Flores, Pajeú, ou Pajeú de Flores
como se dizia antigamente, fica na zona outrora denominada Sertão do
Rodelas, capitania do rio S. Francisco, na compreensão da paróquia de
Cabrobó, e as suas terras, como as de toda zona norte afora das margens daquele
rio até as abas da serra do Araripe, pertenciam então, em grande parte, ao
mestre-de-campo Francisco Dias d’Ávila, da casa da Torre, da Bahia, originárias das
grandes datas de sesmarias concedidas a seu pai pelos governadores de
Pernambuco.
Situado às margens do rio Pajeú um
arraial(lugarejo de caráter provisório, temporário) de índios mansos,
tapuias, a insalubridade da povoação de Cabrobó, situada junto ao rio S.
Francisco, levou a um dos seus párocos a fixar a sua residência naquela
situação de clima saudável e ameno, fertilíssima, e de boas água, e onde
já não chegavam, pela sua distância, as moléstias próprias daquela povoação,
particularmente as chamadas carneiradas.
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-OS IRMAOS AFONSO EM FLORES E A LENDA DO SEU TESOURO
“Segundo Euclides da Cunha, a
primeira viagem de Domingos Afonso Sertão ao arraial do Pajeú. teria
sido entre 1.660 e 1.670. Há, todavia, em Flores, documentação que prova ter sido
a primeira fazenda ali montada nos idos de 1.650, época em que o grande
sertanista da Casa da Torre batizara essa ex-aldeia com o belíssimo nome de Pajeú
das Flores. “ Domingos Afonso
tinha um irmão chamado Julião Afonso Serra, que o acompanhava naquelas
aventuras pelos desvãos do Nordeste. É provável que aqueles irmãos Afonso
tenham estado no vale do Pajeú, especialmente em Flores, na administração
de suas sesmarias e fazendas.“Contava o velho batedor Manuel Latão,
entre outros estórias,” --- diz Luís Wilson. --- “que às margens do
Pajeú chegara, antigamente, Um grupo de bandeirantes, tendo à frente um cidadão
chamado Julião Afonso. Viera trazendo gado e fabulosa riqueza em
ouro, prata e pedras valiosíssimas e raras, enviado, talvez, pelos d’A vilas,
para aquela região. Desentendendo-se com os índios “quesqués,” procurou um
lugar distanciado, não só para abrigar seu grupo, mas onde pudesse esconder a
fortuna que trazia, encontrando-o em Sabá,” hoje no município de
Custódia. “Milhares de esmeraldas, rubis e outras pedras preciosas e 300
arrobas de ouro e prata em barras, foram escondidas em uma das gargantas de uma
serra local que, desmoronando, numa noite de inverno, sepultou, a 50 metros de
profundidade, sob espessa camada de granito, o tesouro dos Afonsos.
“ “Em 1.710 era nomeado primeiro encarregado dos
negócios da Casa da Torre de Garcia d’A vila em Flores, um sobrinho de Domingos
Afonso, Domingos Afonso Sobrinho. cognominado, depois, Afonsinho. E
desde essa nomeação, até a segunda e a terceira, respectivamente, nas pessoas
de Pedro José Delgado(1.738) e José Soares da Silva(1. 759),
muito teríamos a relatar,,.” De qualquer forma pode-se afirmar que somente num
século, de 1.660 a 1.760, a epopéia da Casa dos Ávilas, nas terras
propriamente ditas do Pajeú das Flores, não encontraria rival no
relato da colonização, mesmo que a este se juntasse o romantismo das
bandeiras.”16
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1696 - Veio daí a
formação de um povoado naquele arraial, de que já encontramos notícia positiva
em 1696, como se vê da nomeação de Sebastião Lima, para comandar, com o posto
de capitão, a companhia de ordenanças do Pajeú, e ainda em 1706, como
consta da patente de capitão de ordenanças do Distrito do Pajeú, conferida a
Pedro Leite de Oliveira pelo capitão-mor da vila de Penedo, em virtude de
autorização a respeito conferida pelo governador D.Fernão Martins Mascarenhas
de Lencastro.
1741 – Posteriormente
foram os índios do referido Arraial convenientemente aldeiados, cuidando-se de
sua catequese e civilização, e daí a Aldeia de Santo Antonio de Pajeú, que
existia já regularmente constituída em 1741, sob a direção do padre Frei Lino
da Cruz, religioso franciscano do convento de Recife, a cuja ordem estava
confiada a missão, e na qual se conservaram os padres capuchos, bem como em
outras diversas missões até os anos de 1760 quando foram dispensados.
02 DE JANEIRO DE 1749 – Uma capela antiga,
sob a invocação de N.S. do Rosário, fundada na povoação por uma associação de
pretos escravos, em data ignorada; mas, constituindo o seu patrimônio
canônico pelo mestre-de-campo Francisco Dias d’Ávila por escritura de 2
de janeiro de 1749, verifica-se que a sua fundação vem dessa época.
1774 – Em 1774 fazia
parte do julgado(divisão territorial sobre a qual tem jurisdição o juiz ordinário ) de Tacaratú, como
encontramos, mas em 1776 já a aprovação estava constituída em julgado
independente, com o seu respectivo juiz ordinário, e um tabelião público.
1780 – Em 1780
havia um capitão dos forasteiros da Ribeira do Pajeú, e um capitão-mor dos
homens nobres da mesma ribeira.
1781 – Em 1781 um
sargento-mor dos forasteiros da classe dos homens pardos, cuja jurisdição se
estendia ao Riacho do Navio;
1782 – Em 1782 tinha um
coronel das conquistas;
1784 – E em 1784 já tinha
organizadas as suas tropas de infantaria de ordenanças.
11 DE SETEMBRO DE 1783 – Nesta data foi
expedido um alvará criando a paróquia de N.S. da Conceição de Pajeú de
Flores, sendo o seu território desmembrado da de Cabrobó, e instalada
pelo vigário João de Santana Rocha, na antiga capela de N.S. do Rosário.
Posteriormente, com o desenvolvimento
da localidade, foi aquele templo substituído por uma igreja, de boa
arquitetura, e incorporada uma irmandade de N.S. do Rosário, sua
padroeira, que perdurou por muitos anos, celebrando sempre as suas festividades
com muita solenidade; mas passando a servir de igreja matriz por concessão da
irmandade dos pretos , mudada a sua invocação para a de N.S. da Conceição
padroeira da paróquia, feitas várias obras de reparos e ornatos graças à
iniciativa e esforços do vigário Pedro Manuel da Silva Burgos, e reconstruída
em 1861 pelo padre capuchinho Frei Serafim de Catânia, em missões na
localidade, é hoje um suntuoso templo, de apurado gosto artístico, e mesmo
luxuoso nas suas disposições e ornamentações internas.
Para melhor regularidade do serviço
religioso da igreja matriz, resolveram os moradores da localidade, em 1854, de
acordo com o missionário capuchinho Frei Caetano de Messina e com o pároco da
freguesia o padre Pedro Manuel da Silva Burgos, instituir uma irmandade
do SS. Sacramento, sendo o seu respectivo compromisso aprovado em
mesa-geral de 20 de agosto de 1854, ficando a corporação instalada pelo
artigo primeiro do mencionado compromisso. Aprovado na parte religiosa em 12 de
abril de 1855 teve depois a civil, ficando assim legalmente instituída a
corporação.
Em virtude de disposições daqueles
estatutos, corria por conta da irmandade as festas de corpus Christi e
de N.S. da Conceição, padroeira da igreja, e outros atos religiosos; e
a prestação de sepultura aos irmãos da confraria, seus filhos e escravos.
15 DE JANEIRO DE 1810 – Nesta data foi expedido um Alvará com
força de Lei criando a comarca do sertão de Pernambuco,
desanexando da antiga (Comarca de Pernambuco) algumas vilas e julgados e erigindo
em vila as povoações de Pilão Arcado e de Flores na ribeira do
Pajeú, e cujo alvará continha o sinal Régio do Príncipe – Conde de Alvor.
Com a criação da Comarca do Sertão de
Pernambuco, pelo Alvará com força de Lei de 15 de janeiro de 1810, ficou
o julgado de Flores fazendo parte da mesma comarca, e em
observância do referido Alvará teve a sua povoação o predicamento de vila, como
propusera o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro e
ficando esta (Flores) como sede da comarca, - por ter suficiência para isso,
ser uma grande povoação, com brejos férteis nas serras vizinhas, que abundam de
mantimentos, já com alguma cultura do algodão que se transporta para esta praça
do Recife, a ela não chegar às moléstias do rio S. Francisco, e nem mesmo ser
atingida nas maiores epidemias havidas naqueles sertões, - como escreve o
referido governador em ofício de 22 de julho de 1805 dirigido ao ministro
visconde de Anadia, propondo a criação da dita comarca.
26 DE MAIO DE 1811 – Foi instalada a
vila de Flores, pelo Desembargador ouvidor-geral e corregedor da comarca do
sertão Dr. José Marques da Costa, no prédio da sua residência; no dia seguinte teve
lugar o levantamento do pelourinho da vila, no local destinado para construção
do paço da câmara do senado e cadeia (local da atual prefeitura) recitando
então o ouvidor um breve discurso; a 28 de maio do mesmo ano teve lugar à
eleição das justiças e pessoas da governança da vila, que a 30, deferido
o competente juramento, foram empossadas nos seus cargos; a 31 celebrou o
ouvidor a sua primeira audiência geral de provimentos, e de assinação do
patrimônio da câmara; e a 7 de junho procedeu-se à eleição do capitão-mor da
vila.
Para câmara saíram eleitos: juizes
ordinários, Manuel Lopes Barros e João da Graça Sampaio; juiz de órfãs,
o capitão Pedro José Delgado; vereadores, João Luis de Sousa Rangel,
Manuel Felix de Veras, e Simão Pedro de Santana Rocha; e procurador
Antonio de Paiva Matos, cujos funcionários prestaram o competente juramento e
tomaram posse dos seus cargos na casa do ouvidor, por ainda não ter a câmara um
prédio próprio para as suas funções.
O PRIMEIRO PREFEITO
Apesar de o cargo de prefeito municipal
só ter sido criado com o advento da República, a verdade é que durante seis
anos, entre 1.836 a 1.842 vigourou na provincia a instituição das
"prefeituras das comarcas" criadas pela Lei Provincial de Nº 13, de 7
de maio de 1.836, ao tempo do Presidente Francisco de Paula Cavalcanti de
Albuquerque. Foi neste período que o Major Francisco Barbosa Nogueira Paz foi
eleito prefeito de Flores com 353 votos. Passando o mesmo para História como um
célebre "prefeito" de Flores e em verdade assinava os documentos
oficiais que expedia, intitulando-se " prefeito da Comarca"17
LOCALIZAÇÃO
A cidade de Flores fica a margem
direita do rio Pajeú, em terreno um tanto acidentado e pedregoso, e a 263
quilômetros da estação de Pesqueira. Tem além da sua igreja matriz, um
belo templo, o edifício da cadeia, a mais importante do interior do
Estado, cujas obras, iniciadas em 1872, foram concluídas em 1881; um
cemitério com capela, fundado em 12 de dezembro de 1853 por Frei Caetano de
Messina, e concluído pela irmandade do SS. Sacramento da igreja matriz; e dois
açudes nas vizinhanças da cidade.
O NOME DE FLORES
Sobre o nome de Flores, imposto
à povoação, e depois extensivo a todo o município, há duas correntes na
localidade, parecendo-nos, porém, preferentemente aceitável, a que se prende à
existência de uma fazenda de gados, em tempos remotos, no próprio local em que
está situada a cidade, conhecida como Fazenda dos Flores, do apelido de
família dos seus primeiros proprietários, e depois por Pajeú de Flores,
por ficar à margem direita do rio daquele nome, que nascendo na serra de
Jacarará, atravessa todo o município, e passando por outros deságua no S.
Francisco. Naturalmente extinta aquela fazenda pastoril, com o desenvolvimento
da povoação, ficou, porém uma propriedade conhecida por Sítio das Flores,
pertencente à casa da Torre, da Bahia, como encontramos em documento local de
1756. Enfim, teve Flores a sua constituição de município autônomo em
1893, com a posse do seu respectivo conselho municipal.
DATAS HISTÓRICAS DO MUNICÍPIO DE FLORES
18
(1)*Criação da Comarca do Sertão de Pernambuco, e da vila de FLORES 15 de
janeiro, 1810
(2)*Instalaçãoda Câmara e levantamento do pelourinho 27 de maio, 1811
(3)*Criação da Comarca de Flores 20 de maio, 1 833
(4)*Transferéncia da sede do município e da comarca, para a povoação de
Serra Talhada 06 de maio, 1851
(5)*Recriação do município de Flores 26 de maio, 1858
(6)*Reinstalação da Câmara 14 de fevereiro 1 859
(7)*Constituição do município(com base no art. 2° das disposições gerais
da Lei N°. 52 de 03/08/1892 02 de agosto, 1893
(8)*Elevação a cidade 01 de julho 1909 -Lei Estadual n. 991, de
01/07/1.909, Art. 3°.., § 4°..
(9)*Restauração da comarca 13 de junho 1934 -Decreto Estadual N°.
305 de 13/06/1.934.
DATA CÍVICA DE FLORES - UM EQUÍVOCO
A data cívica de Flores é comemorada em cada dia 11 de setembro. Existe
um equívoco nessa Comemoração. O dia de que se trata é 11 de setembro de
1.783, quando, por um Alvará do governo de José César de Menezes,
foi criada “a paróquia de Nossa Senhora da Conceição do povoado de Pajeú de
Flores, no alto sertão pernambucano, sendo o território desmembrado do da
freguesia de Cabrobó” e a instalação da paróquia efetivada pelo vigário
João de Sant’Ana Rocha.” Evidente, que a simples criação da paróquia não teria
o condão de conferir ao povoado foros de vila, nem de cidade e muito menos sua
futura identidade municipal. O Prof. José Aragão,(”História da Vitória de
Santo Antão,” Vol. 1, pg. 88), esclarece: “Sempre que um núcleo habitacional
atingia certa importância, obtinha, primeiramente, a autonomia eclesiástica,
como paróquia ou freguesia. Logo depois, se o seu desenvolvimento o
justificava, adquiria, ou por iniciativa do Governo, ou a pedido da população,
a emancipação político-administrativa, tornando-se Vila, ou seja município
emancipado de outro, do qual era desmembrado, com jurisdição sobre determinado
território, que se chamava o seu termo.” Em 11 de setembro de 1.783, Flores
adquiria, portanto, nada mais que sua autonomia eclesiástica. Por isso mesmo, a
data, sem deixar de ser importante sob o prisma religioso, nada tem de cívica.
A autonomia política somente foi adquirida em 15 de janeiro de 1.810, com o
Alvará Régio que erigiu a povoação em Vila. Em 27 de maio de 1.811,
instalava-se a Vila de Flores e erigia-se o pelourinho. O equívoco da data
cívica hoje em dia ali festejada, criou-se com um projeto de lei enviado à
Câmara Municipal pelo então prefeito Antônio Luiz de Albuquerque, no dia
1 de setembro de 1.969 e aprovado já no dia seguinte, em cujo Art. 1º..
se lia: ‘Fica o poder executivo autorizado a estatuir feriado municipal o dia
11 de setembro. em homenagem à autonomia do município, que adquiriu foros de
cidade em 11 de setembro de 1.783.” Sem qualquer dúvida, o feriado maior de
Flores deve ser comemorado em 15 de janeiro,(de 1.810), data do Alvará Régio
que criou a Vila ou, se for o caso, numa outra opção correta, 27 de
maio(l.811), quando foi ela devidamente instalada.
PREFEITOS DE FLORES APÓS A REPÚBLICA
Tenente Coronel Pedro Pessoa de Siqueira Campos – 17/08/1892
José Alves de Goes e Melo (Coronel Dodô) – 1895
Eugostórgio Gomes Patriota – 1898
José Alves de Goes e Melo – 15/11/1901
João do Nascimento Lopes Barros – 15/11/1904
José Alves de Goes e Melo – 15/11/1905
João do Nascimento Lopes Barros – 15/11/1909
José Medeiros de Siqueira Campos – 1913
Coronel Saturnino Bezerra da Silva – 1916
Coronoel Alntônio Medeiros de Siqueira Campos – 1917 a 1919
Tenente Coronel Saturnino Bezerra da Silva – 1920 a 1922
Manoel de Souza Santana (Neco) – 1929 a 1932
José Domingos Tavares – 01/07/1932 a 02/07/1935
José de Souza Dantas – 03/01/1933 a 02/07/1935
José de Souza Dantas – 02/07/1935 a 1937
José Bené de Carvalho – 1937 a 30/06/1939
Benedito de Souza Dantas – 1939 a 05/09/1944
José de Souza Santana – 1944 a 12/11/1945
Davino Ribeiro de Sena – 1945 a 21/03/1946
José de Souza Santana – 21/03/1946 a 26/11/1946
Durval Pereira de Cunha – 36/11/1946 a 30/01/1947
José de Souza Santana – 30/01/1947 a 30/06/1951
Manoel de Souza Santana Filho – 01/07/1951 a 02/11/1952
Pedro Santos Estima – 01/01/1953 a 14/11/1955
Arnaud de Souza Santana – 15/11/1955 a 01/08/1959
Pedro Santos Estima – 01/08/1959 a 14/11/1963
Arnaud de Souza Santana – 15/11/1963 a 14/11/1968
Antônio Luiz de Albuquerque – 15/11/1968 a 14/11/197
Arnaud de Souza Santana – 15/11/1972 a 25/12/1975
Zilda Monteiro de Siqueira Campos – 26/12/1975 a 30/01/1977
Manoel Custódio de Souza Santana – 31/01/1977 a 30/01/1983
Edilton Florentino Santana – 31/01/1983 a 31/12/1988
Wilson Florentino Santana Júnior – 01/01/1989 a 31/12/191992
Arnaldo Pedro da Silva – 01/01/1993 a 31/12/1996
Gilmar Alves de Queiroz – 01/01/1997 a 31/12/2000
Arnaldo Pedro da Silva – 01/01/2001.
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Transcrito
do livro: “Anais Pernambucanos” de Francisco Augusto Pereira da Costa – Vol-VI
Fls. 416 a 421
16 - M. Ribeiro -
Revista do Instituto Arqueológico acima referida.
17 - Belarmino de Souza
Neto - Flores do Pajeu - Fl.134
18 - Belarmino de Souza
Neto - Flores do Pajeu - Fl.134