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domingo, 31 de março de 2013

Lampião no banco dos réus


Paulo César Gomes, professor, escritor e pesquisador.


Lampião foi absolvido! Essa frase que é recheada de elementos que perturbam a cabeça de curiosos e estimula o trabalho de pesquisa de estudiosos do cangaço no Brasil e no mundo, foi dita em alto em bom tom no dia 13 de abril de 2002, no Sítio Passagem das Pedras, a 46 Km da cidade de Serra Talhada – PE, ao lado da casa onde Lampião nasceu. Nesta data ocorreu o julgamento (simulado) do Rei do Cangaço, um evento que foi organizado pela Fundação Cultural Cabras de Lampião, presidida pelo escritor pesquisador Anildomá Willans de Souza (Domar).

O julgamento foi conduzido pelo juiz Assis Timóteo Rodrigues, que na época atuava pela Comarca de São José de Belmonte; a defesa de Lampião foi feita pelo advogado Franklin Machado e a acusação pelo historiador e ex-prefeito Luiz Lorena (representando o Ministério Público). O conselho de sentença – que foi formado após sorteio – era composto de intelectuais, historiadores e advogados de vários estados do Nordeste. Virgolino Ferreira da Silva foi representado pelo saudoso ator, poeta e coreografo Gilvan Santos.

O evento atraiu pessoas de diversas regiões do Brasil, somando cerca de 400 pessoas, inclusive estudantes de História e Turismo das universidades do Rio Grande do Norte e Pernambuco. Durante duas horas e meia, essa plateia acompanhou atentamente sob o sol da caatinga os ataques e defesas em torno da figura lendária e controversa de Lampião, o maior dos cangaceiros.
Lampião foi bandido sim! Praticou e o foi vítima de atrocidade, e isso ninguém será capaz de mudar, mas não podemos negar que a sua história é repleta de simbolismo e cultura, fatores que são não podem serem desprezados pela nossa população. Eventos como o que narrei aqui, ajudam a promover o nome de Serra Talhada no cenário regional, nacional e mundial, o que passar a ser uma forma legitima de recuperar todo o prejuízo econômico provocado pelo cangaço.

“Absolvê-lo é condenar a história da minha Serra Talhada”, apelou exaustivamente, o promotor Luiz Lorena. Já a defesa recorreu a elementos históricos, como a impunidade dos coronéis, os esbulhos de terra, a perseguição aos pobres, para apontar Lampião “como um fruto do meio”. Em determinados momentos, dava-se a impressão que Lampião estava em carne e osso no sítio, tal era o envolvimento da plateia, dos advogados e do juiz Assis Timóteo.

Após ouvirem as alegações da acusação e da defesa, cada jurado declarou o seu voto e, coube ao ex- presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) – seção Serra Talhada –, Jânio Carvalho, o voto que absolveu Lampião pelo placar de 4×3. Emocionada, a neta de Lampião, Vera Ferreira, abraçou calorosamente o ator que representou o seu avô. Após a leitura da sentença, o escritor Hilário Luceti (Crato – CE), que fez parte do júri e pediu a condenação de Lampião, expressou o seu desejo de recorrer da sentença.

Mas o juiz Assis Timóteo esclareceu que por se tratar de um júri popular simulado, não cabiam recursos e nem apelações uma vez que essas regras não foram estabelecidas. Na verdade, Lampião já fora inocentado em outubro de 1997 pela prescrição do último processo que tramitava contra ele. O juiz Clóvis Silva Mendes, que na época ocupava a comarca de Serra Talhada e de Flores, inocentou Lampião de uma ação datada de 1928. Nesse processo o cangaceiro era acusado de matar três homens em 1925.

Independente de todas as controversas, ou não, que rodeiam o universo no qual foi edificada a figura de Lampião, uma coisa é certa, a história do cangaço e do povo nordestino é encantadora, marcada por passagem de lutas e de pioneiros. Uma expressão verdadeira da identidade cultural e social do povo brasileiro.

Lampião foi bandido sim! Praticou e o foi vítima de atrocidade, e isso ninguém será capaz de mudar, mas não podemos negar que a sua história é repleta de simbolismo e cultura, fatores que são não podem serem desprezados pela nossa população. Eventos como o que narrei aqui, ajudam a promover o nome de Serra Talhada no cenário regional, nacional e mundial, o que passar a ser uma forma legitima de recuperar todo o prejuízo econômico provocado pelo cangaço.

Publicado no site Farol de Notícias de Serra Talhada, em 31 de março de 2013.

terça-feira, 26 de março de 2013

Cativos da Rainha da Borborema e a História Social Inglesa


Paulo César Gomes[1] 

O objetivo do trabalho de pesquisa Cativos da Rainha da Borborema: uma história social da escravidão em Campina Grande-século XIX, de autoria do Professor Luciano Mendonça (UFCG), é apresentar a dinâmica da escravidão num município periférico no contexto do Império brasileiro, priorizando o processo de formação de uma cultura de resistência escrava ao longo do século XIX. O município em questão é Campina Grande, cidade localizada no agreste do estado da Paraíba, e que teve na instituição do cativeiro de africanos e seus descendentes uma de suas características mais marcantes, não obstante o silêncio estabelecido pela maior parte dos autores que trataram do assunto.

Partindo do questionamento dessa lacuna histórica e ideológica, trabalho reconstitui tópicos tais como o ambiente social, econômico e político em que os cativos campinenses construíram a sua experiência; os traços demográficos da escravidão em âmbito local, com especial destaque para o precoce crioulização de sua escravaria; o processo de trabalho em sua dimensão cotidiana; a importância do parentesco consanguíneo e espiritual no processo de formação de uma comunidade escrava de interesses; as variadas estratégias de lutas da escravaria local por dignidade e liberdade, expressas na criminalidade, no movimento de fugas e nos embates jurídicos com seus senhores, que foram atos propiciadores de um substrato político e cultural fundamental para a construção de uma identidade escrava forjada no tempo.

A metodologia do trabalho envolveu pesquisa direta em fontes históricas escritas e leitura de bibliografia de apoio. Conceitos como Cultura, Experiência, Luta de Classes, Classe Social, Paternalismo e Economia Moral da Multidão são importantes na construção de significados deste trabalho, mas não são tomados como fórmulas acabadas, e sim como pontos teóricos que desafiam a produção de conhecimento teórico novo.

Em termos de perspectivas teóricas, metodológicas e historiográficas, a obra ancorou-se nos ensinamentos da história social inglesa, que teve com principais nomes (Eric Hobsbawm, Edward Thompson e Christopher Hill). Nos procedimentos de investigação da micro-história italiana, além da rica e diversificada tradição de estudos sobre o escravismo em nosso país.

O trabalho de Luciano Mendonça é sustentado com base nas propostas teóricos de E. P. Thompson. O historiador da escola social inglesa coloca os homens na condição de sujeitos e históricos. Para ele, são as ações humanas que explicam as configurações históricas, eliminando assim o determinismo.

Pelo fato dos homens serem as criaturas históricas e que eles são os construtores das condições em que atuam, mas também são condicionados por elas a partir das relações estabelecidas no âmbito social entre indivíduos e grupos, levando a tensão dialética entre liberdade e determinação, estrutura e processo, cujas relações têm múltiplas dimensões, tais como: políticas, morais, econômicas, culturais, jurídicas etc., se relacionando assim de maneiras particulares e dentro de campos de possibilidades determinadas sem espécies sobre determinações.


Durante muito tempo a resistência foi encarada como um fenômeno reativo ao processo de exploração e opressão sofrido pelos cativos, geralmente concentrado em momentos especificados que se manifestavam em certas ocasiões, a exemplo da irrupção das insurreições, a formação dos quilombos e os crimes cometidos contra seus algozes pessoais e de classe.

Dos seus descendentes tenderam a vê-las ora fenômenos folclorizados, ora como expressões De sistema auto-referentes resultantes de uma suposta herança africana pura ou mesmo de rituais já produtos de crioulização nos trópicos, cujos exemplos maiores seriam as religiões Da matriz africana, a capoeira e o samba. Em primeiro lugar, nesse novo quadro a resistência escrava ganha uma nova conotação, Ao deixar de ser associada apenas aos movimentos coletivos e violentos de constatação à exploração escravista, sendo vista, ao contrario, em suas muitas manifestações, lavradas na vivência do dia a dia de homens e mulheres escravizados.

É impossível entender a resistência escrava sem atentar para o substrato político e cultural que a preside. Nesse sentido, foi importante o dialogo com a tradição da história social inglesa, a principal fonte de inspiração para o desenvolvimento da pesquisa, pois, possibilitou de operacionalização de alguns de seus principais conceitos da referida escola, particularmente seus desdobramentos sobre a historiografia da escravidão nas Américas.

Convém lembrar que a história social surgiu no contexto Político e intelectual dos anos 1950/1960, tanto como uma reação à “história inglesa oficialmente correta” quanto contra todas as formas de estruturalismo, cuja ideia matriz de transformar a história num Processo sem sujeito ameaçava contaminar o materialismo histórico, tradição de onde provinha o próprio Thompson.

Na visão thompsoniana a perspectiva da totalidade deve estar sempre no horizonte do historiador. Esse deve sempre estar munido de hipóteses iniciais que inquiram os fatos e as determinações objetivas, resultando assim na produção do conhecimento histórico. Esse processo tem como elemento unificador a “lógica histórica”, entendido como um: “um método lógico de investigação adequado a materialismo históricos, destinado, na medida do possível, a testar hipóteses quanto à estrutura, cassação etc., e a eliminar procedimentos autoconfirmadores (“ instâncias”, “ilustrações”).

Thompson também formulou o que ele mesmo denominou de “conceitos de junção”, um antídoto contra os perigos do determinismo e do reducionismo.

Como, ainda segundo Thompson, a história é a disciplina do contexto e da mudança, só faz sentido encarar a cultura como um fenômeno histórico. Assim, o historiador deve estar atento à dinâmica dos rituais, das tradições e dos costumes de uma sociedade historicamente determinada, vistos como terrenos de disputas e conflitos, que tanto podem reforçar a dominação social e a teatralização do poder, como favorecer a resistência e a reais e simbólicos.

Para formular o seu próprio conceito, Thompson evoca Antônio Gramsci e sua se noção de hegemonia, para lembrar que nenhuma dominação social se mantém apenas pelo uso da força, trazendo consigo importantes mecanismos de persuasão.
A contribuição de Thompson para a historiografia contemporânea ficaria incompleta se não destacássemos um ponto fundamental de seu pensamento, que foi o de propor a ideia de uma história “vista de baixo”.

Em termos teóricos-metodológicos , esse trabalho foi fortemente inspirado pelo debate travado nos anos de 1970 e 1980, dentro da tradição marxista e da Escola dos Annales, em torno da teoria dos modos de produção, e pela discussão correlata sobre a natureza da agricultura brasileira. Subjacente e tudo isso, a critica aos esquemas explicativos usuais que tendiam a transforma o passado agrário brasileiro numa grande plantation, com o seu conhecimento caráter generalizador.

Importante ressaltar presença significativa na obra das reflexões metodológicas apresentadas por Carlo Ginzburg sobre a necessidade de o historiador ter “faro, golpe de vista, intuição”. Esse mesmo historiador e teórico italiano defende o uso do paradigma indiciário nas ciências humanas porque consiste na interpretação dos fatos a partir de partes que o constituem, ou seja, interpreta os fatos com o auxílio de indícios ou sinais que permitem decifrar uma verdade quase sem percepção.

Com este trabalho de pesquisa, Luciano Mendonça, comprova que o tema da escravidão ainda não está esgotado, independente da localidade ou região do país, além de aplicar com muita qualidade os métodos da escola social inglesa, em particular de Thompson. Sendo assim, os Cativos da Rainha da Borborema: uma história social da escravidão em Campina Grande-século XIX, torna-se um importante referencial para os jovens pesquisadores e estudiosos da escravidão no Brasil.

[1]Professor de História Geral e bacharelando em Direito pela FIS.



Publicado no webartigos: http://www.webartigos.com/artigos/cativos-da-rainha-da-borborema-e-a-historia-social-inglesa/105762/#ixzz2Oh9k3P6A

segunda-feira, 25 de março de 2013

Dilma governa melhor do que Eduardo


Por Paulo César Gomes, professor, escritor e historiador serratalhadense

Desde janeiro de 1991 que um Presidente da República não visita a cidade de Serra Talhada, o último foi Fernando Collor (PTB), que veio inaugurar um programar federal de distribuição de alimentos no bairro da Cagepe. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) esteve na zona rural do município, em abril de 1996, quando inaugurou a Barragem de Serrinha. Sendo assim, Dilma Rousseff (PT), que estará na cidade nesta segunda (25), irá quebrar uma escrita que já dura mais de 22 anos.

A visita de Dilma a Serra Talhada, e consequentemente a Pernambuco, estado governado pelo presidenciável Eduardo Campo (PSB), está transformando a inauguração da Adutora do Pajeú em ato político de repercussão nacional. O primeiro fato a ser destacado nessa visita é a importância da Adutora para a região, já que a obra vai beneficiar milhares de famílias que vivem sentindo na pele, e no bolso, os efeitos da maior seca dos últimos do últimos 50 anos.
Outro fato importante será a presença de Dilma e Eduardo Campos juntos pela primeira vez em um ato público desde que o governador fez críticas à gestão de Dilma. O encontro de dois dos  principais nomes para a campanha presidencial em 2014 nos leva a refletir sobre os projetos políticos de cada um. Em uma análise superficial é possível dizer que Dilma é melhor do que Eduardo. Essa conclusão é baseada em fatos e em números.
O governo de Dilma vem sendo marcado pelo equilíbrio, mesmo com uma crise financeira mundial que a cada mês faz uma nova vítima. A presidenta tem procurado resolver as crises políticas sem se desgastar, entre os exemplos estão às mudanças feitas na sua na equipe de ministros ainda no seu primeiro ano de governo. Dilma tem procurado se manter distantes das polêmicas criadas pela mídia, pela base aliada e pela oposição.

Outro detalhe importante é que ela não está discriminando nenhum adversário político, por isso é que a governadora do Rio Grande Norte, Rosalba Ciarlini (DEM), que não é aliada, já fez declarações sobre a sua “simpatia” pela reeleição da petista. As conquistas sociais também merecem destaque. Segundo o relatório do Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento (PNud), o Brasil vem reduzindo a pobreza em função de ações desenvolvidos pelo governo federal que possibilitam a transferência de renda, geração de renda na área rural e acesso ao mercado de trabalho. No entanto, são algumas atitudes da presidenta que vem sensibilizado e aumentando o carinho dos brasileiros com ela.
Isso ocorre porque a população começa a se identificar com o estilo da presidenta, principalmente quando ela deixa aflorar o seu lado feminino e não contem a emoção e vai às lágrimas, isso aconteceu em momentos importantes como no massacre da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo – RJ, na abertura dos trabalhos da Comissão da Verdade (que tem como objetivo investigar violações dos direitos humanos entre 1946 e 1988, período que inclui a Ditadura Militar), em Brasília–DF e na tragédia da boate Kiss em Santa Maria-RS. Por isso é que (segundo os números divulgados na última terça-feira,19) a aprovação da presidente é de 79%, sendo que no nordeste é 85%.

Já Eduardo Campos é um governador que se esconde por trás de uma “máscara” feita à base de muito marketing e da lei do silêncio que impera na imprensa pernambucana. Essa “prática fascista” impede que a população conheça a outra face do governo socialista. A maioria dos pernambucanos não sabe que as estradas estaduais estão abandonadas, os hospitais estão superlotados e com falta de médicos, as escolas públicas estão sucateadas e os professores recebendo o pior salário do Brasil, o estado é um dos mais violentos do Brasil.
Sem contar que o governador adora perseguir adversários, desde políticos, jornalistas e ate sindicalistas. É por essas e por outras que é Eduardo é conhecido como “Dudu Malvadeza”, “Eduardo mãos de tesouras” e “Bonitinho, mais ordinário”. Entre Dudu Malvadeza e o poste de Lula, eu prefiro “o poste”! Pois vêm se mostrando mais eficiente e dinâmica, sem contar que ela é mais transparente e fiel do que o “socialista do Paraguai”!

Publicado no site Farol de Notícias de Serra Talhada, em 25 de março de 1977


segunda-feira, 11 de março de 2013

Eduardo Campos, as semelhanças com Collor e o obstáculo tucano


Por Paulo César Gomes, professor e escritor serra-talhadense

A candidatura de Eduardo Campos (PSB) a Presidente da República torna-se a cada dia irreversível, isso fica claramente comprovado quando analisamos os movimentos do governador, que em geral, são direcionados com foco nesse objetivo político. No entanto, existe um obstáculo perigoso no caminho do socialista, e esse perigo não é o PT, e sim, o PSDB. Soma-se a isso a inevitável comparação com a caminhada que levou Fernando Collor ao Palácio do Planalto.

Após a ruptura política entre Eduardo Campos e o PT, em Recife, durante a campanha eleitoral em 2012, ficou evidente que o governador não é refém do PT e nem tão pouco têm medo dos petistas. Na verdade o maior obstáculo está no PSDB com a candidatura do senador Aécio Neves. Isso ocorre porque Eduardo precisa consolidar o seu nome junto ao eleitorado do sul e sudeste do País, que coincidentemente são os maiores redutos eleitoral dos tucanos. Além disso, o seu discurso de renovação e de gestão bem sucedida também será usada por Aécio Neves. Com o Aécio no páreo, a possibilidade de Eduardo enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT) em um provável segundo turno se torna remota.

Outro fato que vem chamado a atenção é a semelhanças entre a caminhada de Eduardo Campos, ainda como pré-candidato, e a do ex-presidente Fernando Collor (PTB), realizada em 1989. Os dois foram governadores de estados nordestinos ainda jovens e pregaram durante os mandatos um discurso de gestão eficiente e de bons resultados. Os dois lançaram-se candidatos sem o apoio do Presidente da República e por partidos sem grande prestígio em âmbito nacional. O curioso é que os dois são formados em economia e são herdeiros políticos de famílias tradicionais da região nordeste. Diante de tantas semelhanças fica a pergunta: Eduardo Campos vai colorir o Brasil assim como fez Collor?

 Um forte abraço a todos e a todas e até a próxima!

Publicano no site Farol de Notícias de Serra Talhada, em 11 de março de 2013.

terça-feira, 5 de março de 2013

O sexo, a pedofilia e o celibato… Desafios da Igreja Católica após Bento XVI


Por Paulo César Gomes, historiador e escritor

A renúncia de Bento XVI ao posto de líder maior da Igreja Católica abriu uma discussão importante dentro da instituição. Temas seculares que já foram abordados por Martinho Lutero ainda no século XVI voltaram à tona, entre as questões que foram denunciadas na Reforma está à prostituição e as práticas sexuais realizadas por membros da Igreja. Ao contrário de Martinho Lutero, Bento XVI não foi até fim no enfrentamento dos problemas, que entre outras coisas envolve a pedofilia e o fim do celibato. Na verdade uma coisa está ligada a outra.

O Celibato (do latim cælibatus que significa “não casado”), que na sua definição literal quer dizer “é uma pessoa que se mantém solteira”, é um dos princípios fundamentais para o exercício do sacerdócio. No entanto, os inúmeros casos de padres pedófilos e homossexuais revelam que há um “câncer” que cresce de forma descontrolada dentro da instituição eclesial. Doença que nem o próprio Papa teve força para enfrentar. A omissão do Vaticano diante tantos casos de abusos de crianças e adolescente acaba colocando em xeque papel da Igreja com instituição evangelizadora e seguidora das palavras do Filho de Deus.

Diante da surpreendente atitude tomada pelo agora Papa Emérito e de tantos escândalos que surgiram, era interessante que a alta cúpula da Igreja Católica rediscutisse a obrigatoriedade do celibato para o exercício do sacerdócio. Lógico que alterar um princípio que está na base da fundação do catolicismo não é tarefa fácil. Porém, é sempre bom lembrar que Deus fez o homem, Adão, e viu que ele não podia viver sozinho, então criou Eva para ser a sua companheira. Sendo assim, podemos entender que o amor faz parte da natureza humana, assim com a fé e sexo, por isso mesmo é necessário que se discuta com clareza a possibilidade de que o casamento de padres possa se autorizado pelo Vaticano. Além disso, o fortalecimento da família é uma das grandes bandeiras do catolicismo.

Mesmo que o tema seja de cunho teológico, e por isso seja de bastante complexidade, é inevitável que diante de um precedente histórico de repercussão mundial, o tema seja levantado, até porque esse seria um ótimo momento para se discutir com profundidade a questão.  O que não podemos aceitar é que tantos inocentes passem a vida toda convivendo com traumas causados por pessoas que deveriam dar exemplo de amor e de fraternidade, é que se dizem verdadeiros seguidores e pregadores das palavras de Jesus Cristo.


Um forte abraço a todos e a todas e até a próxima!


Publicado no site Farol de Notícias de Serra Talhada, em de março de 2013.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O mesmo poder que ajudou o PT é o mesmo que o destrói lentamente


Paulo César é professor e escritor 

O Partido dos Trabalhadores surgiu em 10 de fevereiro de 1980, há exatos 33 anos, no Colégio Sion, em São Paulo, com o lançamento do Manifesto de Fundação do PT. Esse fato histórico foi fruto da união de trabalhadores (operários e campesinos) e de alguns importantes  intelectuais brasileiros, entre eles, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Perseu Abramo, Mário Pedrosa, Sergio Buarque de Holanda. No entanto, foi Lula, o líder dos metalúrgicos do ABC paulista, que conseguiu protagonizar a maior vitória petista, a conquista da Presidência da República.

A chegada ao poder, de Lula e do PT, foi antecedida por três derrotas consecutivas, a mais frustrante delas foi a de 1989 para o agora aliado Fernando Collor, que para vencer usou das piores práticas políticas possíveis. Passaram-se, coincidentemente, 13 anos para que finalmente o Partido dos Trabalhadores atingisse o principal  objetivo estabelecido em fevereiro de 1980.

Porém, para que o PT chegasse ao poder, os seus principais dirigentes tiveram que feri-lo na alma, e para isso, desenvolveram um processo de destruição dos seus princípios éticos, políticos e ideológicos, e principalmente, rasgaram o seu Manifesto de Fundação, o documento que definia o PT como sendo uma legenda classista, socialista e de luta, um partido sem patrões, onde os projetos políticos seriam desenvolvidos após a realização de um intenso e democrático debate.

Passaram-se, coincidentemente, 13 anos para que finalmente o Partido dos Trabalhadores atingisse o principal o objetivo estabelecido em fevereiro de 1980. Porém, para que o PT chegasse ao poder, os seus principais dirigentes tiveram que feri-lo na alma, e para isso, desenvolveram um processo de destruição dos seus princípios éticos, políticos e ideológicos (…)

No PT atual não existe lugar para o amplo debate, pois as decisões são tomadas “de cima para baixo”, a militância só é convocada para participar do PED – Processo de Eleição Direita e das campanhas eleitorais. As coligações partidárias são feitas sem nenhum critério, sendo que o que predomina nessas discussões são as seguintes palavras de ordem: conquistar o poder e manter o poder.

Com esse pensamento vários dirigentes petistas acabam indiretamente engessando os movimentos sociais em todo o Brasil. CUT, UNE, MST e tantas outras entidades vivem estáticas, paralisadas, e em muitos casos, acabam se tornando submissas ao atual governo federal. Lamentavelmente essas entidades, assim como o PT, acabam jogando na lata do lixo décadas de lutas, e o pior, os sonhos da classe trabalhadora.

As coligações partidárias são feitas sem nenhum critério, sendo que o que predomina nessas discussões são as seguintes palavras de ordem: conquistar o poder e manter o poder.

Em meio a tantas contradições, dezenas de petistas históricos já deixaram o partido, em contrapartida, centenas de novos filiados passam anualmente a engrossar a fileiras partidárias, sendo que a maioria não conhece nada do partido. Nesse cenário desolador, muitos se perguntam se ainda é possível resgatar o PT e o seu Manifesto de Fundação. Essa é realmente uma resposta  difícil de dar.

Porém, é importante lembrar que ainda existem petistas espalhados pelo Brasil fiéis as ideias pregadas no início dos anos 80 e de que na política tudo pode acontecer. Tudo isso nos leva a crê que nessa buscar pela manutenção do poder, só existem dois caminho para o PT: o primeiro é virar uma “metamorfose ambulante”, assim como o PMDB, e o segundo é ficar envelhecido e sem projeto político, assim como o PFL, e no final acabar sendo destruído.


                                 Um forte abraço a todos e a todas e até a próxima!


Publicado no site Farol de Notícias de Serra Talhada, em 24 de fevereiro de 2013.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

A CIDADE E HISTÓRIA DE JOSÉ D’ASSUNÇÃO BARROS E A NOVA HISTÓRIA


A CIDADE E HISTÓRIA DE JOSÉ D’ASSUNÇÃO BARROS E A NOVA HISTÓRIA
Paulo César Gomes[1] 
A complexidade dos estudos que envolvem a cidade é um tema que intriga muitos pesquisadores e é esse tema central da obra Cidade e História. O texto discute inicialmente o conceito de cidade, procurando problematizar e esclarecer que fatores caracterizariam uma cidade em todos os tempos, em cada tempo histórico específico.
O texto busca apresentar um panorama sobre a reflexão sobre a cidade que foi produzida no último século por historiadores, geógrafos, sociólogos e urbanistas em torno do fenômeno urbano. Discute-se questões como a forma urbana, a especificidade da população urbana, as imagens e imaginário da Cidade, a interação da Cidade com o seu meio, a sua posição em relação ao campo.
Por se tratar de uma publicação que é de interesse de estudiosos de áreas como a geografia, a história, a antropologia, a sociologia e a economia, o que na verdade é uma proposta de interdisciplinar, o que nos remete a identificar os princípios que norteiam a Nova História Cultural, pois ela busca estabelecer um dialogo com outros campos do conhecimento humano, em especial as ciências sociais como auxílio na pesquisa histórica, paradigma que veio à tona no último quartel do século XX, surgindo a partir da Nova História francesa que, após várias críticas a ciência histórica, defende uma aproximação da História com as artes, a filosofia e a literatura, afastando-se das pretensões cientifica tradicionais.
Segundo José D’Assunção Barros os estudos sobre o fenômeno urbano tiveram início no século XIX. Durante esse período, os principais autores a pensarem o fenômeno urbano, com uma análise institucional, foram: Karl Marx, Fustel de Coulanges, Gustave Glotz,entre outros.
Karl Marx procura analisar a urbe pelos aspectos sociais e históricos concomitantemente; Frederic Engels envereda pelos caminhos da psicologia e do cotidiano; Fustel de Coulanges vê na cidade a associação de agregadose células sociais como a família, no que é bastante criticado por Gustave Glotz, que introduz um elemento de conflito na construção de Coulanges.
No século XX, as formas de se citadino, a forma urbana, a. Organização social, o imaginário e a relação entre o público e o privado. Novos Sentidos associam-se às cidades: artefatos, produtos da terra, ambiente, Sistema, ecossistema, máquina, empresa, obra de arte, texto. Também surgem novos conceitos: armaduras ou redes urbanas, sistemas urbanos e interação com outras cidades.
A teoria de Fernad Braudel, um dos mais importantes representantes da Escola dos Annales, considera a relação da cidade como o mundo exterior: ele pode ser aberta, fechada e estar sob tutela ou dominada, remetendo à sua ligação com um Estado.
Sobre a dimensão econômica como fator impulsionador da criação das cidades, o autor apresenta as teorias de Max Weber, Henry Pirenne, Henri Lefebvre,Werner Sombart, Kalr Marx, Frederich Engels, além de alguns materialistas Histórico.
O livro traz ainda uma análise dos fatores políticos, caracterizando a cidade como sede dos poderes políticos e das lutas de classe, a cidadania como instrumento privilegiado, o pacto social como organizador da sociedade urbana,
Os micropoderes, a estratificação social e múltiplas influência. Rousseau, Hegel, Marx, Foucault, Floyd Hunter, Robert Dahal, Franco Ferrarotti, entre outros, possuem esse objetivo de investigação.
Para José D’Assunção Barros, a cidade também foi pensada tendo por base modelos ecológicos e biológicos. Para o desenvolvimento do modelo ecológico de pensar a cidade foi importante à contribuição da Escola de Chicago e da obra de Georg Simmel. Simmel foi o primeiro a teorizar sobre a cultura urbana, apontando como traço fundamental do homem citadino contemporâneo a indiferença para como o outro, o que definiu como atitude blasé. O modelo biológico veio a prospera com a publicação da obra A Origem das Espécies de Charles Darwin em 1859.
Segundo Barros, cidade foi pensada enquanto um texto, uma imagem que possibilitou a renovação dos estudos sobre o fenômeno urbano, em que teve por base as contribuições de Roland Barthes e Michel de Certeau, e “esta imagem ergue-se sobre a contribuição dos estudos semióticos”, Essa metáfora “aloja dentro de si diversos discursos e todas as ordens”, com os quais se vale o intérprete do fenômeno urbano para a elaboração de seu enredo.
Para ele haveria alguns fatores fundamentais para o entendimento  da cidade e da questão da urbanização no espaço e no tempo, a saber: a historicidade, a população, a Economia, o político, a organização, a forma, a cultura, o imaginário e a função. A Historicidade constituiria a necessidade de o estudioso intencionar inquirir o fenômeno
Urbano no tempo, já que “as formas urbanas são produtos da história”.
Pode-se perceber a existência de multifuncionalidade ou funções elementares (culturais, religiosa, ambiental, política e econômica) predominantes. Os estudiosos privilegiam ora uma, ora outra, sem desconsiderarem que, como parte de um todo, cidade reparte diversas funções em seu meio.
No interior do espaço urbano, no qual os indivíduos se relacionam, formam-se a base de um tipo específico de convivência intermédia por meio da “produção, distribuição e consumo” de mercadorias, subsidiadas pelas “atividades industriais, atividades comerciais, e relações de consumo”, local onde se observa o fato econômico. A política, nesse sentido, além de ser um fator articulador das formas de convivências em sociedade, também interage junto à própria dinâmica do mercado e do consumo, por que por “várias razões a dimensão política emerge como um dos principais definidores da cidade”, pois ela “é a principal sede das lutas sociais”.
Cidade mantém uma relação com a produção da cultura. E, nesse sentido, toda cidade cria um imaginário social, na medida em que é representada e construidora de representações sobre si. O autor ressalta a necessidade de se abordar os  comportamentos culturais nas cidades como sistemas de comunicação, assim como fizeram Umberto Eco, Le Goff, Bakhtin e Meier.
Nesse sentido, o fenômeno urbano deve necessariamente ser pensado a partir de “um esquema complexo” dos traços específicos que, reunidos, poderiam caracterizar a Cidade como forma de organização específica”. De acordo com  a proposta elaborada pelo autor “um outro passo nos estudos urbanos seria o de examinar a cidade nos seus diversos momentos históricos ”, o que evidenciaria suas características, semelhanças e diferenças no tempo e no espaço.
O livro traz ainda uma análise dos fatores políticos, caracterizando a cidade como sede dos poderes políticos e das lutas de classe, a cidadania como instrumento privilegiado, o pacto social como organizador da sociedade urbana, os micropoderes, a estratificação social e as múltiplas influência, temas que foram objetos de investigação de Rousseau, Hegel, Marx, Foucault, Floyd Hunter, Robert Dahal, Franco Ferrarotti, entre outros.
A discussão apresentada no que se refere ao conceito de Cidade e todas as demais questões que envolvem o meio urbano, tornam o livro Cidade e História, uma obra de extrema importância para os estudiosos e pesquisadores desse tema tão complexo, além de disso, ela é fundamentada na proposta da Nova História o que contribui ainda mais para a sua importância.
BIBLIOGRAFIA
BARROS, José D’Assunção. Cidade e História. Petrópolis: vozes, 2007. 128 páginas.


[1] Professor de História Geral e bacharelando em Direito pela FIS.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Após Carnaval, o ano começa pra valer, mas com novas notícias e velhas posturas


Por Paulo César Gomes, professor, escritor que lança, em breve, um livro sobre a inesquecível banda D.Gritos. 

Brasil é conhecido mundialmente como “o país do carnaval”, título que é ostentado com orgulho por muitos brasileiros, já que na falta de outros de maior relevância esses pelo menos coloca a nação no topo da pirâmide mundial. Parte da origem desse “orgulho nacional” vem da forte influência da miscigenação na formação da nossa cultura. Pois bem, o carnaval é esperado com ansiedade em diversas partes do Brasil, não só pela diversão ou pelos lucros obtidos durantes os festejos, mas principalmente pelo extenso feriadão.

O problema é que a longa espera pela folga faz com que muitos brasileiros só comecem a pensar no início do ano a partir da quarta-feira de cinzas. Com certeza muitos desses desavisados terão uma surpresa ao se depararem com a redução da conta de energia, com o aumento da gasolina ou com a volta de Renan Calheiros a Presidência do Senado. Outros vão ficar impressionados em saber que depois de 600 anos um Papa renuncia ao pontificado, ou talvez chorem com a notícia da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria – RS.

Em Serra Talhada os nossos pierrôs e colombinas se recuperaram da ressaca carnavalesca sendo informados de que o deputado Inocêncio Oliveira foi rifado pelo seu partido e deixou de ocupar um lugar na mesa diretora da Câmara dos Deputados depois de décadas. Que Carlos Evandro deixou a prefeitura, mas a sua foto ainda continua enfeitando a maioria dos órgãos públicos municipais, além disso, o nosso nobre ex-prefeito, deixou os nossos aposentados sem nenhum tostão para curtir a “tradicional folia de momo” realizada em nossa cidade.

Pois bem, ano novo que começa para alguns, já está rolando há quase 45 dias, período em que muita coisa mudou, algumas para pior, outras para melhor. No entanto, para uma grande parcela da nossa sociedade a vida vai continuar a mesma, cheia de insatisfação e de muito comodismo, mas com o sentimento de que tudo será amenizado no carnaval de 2014! 


Um forte abraço a todos e a todas e até a próxima!


Publicado no site Farol de Notícias de Serra Talhada, em 12 de fevereiro de 2012.

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