacerdote, teriam ouvido o padre tentar convencer seu líder a largar o cangaço logo após voltasse da campanha contra Prestes. Mandou-se então chamar o único funcionário federal disponível na cidade, o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchoa, para redigir um documento que, supostamente, garantiria salvo-conduto ao bando pelos sertões e, principalmente, concedia a prometida patente.
O papel, como Lampião viria a descobrir tão logo saiu da cidade, não tinha qualquer valor legal, o que não o impediu de assinar, daí por diante, “Capitão Virgolino”. Ciente da desfeita, o cangaceiro não se preocupou mais em dar combate à Coluna Prestes.
Já obtivera dinheiro e armas em número suficiente para seguir seu caminho de bandoleiro, agora ostentando orgulhoso a falsa patente militar. Mais tarde, o agrônomo Uchoa justificou seu papel no episódio: diante de Lampião, assinaria qualquer coisa. “Até a destituição do presidente da República”,disse.


FONTE: Monografia: LAMPIÃO E SEU GRUPO NOS IDOS DOS ANOS 1920. O CANGAÇO GOVERNANDO O SERTÃO. Autor: SANTOS, PAULO C. G DOS . SERRA TALHADA – PE SETEMBRO DE 2009

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quem foi Lampião?

Estamos diante da pergunta clássica, feita milhares de vezes. Antes que ousemos responde-la, porém, temos uma única certeza: estamos diante de um grande desafio.
No capítulo anterior, vimos às características físicas e os fatores conjunturais e estruturais do sertão. Uma região insólita, com características específicas, palco de muitas lutas sangrentas, e no ano de 1897, não era diferente. Sangue, tristeza e dor moldavam o cenário, onde os povos daquela terá hostil, mais uma vez sofreriam e seriam massacrados, em nome da lei e da justiça.
O arraial erigido nos ermos do nordeste da Bahia por Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido Antônio Conselheiro, fora tomado pelo Exército e dele quase na restou, a não ser escombros, cadáveres, sangue e cinzas.
Provavelmente neste mesmo ano, e na mesma região sertaneja, nasceu aquele cujo conselheiro profetizara, dizendo que iria surgir um poderoso cangaceiro.
Segundo Chandler (1980, p. 25) O cangaceiro de que falava o conselheiro, só podia ser Lampião.
De acordo com o registro civil, em 7 de julho de 1897, em Passagem das Pedras, uma fazenda a aproximadamente 40 Km de Villa Bella (hoje Serra Talhada) estado de Pernambuco, nascia Virgolino Ferreira da Silva, o terceiro dos noves filhos de José Ferreira dos santos e Maria Sulena da Purificação.

A Segunda profecia foi anunciada pelo cônego Joaquim Antônio de Siqueira Tôrres, quando fez seu batismo. Ao explicar para os familiares o significado do nome do menino, profetizou dizendo: Virgolino, vem de vírgula, que quer dizer pausa, parada. Quem sabe o sertão inteiro ou talvez o mundo não vai parar de admiração por este menino...! (LINS, 1997).
Assim como Antônio Conselheiro, o cônego, também não errou. Não demorou muito para que o menino nascido nos confins ameaçador do sertão saísse do anonimato para ser notícia no Brasil e no exterior.
Sua infância foi comum, como a de qualquer outra criança de seu tempo. A escassez de brinquedos e talvez a falta de recursos, levaram as crianças a improvisarem suas brincadeiras, numa imitação de vaquejada, “cangaceiro e polícia”. Os parcos brinquedos consistiam em ossos de boi.
As primeiras letras aprendeu com um professor particular. Não freqüentou nenhuma instituição que lhe instruísse para uma formação profissional, mas isto não privou o jovem Virgolino de se tornar um hábil vaqueiro e desenvolver grande habilidade em manufaturar o couro, além de tocar sanfona, viola e fazer versos de improviso.
Junto com o pai e os irmãos mais velhos trabalhava na roça, na criação de animais e na almocrevia que constituíam as principais atividades da família Ferreira.
Virgolino Ferreira da Silva, apesar da origem humilde, era um bom rapaz ou mesmo um rapaz extraordinário, mas que nasceu no sertão.
LUNA (1972, p. 24) descrever a realidade do sertão no início do século XX:
Uma terra sem lei, sem estradas em sem escolas. Era terra dos coronéis, chefes políticos, que políticos, que fabricavam votos, faziam deputados e senadores, transferiam delegados, promotores e juizes, promoviam oficiais e transformavam soldados em cabos, sargentos em tenentes, enfeixavam nas mãos rudes e firmes todos os poderes de mando. Sob o peso de sua prepotência o sertão suava e gemia.
E foi nessa terra, sem dono, sem lei, de dificuldades múltiplas que nasceu e cresceu Virgolino.
Até 1916, Virgolino e seus familiares levavam uma vida pacata, como almocreve abastecia de mercadorias os povoados vizinhos, sempre em companhia do pai, o senhor José Ferreira. Vale salientar que estas andanças pela região sertaneja, em que ele passava a conhecer bem o lugar e fazer amizades, mais tarde iriam lhe ser muito úteis.
A família Ferreira, tradicional no sertão era gente honesta e honrada que por ironia do destino talvez, tivesse que viver naquele meio hostil, que não daria trégua aquela gente simples e humilde, que figuravam entre gente poderosa. E entre os poderosos estava o “responsável” pelo desencadear de toda trajetória que tornou Virgolino, o homem mais temido e mais famoso de toda região nordestina.
Queixas irrelevantes, que em qualquer outro lugar não teria maiores conseqüências, entre aqueles sertanejos incultos acabava por se tornar uma briga ferrenha, que certamente terminaria em tragédia.
As duas famílias, a de José Ferreira e de José Saturnino, eram vizinhas e nutriam respeito mútuo, até surgirem queixas de que os Ferreiras ou os Saturnino, não se sabe ao certo quem estava com a razão, estariam roubando cabras e chocalhos. O caso foi levado ao conhecimento da polícia que obviamente tinham que tomar partido e ficar do lado daquele que pertencesse a elite local. Nessa disputa desigual, os Ferreiras saírem perdendo.
Nessa terra, onde as instituições responsáveis pela justiça, eram inoperantes, acordos eram feitos como parte do código dos sertões. Sendo assim, foi firmado um acordo entre os Ferreiras e os Nogueiras, na tentativa de resolver o conflito.
Os Ferreiras tendo menos prestígio que os Nogueira, em meio dessa sociedade, ficaram em desvantagem fazendo este acordo, pois tiveram que vender sua fazenda e se mudarem para outra comarca. Apesar disso, o pai de Virgolino não se importou em ter saído perdendo desde que em sua nova residência pudesse ter tranqüilidade. Infelizmente isso não aconteceu.
Saturnino quebrou o acordo e passou a perseguir a família de Virgolino inexoravelmente, levando-os a uma verdadeira peregrinação, que acabou pondo fim a vida do próprio Virgolino, fazendo com que ele entrasse definitivamente na vida do bandidismo. Virgolino estava morto. Nascia Lampião.
Aquela família fora levada ao paroxismo da desesperação. A luta desgarrada em busca da paz não foi alcançada. A mãe de Virgolino não resistiu ao sofrimento de tanta as mudanças e veio a falecer.
O pai foi assassinado fria e covardemente pela polícia de Alagoas em maio de 1921.
Foi chegado o momento definitivo em que não haveria mais retorno.
A partir daqueles acontecimentos, Virgolino “declarou que ia viver e morrer como um bandido” (CHANDLER, 1980, p. 46) e, assim o fez.
Até ocorrer a morte de José Ferreira, Virgolino e seus irmãos, Antônio e Livino andavam armados e usavam roupas que faziam lembrar os verdadeiros bandidos da região. Embora adotando essa atitude, nada mais era do que para se protegerem ou a sua família da intolerância de seus inimigos, principalmente de José Saturnino, que os perseguiam implacavelmente.
Mas a morte do pai de Virgolino veio abreviar aquilo que estaria por acontecer.
Desse triste episódio em diante, as chances de que os irmãos Ferreira pudessem levar uma vida normal eram remotas.
O chefe da família representava um ponto de referência para os filhos, que viam na figura do pai um homem honesto e trabalhador, que sabia superar as dificuldades que a vida lhe impusesse. Agora ele estava morto.
Para Virgolino que tanto estimava o pai, estavam mortas as possibilidades de ser ter uma vida digna, escolhendo viver como bandido, a fim de vingar a tragédia que se abatera sobre sua família.
Relevados da culpa pelo ideal de vingança, os irmãos Ferreira ingressam de vez no cangaço.
Todo ambiente mostrou-se receptivo ao surgimento de mais de um grupo de cangaceiros, com a diferença de que seria o grupo que mais sobreviveu ao tempo e ao espaço e fez de Lampião o bandido maior do século XX.
A região onde nasceu e cresceu, Lampião era infestado por modelos que lhe serviram de exemplo.
Chefes famosos como Antônio Silvino, Sebastião Pereira, entre outros, não apenas servia de modelo como influenciavam jovens daquela época.
No começo o grupo, de lampião era composto por quatro elementos, e por esta razão esporadicamente os irmãos Ferreira. Juntavam-se a outros bandos, como o bando irmãos Pocino, por exemplo, de Alagoas, fato comum entre os grupos de desajustados, que se juntavam para levarem um plano adiante, com maior número de homens, afim de não saírem com desvantagens com a polícia.
Nos primeiros tempos de sua vida de cangaço, Virgolino parecia mais um justiceiro. Não cometendo crimes ao caso, isto o distinguia de alguma forma dos criminosos comuns. Porém, com o passar dos tempos, muitas vidas inocentes foram trucidadas sem que houvesse explicações.
Virgolino entra para o grupo de Sinhô Pereira destaca-se pelo talento com o manuseio das armas, essa habilidade deu origem a apelido que o tornou conhecido em todo mundo ‘’LAMPIÃO” .
“Como saberemos seguir Virgolino, se a peleja será na escuridão da noite? ... Antes do chefe responder Virgolino profetizou o seu nome que substituiu para sempre o que receberá no primeiro sacramento. ‘ - Siga a o Lampião, vou abrir fogo com tanta velocidade que o cano da minha arma vai iluminar feito um lampião”(SOUZA, 2006/2007, p. 135).

FONTE: Monografia: LAMPIÃO E SEU GRUPO NOS IDOS DOS ANOS 1920. O CANGAÇO GOVERNANDO O SERTÃO. Autor:SANTOS, PAULO C. G DOS . SERRA TALHADA – PESETEMBRO DE 2009

As Origens do Cangaço e sua Modalidade

Para compreender melhor o fenômeno conhecido como “cangaço”, é preciso retroceder no tempo, remontando ao início da colonização, quando chegaram os europeus.
Os portugueses que vieram colonizar o nordeste se interessavam principalmente pela região litorânea, propicia ‘a cultura da cana-de-açúcar, que obviamente renderia bons lucros para a coroa. Os lugares que não ofereciam condições ao cultivo da mesma foram negligenciados para mais tarde serem reivindicados para outras atividades.
Naquele momento, as regiões litorâneas tornaram-se de tão grande importância para aqueles que aqui chegaram em busca de riquezas, que, apesar da necessidade de se cultivar outra cultura destinada a produção de gêneros alimentícios para alimentar a crescente população em demanda, não era encarada com boa vontade. Surgiu então, o interesse por lugares inóspitos e distantes, mas propícios a agricultura e a criação de gado.
Nestas regiões inabitadas, e mais especificamente nos sertões nordestinos, um lugar com características muito especiais, tanto por sua vegetação, quanto o clima que ali apresenta, começam a ser desbravadas, constituindo uma sociedade deixada a esmo, entregue tão somente aos ricos fazendeiros que tendo grandes extensões de terras, reinavam absolutos em seus domínios, incorporando a figura do juiz, padre, prefeito, promotor, impondo a lei e a disciplina, que na prática significava abuso de toda ordem contra a maioria da população que viveria miseravelmente.
Apresentando características físicas distintas da zona canavieira, o sertão é uma região geograficamente acidentada dividida entre planaltos, colinas e serras que compõem um cenário pouco acolhedor ‘a habitação humana. De clima tropical e semi-árido, apresenta grande variação na distribuição de chuvas, gerando com isso graves problemas para os habitantes, dependendo da irregularidade surgem as secas, realidade atroz que dizimavam o gado e destruíam as plantações, obrigando o sertanejo a procurar abrigo em outro lugar. A vegetação múltipla é composta por arvores de pequeno porte, arbustos e cactos: a água é escassa.
Dentro dessas condições físicas, o sertão passou a desenvolver a pecuária como principal atividade econômica, conjugada a agricultura de subsistência, que serviria para abastecer tanto a região local, quanto exportar para a região litorânea.
A atividade pastoril desenvolvida de forma extensiva tornou a região o reino do gado vacum a impôs a “civilização” do couro; o mundo dos homens que lidam com o gado, destacando uma figura de imprescindível importância na paisagem inconfundível do sertão: o vaqueiro.
De acordo com informações, até fins do século XIX, essa atividade fez com que os criadores conseguissem fazer fortuna. Isso acontecia em virtude da facilidade com que se podia criar os rebanhos em geral soltos, pois não existiam cercas delimitando propriedades. Além disso, se comparada com os engenhos de açúcar situados próximos ao litoral, à criação do gado era uma atividade bem menos dispendiosa, não requerendo grandes cuidados.
Os vaqueiros que sempre administravam as fazendas, eram responsáveis pelos rebanhos, cuidando para que o gado não fosse dizimado. A eles, cabia providenciar água e comida para os animais, ferrá-los, benze-los em casos de doenças e amansa-los. Não recebiam salários. O pagamento deles correspondia a um quarto da produção do rebanho. Enquanto o vaqueiro cuidava do gado e da fazenda, os donos dos rebanhos ficavam na cidade ou mesmo em suas próprias terras, delegando poderes aos administradores e aos empregados.
Cedo, os adolescentes eram instruídos a lidar com o gado e a trabalhar com o couro. A marca do boi esteve presente em toda região sertaneja como fonte de riqueza, de manufatura do couro na fabricação dos mais variados objetos. Tudo era cuidadosamente aproveitado. Os chifres serviam como vasilha ou recipiente para guardar pólvora e os ossos serviam como brinquedo para as crianças.
Através de informações dadas por especialistas, no século XIX graças às campanhas de vacinação, a população sertaneja aumentou e concentrou-se nas regiões adequadas a agricultura. Este aumento populacional concentrado, nestas áreas gerou uma fragmentação nas propriedades, resultando em declínio econômico para a maioria dos habitantes. As adversidades econômicas acabaram criando um enorme descontentamento para a população em geral, mas principalmente para classes mais pobres.
Em conjunto a estes fatores econômicos, intimamente relacionados com o aumento da população, secas periódicas “a fragilidade das instituições responsáveis” (CHANDLER, 1980, p. 25) o antagonismo de partidos políticos geraram uma desestruturação social, que contribuíram decisivamente para o surgimento de um tipo humano, cujas características eram espelho fiel do meio em que habitavam: O Cangaceiro.
Desde o início da ocupação do sertão, um fato comum era os grandes proprietários de terras, em geral chefes de grandes famílias, e suas propriedades dos ataques indígenas. Estes bandos eram compostos por homens armados, que mantinham-se na dependência dos chefes de família ou chefes políticos. Moravam nas terras do chefe como agregado, lhes eram dispensado o pagamento desde que assegurassem o domínio da terra e garantissem a segurança do fazendeiro. Embora compondo uma modalidade do que seria o cangaço do século XIX, ainda não haviam recebido batismo de cangaceiros, eram chamados “capangas” ou “jagunços”. Estes bandos mais tarde, na década de 1830, receberam a alcunha de “cangaço”, por era o jugo dos bois.
Os componentes dos bandos nesta mesma época passaram a se chamados “cangaceiros”.
Ao longo do tempo, o cangaço como passou a ser chamado o grupo de homens armados, adquiriu modalidades diferentes. No início era o cangaço dependente, subordinado as ordens dos fazendeiros e chefes políticos, mais tarde eram bandos independentes, agindo por conta própria, sem dominação, decidindo livremente suas ações. Este é o cangaço independente, uma nova modalidade que destacará três líderes, que ficara na memória da nossa gente, como parte da cultura da nossa região. São eles: Antônio Silvino, Lampião e Corisco.
Esta nova modalidade que começou atuar nos sertões nordestinos em fins do século XIX e início do século XX, nos remete a uma indagação: Teriam existido grupos independentes anterior a estes?
Apesar de pouco difundido no período da colonização holandesa, mais precisa entre os anos de 1641 e 1644, alguns grupos liderados por chefes holandeses, atuavam em Pernambuco e Paraíba, ficando conhecidos os casos de Abraham Platmam, Hans Nicolaes e Pieter Pilcot. Isto mostra que grupos armados, agindo por conta própria, dada de uma época muito anterior aos precursores do cangaço propriamente dito.
Holandeses a parte, com as secas e epidemias ocorridas entre 1775 e 1776 na província de Pernambuco, a formação de bandos independentes encontram um momento favorável para atuarem.
Com um quadro sócio-econômico desorganizado homens armados aderiram a violência para tentar sobreviver em meio as catástrofes.
O primeiro bando independente a atuar neste período e até servir de inspiração erudita, foi o bando de José Gomes, denominado o “cabeleira”. Inspirou o romance do mesmo nome, do escritor cearense Franklin Távora, publica em 1876.
O segundo bando foi liderado por José de Barros Rocha, que ficou conhecido como “Tigre do Sertão”, em 1819. O bando atuou nos sertões nordestinos durante 14 meses, até o líder ser capturado e morto. Até surgir os bandos de maior longevidade nos sertões, o último dos precursores foi João de Souza Calangro, na região do Cariri em 1876. Os bandos citados agiam em pontos diversos, desde a zona da mata ao sertão. De acordo com Ascenco Ferreira, o sertão herdou essa herança da zona canavieira, onde teve origem “os primeiros grupos de cangaceiros” (LUNA Luis Lampião e seus cabras. 2ª Ed. revista, Rio de Janeiro, Ed. Leitura 1972).
É importante observar que o paralelo entre os precursores do cangaço independente sobressaía-se ainda outro bando com uma diferença fundamental. Era o bando dos retirantes, que proliferavam nos períodos de estiagem e, era composta por fazendeiros, que agiam movidos pela extrema necessidade, em meio à miséria que os rodeava.
Ao contrário dos cangaceiros que eram tidos como bandidos cruéis e violentos, enquanto os primeiros eram recrutados para a ordem.
O final do século XIX, em virtude das condições que o sertão apresenta conservado praticamente as mesmas características dos séculos anteriores, se converterá no principal cenário favorável ao desenvolvimento da nova modalidade do cangaço independente.
Este novo cangaço que terá sua representação máxima nas pessoas de Antônio Sobrinho e Lampião vem apresentando características distintas dos precursores em números e qualidade, em face da região sertaneja ter uma tradição rica em violência desde os primórdios.
Nesse contexto, o banditismo que floresceu no sertão no final do século XIX, caracterizou-se em cangaço gigante, própria da zona pastoril, que embora não sendo nem original, nem exclusivo do sertão nordestino brasileiro, encontrou ali fatores que contribuíram decisivamente para moldar aquele padrão de comportamento. Desta forma, chegaram estes bandos a se “identificarem como um grupo ou subcultura,” (CHANDLER, 1980, p.17).
Em 1897, o primeiro cangaceiro de importância do final do século, começa sua trajetória. Manoel Batista de Moraes (1815-1944) que ficou conhecido no cangaço como Antônio Silvino, tornou-se bandido, depois de ter o pai e um irmão assinados por Desidério Ramos, um poderoso do lugar onde morava em Afogados da Ingazeira, sertão pernambucano. Durante 17 anos, atuou em quatro estados nordestinos, até ser preso em 1914 pela polícia pernambucana.
Ao contrário de Lampião Antônio Silvino conseguiu ser respeitado e elogiado pelos estudiosos do tema em questão.
Para Câmara Cascudo, ele era “valente, atrevido, arrojado, com gestos generosos e humanos, respeitador de damas e donzelas”.
Billy Jaynes Chandler, pesquisador norte-americano, também não lhe poupa elogios. Após ter sido preso na casa de detenção do recife, converteu-se ao protestantismo influenciou e muitos presos que acatavam seus conselhos e opiniões. Posto em liberdade condicional pelo presidente Getúlio Vargas, mudou-se para o Rio de Janeiro, aonde veio a falecer em 1944.
Quando Antônio Silvino fez sua entrada no cangaço em 1897, em Afogados da Ingazeira, em outro município próximo dali estava nascendo Virgolino Ferreira da Silva, que como parte integrante daquela região, poderia ter se tornado vaqueiro, almocreve ou artesão, confeccionando artefatos de couro, mas ironicamente influenciado pelos mesmos fatores que compunha o meio, veio este moço entortar sua biografia, seguindo uma carreira contrária as modalidades comuns do sertão. Desse modo de vida simples de camponês que não lhe concedia aspirar maior Status, veio este rapaz tornar-se o maior expoente do cangaço independente do início deste século.
Tomando como exemplo o próprio Antônio Silvino, Virgolino da Silva, batizado no cangaço como “Lampião”, tentado vingar a honra da família, que ao nosso ver, de acordo com o código de honra do sertão, é mais que um dever, é uma obrigação para o sertanejo, conseguiu formar o maior importante grupo de cangaceiros da região sertanejo, e impôs uma nova ordem guerreira ao Cangaço Independente.
Com ele, o cangaço ganhou um estilo próprio de ser, Ele quis “transformar o cangaço não apenas numa Assembléia de bandidos, sem futuro, mas num projeto microssocietal com pretensões fundadoras e desejo de perenizarão” (LINS, 1997, p.60.).
Durante quase duas décadas, atuou em sete estados nordestinos. Durante esse período, a organização do seu bando se assemelhou a disciplina militar. Os componentes militares tinham um modo próprio de se vestir. Usavam chapéus de couro, e nos ombros, e na cintura muitos cintos com cartucheiras.
A tática guerrilheira era empregada, com o objetivo de se obter bons resultados nos confrontos.
Místico, Lampião com seu bando rezavam num altar improvisado no meio da caatinga, e sempre traziam consigo orações ou talismãs para se defenderem.
Em tempo de paz nos esconderijo, apos as orações matinais, alguém do bando, geralmente um cangaceiro, era designado para preparar as refeições. Se fosse possível, o líder do bando interpretava os sonhos, que era levado a série pelo grupo, premonizando o que o futuro lhes reserva. Gitarana, um guerreiro que sabia escrever, às vezes era convocado para ler as notícias dos jornais. Também não dormiam sem antes rezarem e pedirem proteção. Os cangaceiros mais jovens pediam a benção a Lampião, que simbolicamente representavam o pai de todos. Quando no silêncio, perdidos na escuridão da noite, a morte os rondava, fazendo o coração rude daquela gente entristecer, o chefe pedia ao poeta (Gitarana) que declama uma poesia para afugentar a melancolia. Devido a intensa mobilidade do grupo, sempre fugindo das volantes, essa rotina não podia ser mantida no dia-a-dia.
Nos constantes combates com a polícia, Lampião demonstrou capacidade de comando e qualidade de estrategista, estes, entre muitos outros fatores foram decisivos para manter o bando atuando por quase 20 anos, nas caatingas do sertão.
Muito antes de ser morto pela volante do Capitão João Bezerra, em 1938, o herói já tinha virado lenda. Hoje, mais de um século se sua existência, o “rei dos cangaceiros”, continua presente na mídia, como um dos cangaceiros mais conhecidos e mais pesquisados do Ocidente.
Ele é parte inerente da nossa cultura, estando presente na literatura, no cinema, no teatro, na televisão, na música.
Pelo exposto, podemos perceber que o cangaço com todas as suas contrariedades, tinham seus códigos, suas leis, e apesar do terror que espalhou pelos sertões nordestinos não deixou de contribuir para o progresso da região e para a cultura de modo geral, tendo Lampião, não tivesse alcançado tamanha dimensão e expressão, nos leva a crer que o SERTÃO, não teria hoje a representatividade que nos mais perto da nossa verdadeira identidade de nordestinos.
Depois da morte de Lampião, Cristiano Gomes da Silva Cleto, conhecido no mundo do cangaço como “Corisco ou Diabo Louro”, comandou um pequeno grupo tentando vingar a morte do chefe, e cometeu atrocidades que fizeram o sertão gemer. Porém, diante das incertezas que apresentava o cangaço naquele momento, sem a presença do seu líder maior, acabaram ele e sua mulher Dada, sendo atacados pelos volantes que, estimulados pela chacina de angico, continuaram a perseguir os cangaceiros. Em 1940, teve fim oficial o movimento do Cangaço Independente.

FONTE: Monografia: LAMPIÃO E SEU GRUPO NOS IDOS DOS ANOS 1920. O CANGAÇO GOVERNANDO O SERTÃO. Autor:SANTOS, PAULO C. G DOS . SERRA TALHADA – PE
SETEMBRO DE 2009

PISO SALARIAL DA ENFERMAGEM: ENFERMAGEM poderá ganhar novo direito no STF em estado; veja últimas notícias do PISO ENFERMAGEM

Do Jc Ne10 O   piso salarial da enfermagem   continua suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde a definição do ministro Luís Robert...