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domingo, 23 de março de 2014

VIAGEM AO PASSADO: O time do Comercial de Serran Talhada e as “estrelas” que brilharam fora do campo

Por Paulo Cesar Gomes, professor, escritor e pesquisador

A história do Comercial Futebol Clube foi marcada pela passagem de grandes jogadores e treinadores, porém, seria impossível desenvolver uma narrativa desse momento singular da história de Serra Talhada sem citar os nomes de algumas pessoas, que mesmo não entrado em campo, foram determinantes na idealização do projeto pioneiro que levou o Comercial a se tornar o primeiro clube do Sertão do estado a disputar o campeonato da primeira divisão.

Várias pessoas colaboraram de forma direta ou indireta com o Comercial, entre essas pessoas podemos citar os nomes do ex-prefeito Nildo Pereira, Seu Né das Bicicletas, Seu Zé Carlos Encanador, Francisquinho, Seu Valfredo (pai de Arnaud Rodrigues) Dona Bé, Seu Manoel Tóto, Seu Manoelzinho Carvalho e Dr. Elias. Porém, entre tantos nomes, dois merecem destaque, a destemida Lia Lucas e o  pai da criatura, Egídio Tôrres de Carvalho.


 Lia Lucas, uma mulher a frente do seu tempo

Maria Augusta Ribeiro de Bastos, ou simplesmente, Lia Lucas, nasceu em Serra Talhada em 20 de novembro de 1920. Filha do empresário e líder político João Lucas, Lia foi um dos grandes referencias do futebol serratalhadense em uma época em que a mulheres só eram vistas nos estádios em dias de jogos.

O esporte entrou na vida Lia Lucas ainda na adolescência quando ela estudava em Caruaru. Na época ela foi escolhida para ser madrinha do time de futebol do Tiro de Guerra daquela cidade. Anos mais tarde, já de volta a Serra Talhada, tornou-se uma importante personagem da história Comercial Futebol Clube. Apesar de ser uma torcedora fanática do Botafogo (RJ) e do Santa Cruz, o Comercial foi uma de suas maiores  paixões, ao ponto de se considerar “mãe” do clube.
Lia Lucas com Madrinha do time de futebol do Tiro de Guerra de Caruaru -1937-38
Lia Lucas com madrinha do time do Tiro de Guerra da cidade de Caruaru dos anos de1937 e 1938 
Lia Lucas atou nos bastidores do Comercial de forma decisiva, chegando inclusive a indicar jogadores para compor o elenco do time. Como era uma pessoa dotada de grande conhecimento intelectual e cultural, e que gostava das coisas organizadas, chegou a contratar uma professora para dar aulas de boas maneiras aos jogadores e orienta-los sobre as formas de se comunicarem com a imprensa. O que na época parecia ser desnecessário, hoje se tornou regra em qualquer time profissional do mundo.

Ela também era responsável pela mobilização da torcida em dias de jogos, tanto os realizados na cidade, como em municípios vizinhos. Determinada, ela ajudava o alvirrubro de todas as formas, chegando inclusive a contribuir financeiramente. Segundo o ex-jogador Colorado, “com Lia por perto, jogador não passa fome e nem necessidade, pois ela sempre buscava uma forma de ajudar os atletas”.  Foi dela a iniciativa de encomendar ao multiartista Arnaud Rodrigues a produção do hino do Comercial.

Lia Lucas e Garrincha em jogo no Pereirao na decada de 1970
 Lia Lucas a lado do Jogador Garrincha, em jogo amistoso no Pereirão realizado na década de 1970 
Lia Lucas ao de Alemao e Paulo Vitor do Botafogo
Lia Lucas ao lado do goleiro Paulo Vitor (esquerda) e o meio campista Alemão (direita) em jogo do Botofago-RJ no Pereirão

Mesmo após o fim do Comercial, Lia não deixou de lado o futebol e sempre que possível marcava presença em jogos importante que eram realizados no Pereirão. Poucos anos antes de sua morte, mesmo com a saúde debilitada, ela ainda encontrou forças para ir ao encontro de um dos grandes ídolos do futebol brasileiro, o ex-ponta direita Jairzinho, o furacão da copa mundo de 70, que jogou na seleção e no Botafogo. O encontrou emocionou o ex-atleta que acabou não contendo as lágrimas. Lia Lucas morreu aos 89 anos, em janeiro de 2010. Durante o velório, o caixão com o corpo da “mãe” do Comercial foi envolto com a bandeira do clube e depois sepultado ao som do hino do time.
Lia Lucas ao lado ex-jogadores Jarzinho
Lia Lucas ao lado de Jairzinho

 Egídio Tôrres de Carvalho, um homem que marcou a história do futebol do interior de Pernambuco

Se Lia Lucas foi a “mãe” do Comercial, Egídio Tôrres de Carvalho foi o “pai”. Egídio fundou o Comercial Futebol Clube em 1963. A primeira sede do time foi na Praça Barão do Pajeú, onde atualmente está localizado o prédio da Rádio Cultura FM. Nos primeiros anos o time de Egídio jogava no campo da várzea ainda de forma amadora.

No entanto, com a construção do estádio Nildo Pereira de Menezes (1969-73) – erguido onde antes era o campo da várzea- o Comercial sob o comando de Egídio deu a sua grande guinada, passando a se estrutura e no final da década de 70, tornou-se o primeiro clube profissional do Sertão pernambucano. Para isso, foram contratados jogadores com experiência em equipes grandes e realizados jogos com o nível técnico mais elevado do que os da época do amadorismo.
Time do Comercial de 1967
Time comercial de em 1967
Em pé: Egídio T. Carvalho, Manoel do galo, Ageu Nildo Pereira, Clóvis, Tidão, Assis Duarte.
Agachados: Zé Bracinho, Paulo Moura, Psica-Pisca, Bria Pau Ferro e Chico de Roxa

 Foi com muita ousadia e determinação que o Comercial disputou os campeonatos pernambucanos de 1980, 1981 e 1980, além de torneios regiões e amistosos em outros estados. E muito de pioneirismos se deve a coragem de Egídio, que nunca deixou de acreditar no clube havia criado. Uma síntese do seu sentimento pelo alvirrubro ficou registrada em uma frase que ele escreveu em um envelope no qual guardava as fotos do time: “Estas fotos são recordações de tudo aquilo que amo. O Comercial F.C.”
Arnaud Rodrigues e Egidio Torres de Carvalho prestigiando um jogo do Comercial
 Em pé: Basto, Nego, Egydio, Oião, Biu de Caua
Agachados: Paulo Moura, Gula, Toinho, Edimilson, Pipoca, Arnaud Rodrigues e Egídio T. de Carvalho ( Foto. Egídio e Arnaud Rodrigues)

 No Comercial Egídio exerceu várias funções, desde presidente, a diretor de futebol, passando ainda pela função de técnico. Abnegado, não media esforços para manter viva a chama do futebol profissional no interior do estado que havia ajudado acender. Porém, o destino foi ingrato com Egídio e o Comercial, em 1983, com a chegada de Tião Oliveira a prefeitura de Serra Talhada, o Comercial perdeu o patrocínio e acabou sendo extinto, e assim como o clube, por razões que os frágeis mortais não sabem explicar, o “pai” de forma inesperada, veio a falecer naquele mesmo ano, deixando órfã uma geração de desportistas, que bem como Egídio, sonharam, choraram, vibraram e sorriram com as alegrias proporcionadas pelo COMERCIAL FUTEBOL CLUBE!
Egidio e o radialista Otavio Junior
Egídio ao lado do radialista Otávio Júnior

Um forte abraço a todos e a todas e até a próxima!


Publicado no Portal Farol de Notícias de Serra Talhada, em 23 de março de 2014.

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