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quarta-feira, 18 de março de 2020

O corona levou o brasileiro à prisão domiciliar


Meu avô Severo Martins, extremamente severo em vida, era bom de prosa. Morreu virando a esquina dos 80 dormindo numa cadeira de balanço depois de almoçar acompanhado da sagrada cervejinha gelada que não abria mão antes de colocar filhos, netos e a parentada em geral rente à um mesão do pirão,  pontualmente servido ao meio dia.
Ele era o meu Google. Me contava do passado sofrido na boléia de um caminhão como motorista no vai e vem pelas estradas da vida. Ditava regras e todos a ele se curvavam sem direito ao contraditório.
Certa vez, me contou da seca de 32, até então a maior da sua época, que o tangeu de Afogados da Ingazeira para Garanhuns. Era o segundo ciclo cigano a cumprir, pois já havia posto os pés em Afogados da Ingazeira vindo da paraibana  Monteiro, onde berrou ao mundo. 
Meu avô falava de flores e de espinhos. Sua palavra de ordem nunca foi desrespeitada por nenhum filho. Todos morriam de medo dele. Era alto fisicamente, gostava de andar de branco feito os coronéis sertanejos do berço de Lampião.
Nas páginas do capítulo dos espinhos me falou da peste bubônica e dos seus horrores. A primeira grande pandemia de peste bubónica foi a Praga de Justiniano, que se estima ter morto 25 a 50 milhões de pessoas no século.
 Acredita-se que tenha sido a causa da Peste Negra que assolou a Europa, Ásia e África no século XIV. Estima-se que a Peste Negra tenha resultado na morte de cerca de 50 milhões de pessoas, entre as quais um número correspondente entre 30% a 60% da população europeia na época. 
Matou grande parte da força de trabalho, a procura de mão de obra fez subir os salários. Alguns historiadores consideram este evento um momento de viragem no desenvolvimento económico europeu. 
A terceira e última grande pandemia de peste surgiu no século XIX e matou mais de 12 milhões de pessoas na índia e China. O termo "bubónica" deriva da palavra grega, que significa "virilha". O termo "bubão" é usado para se referir aos gânglios linfáticos inchados.
Fui pesquisar para me ater aos dias atuais da pandemia  do coronavirus, que mata gente europeia feito a peste bubônica matou lá atrás. Naquetes tempos, não havia vacinas nem a Medicina era tão avassaladora em avanços nas descobertas milagrosas como hoje, onde até o câncer é vencido. 
O corona chegou para nos quebrar a rotina da vida. Com medo do vírus que mata feito a peste bubônica não somos capazes de cruzar o portão das nossas casas. Meu amigo, o jornalista bom frasista e de manchetes Ângelo Castelo Branco, cunhou uma frase ontem que resume tudo que nos tomou de assalto de uma hora para outra: o coronavirus decretou prisão domiciliar para todos os brasileiros.
Que frase fantástica! Estamos em quarentena, termo moderno da prisão domiciliar. De casa, somos alertados pela mídia a não botar o pé fora nem para dar bom dia ao padeiro na compra matinal do pão. O que se faz numa prisão domiciliar para matar o tempo? Eu busco notícias e escrevo online, em tempo real na tela do meu celular. Leio, vou à varanda tomar sol e ver a lua. 
E você, que não pode trabalhar em casa feito jornalista, o que faz em sua prisão domiciliar fugindo da morte? Com certeza, está reinventando a roda, mas quem vai pagar nossas contas se estamos presos e a economia não se move em prisão? Não há vida nos parques, nos shoppings, no trânsito, nos bares, nos restaurantes, em lugar algum. 
Presos, nossas emoções da vida não latejam. A nossa casa, por melhor que seja o seu quintal, produz o pior dos males: a desarmonia social. Deixamos de ser animais sociáveis, viramos bichos por trás das nossas cortinas de ferro.
O que nos apresenta o amanhã ?

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