DICAS SOBRE SONETOS - Eloah Borda
Considerações
iniciais
Quando se fala que
para fazer sonetos é necessário conhecer suas regras básicas, que são a métrica
e acentuação tônica corretas, isso não significa que o poeta tenha que
escrever, como costumam dizer, “contando nos dedos” e pondo de lado sua
inspiração. Quem gosta de sonetos, com certeza, não é por seus catorze versos
dispostos em quatro estrofes, isso nada tem de especial, mas sim por seu ritmo,
sua sonoridade, que acabamos por decorar assim como decoramos ritmos musicais -
daí a importância de ler os mestres sonetistas. Mas os versos nem sempre vêm
prontos à nossa mente - nas trilhas dos versos também acontecem pedras... São
as quebras de ritmo que o poeta “sente” e que, se conhecer a teoria, terá mais
“jogo de cintura” para sanar o problema, poderá logo encontrar a pedrinha e
saber como tirá-la do caminho, ou seja, perceber a palavra destoante e trocá-la
por um sinônimo, ou fazer uma inversão de termos para assim manter o ritmo.
Coisa simples, natural, nada que se pareça com autocastração poética, apenas o
esmero que se deve ter com qualquer tipo de criação artística. Uma outra idéia
errada, e muito comum, é que o soneto foi modificado pelo advento da Semana de
1922. Não, os poetas modernistas não modificaram o
soneto, não quebraram suas regras, apenas, em seu entusiástico desejo de
liberdade , simplesmente o descartaram , deixaram-no de lado – sua forma fixa
era restritiva, um “molde antigo”, inadequado para expressar as idéias, os
sentimentos de um período em ebulição, marcado pela ruptura política e
intelectual da sociedade brasileira com as estruturas consideradas envelhecidas.
Posteriormente, houve, sim, algumas tentativas de
mudanças, como a inversão das estrofes, ou o estrambote, que não "pegou”,
pois na verdade nada acrescentava, não tornava o soneto melhor, ao contrário.
A seguir, um pouco de
teoria...
O soneto, como já está implícito no próprio nome
(originado da palavra italiana “sonnetto”, que quer dizer pequeno som), é uma
composição poética especial, que deve ter um ritmo e uma sonoridade também
especiais, para que seja realmente um soneto, e para isso, há REGRAS:
1)A FORMA
FIXA -
como todos sabem, a mensagem deve ser transmitida em catorze versos, dispostos
em 2 quartetos e 2 tercetos, ou, menos usuais, 3 quartetos e 1 dístico ou
parelha - soneto inglês. Mas isso, por si só, pode até fazer um belo poema, mas
não basta para fazer um soneto.
2) A MÉTRICA – Todos os 14 versos devem ter,
exatamente, a mesma métrica, isto é, o mesmo número de silabas poéticas ou métricas, que são diferentes das sílabas gramaticais.
Fiz/mi/nha / a/do/les/cên/cia / ge/ne/ro/sa – 12
sílabas gramaticais.
Fiz/mi/nha a/
do/les/cên/cia / ge/ne/ro/sa – 10 sílabas métricas.
Conta até a última tônica (ro).
A sonoridade deve-se à correta colocação das sílabas tônicas(ou fortes) em cada verso. É isso que dá sonoridade,
cadência, ao soneto. Quanto à sonoridade, os versos decassílabos (que são os mais usados em sonetos),
por exemplo, classificam-se em três tipos: heróicos, sáficos e sáficos imperfeitos.
Decassílabo heróico - as tônicas são a 6ª e a 10ª sílaba:
E / da / mi/nha es/pe/ran/ça de
/ me/ni/no. (Hermes Fontes).
Decassílabo sáfico – as tônicas são: 4ª, 8ª e 10ª sílabas:
Em / c a/da / ver/so um
/ co/ra/ção / pul/san/do.
(Cruz e Sousa).
Sáfico imperfeito – as tônicas são: 4ª e 10ª sílabas:
So/nhei / mi/la/gres
/ pa/ra a / meu / des/ti/no. (Hermes Fontes)
Menos comuns, mas bastante usados, são os dodecassílabos, cujas sílabas poéticas fortes (tônicas), são:
4ª, 8ª e 12ª, ou ainda a 6ª, 10ª e 12ª.
Alexandrinos - todo verso alexandrino é dodecassílabo, mas nem
todo verso dodecassílabo é alexandrino.Para que um verso dodecassílabo seja alexandrino, deve ser composto de dois hemistíquios, ou
seja dois versos hexassílabos (6 sílabas métricas)independentes sendo
que o primeiro deverá ter sempre terminação aguda ou grave -jamais esdrúxula.
Se for grave, deverá fazer elisão com a primeira sílaba do segundo
hemistíquio(verso). Exemplificando fica melhor de entender:
Terminação aguda do primeiro verso
“Rumorando feliz, /entre
a verde folhagem” – ( de O Riacho, by Eloah)
1º. hexassílabo - agudo:
Rumorando feliz2º. ...............................entre a verde folhagem
Terminação grave:
“Mas nem tudo é beleza/ em
sua longa viagem”, (O Riacho))
1°. Hexassílabo – grave: Mas nem tudo é beleza
(última tônica: “le”)
2º. .............................em sua longa,
viagem
sendo que há elisão entre a última silaba átona do
primeiro hexassílabo com a primeira sílaba do segundo: be/le/za em/sua etc.
Pode usar-se ainda o dodecassílabo trímetro, ou
seja, composto de 3 tetrassílabos (versos de 4 sílabas métricas), tendo nesse
caso a acentuação tônica na 4ª, 8ª e 12ª, e não na 6ª e 12ª, porém são bem menos usados, talvez por
serem mais difíceis e menos sonoros, e não são considerados alexandrinos
autênticos.
(Parece complicado, mas com a prática, dá pra
tirar de letra...)
Os decassílabos (heróicos e sáficos ), e também os
dodecassílabos (incluindo alexandrinos) são os versos usados no sonetos
propriamente ditos, os sonetos clássicos, e os mais bonitos.
Ainda existem algumas variações de ritmos nos
versos decassílabos que são:
Fonte: http://eusoneto.blogspot.com.br/
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