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sexta-feira, 17 de abril de 2020

VIAGEM AO PASSADO: Saiba por que a Festa do Algodão em 1953 foi um dos maiores eventos da história de Serra Talhada

Por Paulo César Gomes, Professor, pesquisador e mestre em História pela UFCG 

Revista O Cruzeiro de setembro de 1953 
A Festa do Algodão realizada em 1953, foi um dos maiores eventos político, social e cultural já realizada na história de Serra Talhada, infelizmente a falta de registros desse acontecimento na cidade impede que ele seja conhecido em toda a sua grandiosa. Apesar disso, estamos garimpando algumas informações que gradativamente estão ajudando a entender melhor o que ocorreu na Fazenda Saco, nos dias 15 e 16 de agosto daquele ano e que estarão a disposição de todos no livro Serra Talhada: a cidade das Misses, a ser lançado em breve.
A ideia da festa partiu dos estudantes da escola superior de agronomia, sediada em Recife, e contou com apoio do Secretário de Agricultura Eudes Pinto. Estiveram presentes ao evento o Ministro da Agricultura, João Cleophas, o Governador do Estado, Etelvino Lins, os Senadores Apolônio Sales, Assis Chateaubriand e Plínio Pompeu, os empresários do ramo fabril Adriano e Antônio Seabra, do presidente do Tribunal de Contas de São Paulo, Romeu Ferras e por diversas outras autoridades vindas do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Tudo foi registrado pelos repórteres da extinta TV Tupi, revista O Cruzeiro, jornal Diário de Pernambuco e Rádio Tamandaré, todos os veículos de comunicação eram ligados ao conglomerado de empresas jornalísticas dos “Diários Associados”, pertencentes Assis Chateaubriand.
Segundo a reportagem do Diário de Pernambuco, de 12 de agosto de 1953, eram esperados mais de 1.000 convidados vindos em caravanas de várias cidades do estado, o desafio da organização era acomodar essa grande quantidade de pessoas em uma cidade que não possui uma rede hoteleira de qualidade e que tinha uma zona urbana habitada por pouco mais 5.501 habitantes e com menos de 1.000 casas, segundo agência de estatística estadual.
A Festão do Algodão de 1953 foi um dois maiores eventos político, social e cultural já realizado em Serra Talhada. As festividades eram realizadas na Fazenda Saco, onde atualmente funciona o IPA, durante o mês de agosto daquele ano, os bailes noturnos eram realizados no CIST.

Dezenas de carros estacionados na entrada da Estação Experimental da Fazenda Saco, em 1953
A foto acima da a dimensão do público que participou da festa, visto a grande quantidade de carros que fizeram fila no estacionamento, em destaque, um carro luxuoso  conversível. Na imagem abaixo verificamos uma peça de arte que fica em um monumento na estrada da UAST/UFRPE, a obra foi confeccionada por um artesão anônimo, nela podemos perceber uma referência ao ano da festa e um pé de algodão.

Monumento em homenagem a Festa da Algodão, realizada em 1953, erguido na entrada da UAST
Participaram da festa mais de 20 cidades ligadas a cultivo de algodão, delas apenas 15 puderam indicar nomes de misses (ou princesas) para concorrem ao titulo de Rainha da Festa do Algodão. Os critérios paras indicações obedeciam a o requisitos de produção de 50.000 arrobas de algodão no ano de 1951.


Jornal Diário de Pernambuco destacando a realização do evento e apresentando as candidatas ao título de Rainha do Algodão 
As candidatas foram escolhidas por representantes das suas cidades, sendo que a maioria eram filhas de empresários ou políticos importantes, a representante de Flores, por exemplo, era filha do prefeito Pedro estima. Escolha da rainha foi um dos maiores concurso de beleza do estado, até realizada, isso porque o Miss Pernambuco só foi criado em 1955.
AS CONCORRENTES AO TÍTULO DE RAINHA 
Concorreram a coroa de rainha: Hilda Souza (Caruaru), Diva Lima (Garanhuns), Iolanda Pires (Tabira), Juliane T. Vilanova (Bom Conselho), Vilma Durce (Correntes), Nanete Barbosa (Surubim), Neli Pinheiro (Sertania), Marluce Estima (Flores), Mirian Padilha (Afogados da Ingazeira) Elizabeth Barros (Buíque), Maria de Souza Rosa “Lia Rosa” (Floresta), Euridice Almeida (Vertentes), Maria dos Santos (Limoeiro), Iraildes Japiassu Simões (Pedra) e Maria Tereza de Godoy Bené (Serra Talhada). Bezerros, Águas Belas, Ouricuri e Cabrobo, entre outras cidades, mesmo sem ter candidatas na disputa.
A representante de Serra Talhada foi à última a ser indicada, até as véspera do concurso o nome dela não figurava em nenhuma relação disponibilizada pelo órgão de imprensa. a jovem Maria Tereza de Godoy Bené, era filha do ex-prefeito de Serra Talhada e da cidade de Bonito, José Bené de Carvalho, e sobrinha do prefeito da época, Moacir Godoy. Ironicamente a última candidata acabou se tornando a vencedora da coroa de Rainha da Festa do Algodão.
Maria Tereza de Godoy Bené, na época com 16 anos

A HISTÓRIA POR TRÁS DA FUGA DE CHATEAUBRIAND DE SERRA TALHADA
A Rainha da Festa do Algodão, Tereza Bené e agraciada com uma joia dada pelo Senador e empresário Assis Chateaubriand.
Encerramos com uma foto garimpada nas páginas da revista O Cruzeiro que mostra o momento em que Tereza Bené e agraciada com uma joia dada pelo Senador e empresário Assis Chateaubriand. Segundo relatos orais ainda não confirmados, o senador após a entrega do presente beijou a face da jovem serra-talhadense, o que gerou um grande conflito com a família da moça, forçando o magnata das comunicações a fugir da festa escondido dentro de um porta-malas de um carro.
Verdade ou não, o episódio é descrito pela revista Manchete, concorrente de O Cruzeiro, como constrangimento entre o prefeito Moacir Godoy, e o Senador. Segundo a Manchete, o prefeito não gostou do fato de Chateaubriand está beijando as moças que estavam na festa, e por isso teria entrado em desavença com o Senador. A publicação carioca não cita a possível fuga de Chateaubriand escondido no porta malas de um carro.
Em conversa com este pesquisador, Tereza Bené, disse não se lembrar de qualquer confusão durante os dois dias evento, e ainda afirmou que foi muito bem tratada por Assis Chateaubriand.

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