Georg Simmel
Filho de Edward Simmel e Flora Bodstein, Georg
Simmel foi o último dos sete filhos do casal com ascendência judia tanto pelo
lado do pai como da mãe.
Em 1874 Edward Simmel morre e Julius Friedländer,
amigo da família, torna-se tutor de Georg tendo-lhe, mais tarde, deixado uma
herança expressiva a qual lhe permitiu seguir a vida acadêmica.
Diplomou-se na Universidade de Berlim passando
pelos cursos de filosofia. Sua tese de doutorado, também em filosofia, levou o
título de A natureza da matéria segundo a monadologia física de Kant e
rendeu-lhe o título no ano de 1881.
Em 1885 foi designado como Privatdozent na
mesma Universidade de Berlim e ganhava apenas o que vinha das taxas pagas pelos
estudantes que se inscreviam em seus cursos. Em 1901, tornou-se ainda
"professor extraordinário", mas jamais foi incorporado de modo formal
e definitivo na academia berlinense.
Em 1890 casou-se com Gertrud Kinel, diplomada
também em Berlim, de família católica. Os dois não tiveram filhos.
Em 1912, ele foi nomeado professor em Estrasburgo,
então uma cidade que pertencia ao Império Germânico. No entanto, o autor morreu
em 1918, aos 60 anos de idade.
Sociologia (1908)
Muito antes do grande tratado sociológico de Max
Weber - Economia e Sociedade -, a Alemanha já conhecia o desenvolvimento
consistente de uma discussão epistemológica voltada para a determinação do
objeto, métodos e temas da ciência sociológica: reunindo diversos escritos
produzidos em momentos anteriores, Georg Simmel apresentou sua
"Soziologie" em 10 capítulos (e diversos outros excursos) no ano de
1908 e contribuiu decisivamente para a consolidação desta ciência na Alemanha.
Nesta obra, ele trata especificamente da sociologia
(Capítulo 1 - O problema da sociologia) e aprofunda a análise das formas de
sociação (objeto da sociologia), como a dominação (capítulo 3), o conflito
(capítulo 4), o segredo (capítulo 5), os círculos sociais (capítulo 6) e a
pobreza (capítulo 7). Ao mesmo tempo, reflete sobre os determinantes
quantitativos da vida social (capítulo 2), bem como sobre a relação entre a
vida grupal e a individualidade (capítulo 10).
Simmel desenvolveu a sociologia formal, ou das
formas sociais, influenciado pela filosofia kantiana (o neokantismo
era uma corrente muito forte na Alemanha da época) que distinguia a forma do
conteúdo dos objetos de estudo do conhecimento
humano. Tal distinção pretendia tornar possível o entendimento da vida social
já que no processo de sociação (Vergesellschaftung, termo que
cunhou para o estudo da sociologia) o invariante eram as formas em que os
indivíduos se agregavam e não os indivíduos em si.
Os processos qualitativos, no entanto, que assumiam
tais formas também deveriam ser estudados pela sociologia geral, subproduto da
formal, como a concebia Simmel. O autor não conferia aos grupos sociais
unidades hipostasiadas, supervalorizadas com relação ao indivíduo (um
distanciamento seu com relação a Durkheim, por exemplo). Antes via neste o
fundamento dos grupos, daí que as formas para Simmel constituem-se em um
processo de interação entre tais indivíduos, seja por aproximação, seja pelo
distanciamento, competição, subordinação, etc.
As principais formas de sociação estudadas por
Simmel em sua obra são:
·
a determinação quantitativa do grupo: investigação
entre o número de indivídos no seio das formas de vida coletiva, ou seja, o
modo como o aspecto quantitativo afeta o tipo de relação social existente.
Neste tópico, Simmel mostrou que estar isolado, em uma relação exclusiva entre
duas pessoas e, por fim, entre três, produz diferentes tipos de interação entre
as pessoas.
·
dominação e subordinação: as relações de poder não
são unilaterais e é preciso explicar como as formas de comando e obediência
estão relacionadas. Dentre os tipos de relação de poder, Simmel destacou a
obediência do grupo a um indivíduo, a dominação do grupo ou a dominação de
regras impessoais.
·
o conflito: os indivíduos vivem em relações de
cooperação, mas também de oposição, portanto, conflitos são parte mesma da
constituição da sociedade. Seriam momentos de crise, um intervalo entre dois
momentos de harmonia, vistos, portanto, numa função positiva de superação das
divergências. Influenciou assim as concepções do conflito presentes na obra de Lewys Coser e Ralf Dahrendorf.
·
pobreza: constitui um tipo de relação na qual o
indivíduo acha-se na dependência de outros, provocando, ao mesmo tempo, a
necessidade de assegurar o socorro social.
·
a individualidade: ela pode ser de dois tipos. Sua
forma quantitativa significa que todo indivíduo possui a mesma dignidade
formal, ou seja, são iguais entre si. Mas, do ponto de vista qualitativo, todos
procuram afirmar sua singularidade, sua personalidade, diferenciando-se dos
demais.
Assim, apesar do seu caráter fragmentado, o livro
"Sociologia" apresentou lançou as bases da orientação hermenêutica de
sociologia (depois retomada e aprofundada por Max Weber), bem como explorou
importantes temáticas da análise sociológica, como a questão do indivíduo e dos
grupos sociais. Muitos entendem que sua abordagem foi vital para o
desenvolvimento do que ficou conhecido como microssociologia, uma análise dos
fenômenos no nível das interações diretas entre as pessoas.
Microssociologia
Escrito em 1908, a Filosofia do Dinheiro de Georg
Simmel pode ser considerada como um dos grandes tratados que analisam
sociologicamente a vida moderna, como "O Capital" de Karl Marx,
"A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" de Max Weber e A
"Divisão do Trabalho Social", de Émile Durkheim. Dividido em duas
partes, este escrito realiza uma ampla abordagem fenomenólogica do dinheiro e,
a partir dele, vai desenhando sua influência e sua relação com os elementos
centrais da sociedade contemporânea.
A primeira parte, intitulada "analítica"
destaca os aspectos estritamente econômicos do tema e analisa a relação entre
valor e dinheiro (capítulo 1) e a relação do dinheiro com o valor substancial
(capítulo 2). A segunda parte, chamada de "sintética", destaca o
lugar do dinheiro na ordem teleológica (relação entre meios e fins, conforme o
capítulo 3), discute sua relação com a liberdade individual e os valores
pessoais(capítulos 4 e 5) e desemboca em uma análise do estilo de vida moderna
(capítulo 6).
Ao tomar o dinheiro como ponto de partida de sua
análise, Simmel procura mostra que a modernidade se caracteriza por traços
intrinsecamente ligados a vida monetária, como a aceleração do tempo, a
monetarização das relações sociais, ampliação dos mercados, racionalização e
quantificação da vida e inversão de meios e fins. O dinheiro é o deus da vida
moderna, afirma Simmel, mostrando como na modernidade tudo gira ao redor do
dinheiro e, ao mesmo tempo, o dinheiro faz tudo girar. Não se trata de afirmar
que no mundo contemporâneo tudo é determinado e explicado pela vida monetária, mas
de perceber que esta é uma manifestação e encarnação de traços que caracterizam
os traços sociais de nossa época. É neste sentido que a obra de Simmel é uma
das grandes interpretações sociológicas do mundo moderno.
Outro destacado tema da sociologia simmeliana foi
sua análise da vida urbana em um escrito intitulado Die Großstädte und das
Geistesleben [A metrópole e a vida espiritual], de 1903, traduzido
para vários idiomas e considerado um dos textos fundadores da chamada sociologia urbana.
Como o dinheiro, a vida nas grandes aglomerações urbanas é outro traço
fundamental dos tempos modernos. Analisando seu impacto sobre a sociabilidade e
a individualidade, Simmel destacou o fenômeno do embotamento dos sentidos. A
imensidade de estímulos gerados pelas intensas atividades urbanas
(intensificação da vida nervosa) tinham seu reflexo na personalidade do
indivíduo, gerando sujeitos que iam perdendo sua capacidade de relação com seu
meio circundante, tornando-se objetivos, impessoais, distantes e calculistas.
Nas palavras de Simmel:
A pontualidade, a
contabilidade, a exatidão, que coagem a complicações e extensões da vida na
cidade grande, estão não somente no nexo mais íntimo com o seu caráter
intelectualístico e econômico-monetário, mas também precisam tingir os
conteúdos da vida e facilitar a exclusão daqueles traços essenciais e impulsos
irracionais, instintivos e soberanos, que pretendem determinar a partir de si a
forma da vida, em vez de recebê-la de fora como uma forma universal, definida
esquematicamente."
A caracterização sociológica desta personalidade
social é o indivíduo blasé, atomizado, indiferente e distante do ambiente
social: "A essência do caráter blasé é o embotamento frente à distinção
das coisas; não no sentido de que elas não sejam percebidas, como no caso dos
parvos, mas sim de tal modo que o significado e o valor da distinção das coisas
e com isso das próprias coisas são sentidos como nulos".
Também são famosas as análises de Simmel sobre a
moda, a psicologia feminina, os círculos sociais, a carta, o segredo, a
conversação ou sociabilidade, o estrangeiro e outros aspectos elementares da
vida social, presentes no dia a dia. Por esta razão, Simmel é considerado um
dos precursores da microssociologia.
Dada a importância de sua sobra, ele influenciou
autores como Robert E. Park, Louis Wirth,
Ernst Burgess, Merton, Georg Lukács,
Leopold von Wiese, Ernst Bloch,
Karl Mannheim,
Walter Benjamin,
Theodor Adorno,
Max Horkheimer,
Max Weber,Max Gluckman
entre outros.
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