Por Paulo César Gomes, professor, escritor e pesquisador da história serra-talhadense 

A Concha Acústica, oficialmente praça Governador Agamenon Magalhães e o Marco Zero da cidade, é para mim como historiador e pesquisador, o local mais bucólico e nostálgico de Serra Talhada. É onde o presente e o passado se encontram, nos remetendo a uma Serra Talhada que já não existe mais, apesar de que são memórias que precisam ser preservadas.

Essa mesma Concha de lembranças históricas, é também o único espaço de lazer de quem mora ou frequenta o centro da cidade. Além disso, o local é também um espaço onde as tendências culturais atuais se expressam, o que não é de hoje. Haja visto que os movimentos culturais e musicais surgidos nos anos de 1980, tinham no espaço da Concha a sua principal vitrine.

Movimentos como Coletivo Fuáh, EBasta! e o Festival Cantando na Concha são exemplos de que atividades culturais que se organizam e se expressam no Marco Zero, do ponto onde tudo começou. Fora isso, vários recitais de poesia, lançamentos de livros (eu já tive o prazer de lançar quatro livros no calçadão da Igreja do Rosário) e shows de bandas de rock, pop rock, MPB, cantoria de viola e repente também são realizados. Então, podemos dizer que a Concha é muito mais do que se ver o do que se pensa.

ABANDONO E REPRESSÃO

Porém, o abandono e o descaso com é tratada, a falta de organização leva o local a se tornar um “território livre”. Onde é possível se fazer tudo. Muitas coisas poderiam ser evitadas se houvesse pelo menos um guarda municipal ou quem sabe se já tivessem sido instaladas as benditas câmaras de segurança.

Na verdade, a repressão aos usuários de drogas também funciona como uma cortina de fumaça criada para de certa forma se tirar a responsabilidade das autoridades competentes em promover a cultura, o lazer e assistência social para as crianças, jovens e adultos que estão se perdendo em meio “a vida louca”. Se faz necessário que o Conselho Tutelar e Ministério Público se posicionem sobre o assunto.

É lógico que não devemos esquecer que as abordagens polícias são primordiais na prevenção e na garantia da segurança e no bem estar da população. No entanto, não se deve é criminalizar e rotular os frequentadores da Concha, pois muito do que se faz lá talvez não seja diferente do que se faz na Praça Sérgio Magalhães, ou em áreas nobres da cidade.

Talvez a origem e a condição social das pessoas pesem na hora de falar do assunto. Porém, é preciso colocar o dedo na ferida. A excessiva repressão policial só vai afastar os jovens do local, assim como aconteceu na Ponte da Caxixola, na Estação do Forró e na Academia da Cidade no Ipsep. Em breve um novo espaço alternativo surgirá para que os usuários possam se reunir, e onde certamente algum traficante irá faturar muito dinheiro em cima do vício e a dependência de alguém.

O ideal que a discussão sobre o consumo de álcool e de drogas seja visto sem tabus, preconceito e intolerância. A receita para o problema da Concha é simples: um ambiente útil sendo usado por mentes cheias de ideias produtivas. Certamente a partir dessa combinação iremos vivenciar novos tempos. Por isso, eu acho que a juventude excluída de Serra Talhada deferia fazer é ocupar a Concha com muita música, poesia, pintura, dança. Ocupar com cultura e arte. Essa é uma das melhoras formas de se viver um grande “barato”!