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terça-feira, 14 de abril de 2020

Um em cada 3 infectados com coronavírus em PE é profissional de saúde


Boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco aponta que 377 profissionais de saúde fizeram teste e tiveram resultado positivo para o novo coronavírus. O número representa um em cada três casos da doença registrado em todo o estado.
O boletim de ontem informou que foram 194 novos casos da covid-19 confirmados em 24 horas, fazendo com que o estado totalize 1.154 casos confirmados da doença.
Desses, 708 estão em isolamento domiciliar e 287 internados —sendo 55 em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e 232 em leitos de enfermaria.
Além disso, o boletim aponta 57 pacientes já recuperados da doença. Ao todo, 102 pessoas morreram pela covid-19 no estado.
Segundo o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, o alto número no estado é resultado de ser o primeiro do país a adotar um protocolo para testar todos os profissionais de saúde sintomáticos de quadro gripal.
Ele explica que o número de profissionais contaminados vai crescer ao longo da semana já que muitos resultados de coletas já feitas estão pendentes de análise.
“Nós já tivemos 1.120 ocorrências de profissionais de saúde com quadro gripal, e mais de 600 casos tiveram resultado [377 casos confirmados e 267 descartados]. Tão logo amplie-se essa testagem, com os testes rápidos que recebemos, vamos fortalecer o nosso compromisso de fazer essa análise nesse paciente”, diz.
Longo negou que o número de casos tenha relação com a falta de EPIs (equipamentos de proteção individual) para esses profissionais.
“Estamos atuando para garantir EPIs. Já foram distribuídos 5 milhões de itens. O governo tem feito as aquisições, e temos recebido os itens que são mais disputados, como as máscaras N-95. Só na semana passada foram 150 mil unidades recebidas”, explica.
Cenário “assustador”, diz médico
Para o infectologista Paulo Sérgio Ramos, chefe do Serviço de Doenças Infecto-Parasitárias do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), alto número de profissionais é algo “multifatorial.”
“Mas o fator de maior peso é que até o momento, o Laboratório Central apenas tem testado portadores de casos casos graves e profissionais de saúde suspeitos da covid-19, o que faz com que eles apareçam expressivamente nas estatísticas, além do fato de que estamos muito mais expostos às pessoas infectadas por este vírus”, afirma.
Na linha de frente de atuação de combate ao coronavírus, ele afirma que percebeu uma alta no número de colegas da saúde afastados desde a última semana.
“Nos últimos sete dias temos assistido este cenário assustador, no qual vários colegas têm sido afastados do trabalho devido a covid-19. Esses profissionais experimentam, ao mesmo tempo, aflição pela doença e decepção por não poderem estar na linha de frente”, diz.
Sobre a questão dos EPIs, Ramos ainda explica que, além de relatos de que estejam indisponíveis em alguns locais, há o problema no manuseio desses equipamentos.
“Nesse contexto caótico, os treinamentos para paramentação e desparamentação não têm sido efetivos. Eles precisam ser realizados e revisitados pelas equipes de saúde. Se trata de um protocolo complexo. Com qualquer falha nestes processos podemos facilmente ser contaminados”, declara.
Pernambuco, ao contrário da maioria dos estados e do próprio Ministério da Saúde, tem apresentado dados detalhados de casos de covid-19, o que fez o estado ser o único classificado como nível “alto” de transparência de boletins do país, segundo a fundação Open Knowledge.

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