Hoje está sendo lembrado em
todo o Brasil, o genocídio e o sofrimento de milhares de negros durante e
depois da abolição na escravatura. O país teve, na sua curta história de 512
anos, 350 anos de regime escravocrata e apenas 114 anos de trabalho. Sendo que
trazidos a força da África 4 milhões de escravos, quase a metade foi importado
para outros países do continente americano.
Com os números acima, pode-se afirmar que o Brasil foi fundado e teve o seu desenvolvimento e a sua economia baseados no trabalho escravo, o que não deixa ninguém orgulhoso, muito pelo contrário. Só no Rio de Janeiro, entre os anos de 1790 e 1830, chegaram 700 mil escravos trazidos por cerca de 1600 navios. Em Salvador, segundo maior importador de escravos, também nessa época, os trabalhadores forçados representavam mais de 40% da população.
Neste dia 20 de novembro, o Movimento Negro reverencia o dia da morte de Zumbi dos Palmares, o líder do maior levante de escravos do país, o Quilombo dos Palmares, que tinha aproximadamente 20 mil negros. Esta data é considerada, pela consciência negra, mais importante que a de 13 de maio, o dia em que a Princesa Isabel, há 114 anos, assinou a Lei Áurea que aboliu a escravatura. Para o movimento a data da abolição é uma “data branca que reflete benevolência dos escravocratas e que busca apagar da memória da população o sofrimento de 3 séculos”.
Já em nosso município a data vem recebendo grande atenção,
muito disso em função da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003 que
incluiu a data no calendário escolar, tornando obrigatório o ensino sobre
história e cultura afrobrasileira nas escolas. Com isso, os professores devem
preparar aulas sobre história da África e dos africanos; luta dos negros no
Brasil; cultura negra brasileira; e o negro na formação da sociedade nacional.
Porém, quando tentamos buscar
informações sobre a escravidão em Serra Talhada, nada ou quase nada é
encontrado. A única fonte de pesquisa que se tem é o livro do ex-prefeito e
historiador Luiz Lorena, “Serra
Talhada. 250 anos de história. 150 anos de Emancipação política. Serra Talhada:
Sertagráfica,
2001”.
Autor do livro confirma que existiu escravidão na cidade, no entanto ele faz
uma ressalva que “os escravos viviam em regime de liberdade relativa” e “o
trabalho escravo não se revestia da crueldade levada a efeito na zona da
cana-de-açucar”( LORENA, 2001, p.109).
Segundo Luiz Lorena, “diariamente pela manhã, os
escravos ajaezavam os cavalos de fábricas (campeiros), vestiam o seu uniforme
de couro e depois do desjejum com escaldado de cuscuz com leite, demandavam à
caatinga “coruscante e áspera” do semi-árido. Campeavam livremente nos melhores
cavalos do seu senhor. Menor liberdade, tinham os filhos dos latifundiários.
Alem disso, “era mister cuidar bem da cavalaria que devia estar sempre pronta
na hora de segurar a cauda do barbatão. A ordenha das vacas era também
obrigação dos escravos.”
O ex-prefeito ainda acrescentou em seu livro que As
propriedades menores mantinham quase sempre uma ou duas escravas para o serviço
doméstico e na busca de água em barreiros e açudes. Além disso, as cativas se
dedicavam a atividades artesanais como, por exemplo: a fabricação de objetos de
barro, como o pote, panelas, e outros, bordando as roupas das sinhazinhas e no
“serviço de fiação manual de algodão descaroçando a unha para a produção da
matéria prima (fio) destinado à confecção de redes e cobertas, inclusive também
de tangas para vestir escravos” (LORENA, 2001, p. 109).
Mesmo com essas informações ainda fica difícil
traçar um perfil da escravidão na cidade, pois não são dados encontrados nos
cartórios locais o número de negros comprados e vendidos pelos proprietários de
terra, e nem tão pouco, sobre a existência de senzalas, práticas religiosas,
atividades culturais ou de algum local que tenha servido de refúgio. O que sem
de conhecimento são dados referentes a outras cidades, como em Flores, que
possuía único pelourinho da região do Pajeú, e das cidades de Triunfo e
Salgueiro, locais onde se estalaram respectivamente os quilombos de “Livramento”
e “Conceição das Crioulas”.
A construção da Igreja a primeira capela de Nossa
Senhora da Penha, serve atualmente como matriz à paróquia de Nossa Senhora do
Rosário, entre os anos de 1789/1790, é único registro do uso da mão de obra
escrava no desenvolvimento urbanístico de Serra Talhada.
Diante dos fatos, é possível dizer que existe uma
lacuna na história de Serra Talhada, e consequentemente, na história dos negros
na região, e que precisamos preenche lá, pois devemos nos lembrar do que isso
significará para as futuras gerações de serra-talhadense, além do mais,
precisamos nos reencontrar como o nosso verdadeiro passado, sem medo, sem
preconceito, sem rancor, pois só assim construiremos uma sociedade mais justa e
fraterna.
Fontes
Bibliográficas:
ABREU, J. Capistrano de. Caminhos antigos e povoamento do Brasil. São Paulo: Itatiaia, 1989.
ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. 2. ed. -. São Paulo: Brasiliense, 1964._____________________. Espaço, Polarização e Desenvolvimento. 5º ed. São Paulo: Editora Atlas S.A, 1987. Atlas Escolar de Pernambuco. Editora Grafset.
Bacias Hidrográficas de Pernambuco. 2006.
BARBALHO, Nelson. Fundação de
Desenvolvimento Municipal do Interior de Pernambuco; CENTRO DE ESTUDOS DE
HISTÓRIA MUNICIPAL (RECIFE, PE). Cronologia pernambucana: subsídios para a
história do Agreste e do Sertão. Pernambuco: Fundação de Desenvolvimento
Municipal do Interior de, 1982-1988.16v.