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quinta-feira, 23 de abril de 2020

A GRIPE ESPANHOLA NO BRASIL

O Brasil acompanhou a doença inicialmente à distância, através dos jornais. A população brasileira não demonstrava grande preocupação com a espanhola, por considerar que ela não se propagaria no território nacional, devido à distância do continente europeu.
Contrariando essas previsões otimistas, a gripe penetrou no país a partir de setembro de 1918, quando a divisão naval enviada pelo Brasil a Dacar, para participar do patrulhamento do Atlântico Sul como parte do esforço de guerra do país ao lado dos Aliados, retornou. Nesse momento inicial, morreram mais de uma centena de marinheiros – o que correspondia ao número de brasileiros mortos em decorrência da participação na Primeira Guerra Mundial.
Em território brasileiro propriamente dito, a disseminação da gripe pode ser atribuída a alguns navios que aportaram em portos do Nordeste, como o inglês Demerara, que esteve em Recife e Salvador naquele mês de setembro. Em pouco tempo a espanhola atingiu várias cidades nordestinas e no final de outubro já atingia quase todas as grandes cidades do país, inclusive Rio de Janeiro e São Paulo. Em novembro chegava à Amazônia. Sua expansão provocou um esvaziamento dos centros urbanos, causado pelo medo de contágio da doença. Desconhecendo medidas terapêuticas para evitar o contágio, as autoridades pediam à população que evitasse as aglomerações.
           Ao longo do período pandêmico, registraram-se mais de 35 mil mortes em todo o Brasil. O Rio de Janeiro, maior núcleo urbano do país, apresentou o número de óbitos mais elevado. Em dois meses faleceram cerca de 12.700 pessoas, cerca de 1/3 do total registrado no país, para uma população de quase um milhão de habitantes. O momento crítico deu-se em meados de outubro, quando a Diretoria Geral de Saúde Pública, através de seu titular Carlos Seidl, admitiu a impossibilidade de a gripe ser controlada. A cidade estava parada. Colégios, quartéis e fábricas interromperam suas atividades. Havia falta de alimentos, de remédios, de leitos e até de caixões. A pedido do presidente da República Venscelau Brás, o médico sanitarista Carlos Chagas liderou o combate à gripe espanhola implantando 27 pontos de atendimento à população na capital federal.
             Em São Paulo, com população estimada em 470 mil habitantes, de outubro a dezembro foram registrados 5.328 óbitos causados pela espanhola. Muitas pessoas buscaram refúgio em áreas afastadas no interior. Só no mês de outubro, morreram 1.250 pessoas em Recife, cuja população chegava então a 218 mil habitantes. Em Porto Alegre – onde se registraram 1.316 óbitos para uma população de cerca de 140 mil habitantes – foi criado um cemitério especialmente para as vítimas da doença. Salvador apresentou o menor percentual de vítimas fatais entre as grandes cidades brasileiras. Numa população estimada de 320 mil pessoas, cerca de 130 mil contraíram a gripe e 386 morreram.
Embora a gripe espanhola tenha efetivamente atravessado toda a pirâmide social, sua feição “democrática” deve ser olhada com atenção, pois a maioria das vítimas provinha das camadas populares e daqueles grupos chamados pelas autoridades de indigentes. De todo modo, a doença vitimou até o presidente eleito,  Rodrigues Alves, que na pôde tomar posse na presidência em 15 de novembro de 1918 e morreu em janeiro de  1919.                                                                          
                                                                Sergio Lamarão/Inoã Carvalho Urbinati

[Verbete do Dicionário histórico-biográfico da Primeira República 1889-1930. Coordenação: Alzira Alves de Abreu/FGV]
FONTES: Aventuras na HistóriaDisponível em: <http://historia.abril.com.br/fatos/furia-gripe-espanhola-433549.shtml>. Acesso em: 23/5/2010; GOULART, A. Revisitando (v. 12, p. 101-142); Invivo. Fiocruz. Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7>. Acesso em: 22/5/2010; MAR. BRAS. Disponível em: <http://www.mar.mil.br/menu_h/noticias/dphcm/dphcm.htm>. Acesso em: 23/5/2010;  Scielo. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702005000.... Acesso em: 23/5/2010; SOUZA, C. Gripe (v. 12, p. 71-99); Universitário. Disponível em: <http://www.universitario.com.br/noticias/noticias_noticia.php?id_noticia.... Acesso em: 22/5/2010; Veja (5/2003) Disponível em: <http://veja.abril.com.br>. Acesso em:  22/5/2010.

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