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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Dicas de Concordância


DOIS ou DUAS milhões de pessoas?
Leitor apresenta uma dúvida de concordância: “Se o certo é DOIS MILHÕES DE PESSOAS, estaria errado UMA MIL PESSOAS?”
A diferença é a seguinte:
MILHÃO é palavra masculina. Isso significa que os artigos, os
pronomes e os numerais que o antecedem devem concordar no MASCULINO:
“ESTES DOIS milhões de pessoas…”;
O numeral MIL não é masculino nem feminino. A concordância
deve ser feita com o substantivo:
“DOIS mil ALUNOS…”;
“DUAS mil ALUNAS…”.
Observação importante: não se usa UM ou UMA antes de MIL. Basta dizer: “MIL pessoas compareceram ao evento”.

2ª) SAMBAS-CANÇÃO ou SAMBAS-CANÇÕES?
É tema polêmico.
Segundo a tradição gramatical, todo substantivo no papel de adjetivo torna-se invariável: camisas LARANJA, blusas ROSA, casacos VINHO…
Em palavras compostas por dois substantivos, se o segundo exercer a função de adjetivo, somente o primeiro elemento vai para o plural: carros-bomba, peixes-boi, laranjas-lima, caminhões-pipa, elementos-chave…
Entretanto, essa regra não é lá muito respeitada. Encontramos, por exemplo, registro de duas formas para o plural de DECRETO-LEI: decretos-lei e decretos-leis.
Há mais exemplos: micos-leões, cidades-satélites…
Embora não possa negar que a tal regra não seja muito rígida, prefiro respeitá-la: SAMBAS-CANÇÃO.

3ª) Nenhum dos candidatos FOI ELEITO ou FORAM ELEITOS?
Aqui não há polêmica. O certo é: “Nenhum dos candidatos FOI ELEITO”.
O verbo deve concordar com o núcleo do sujeito (=nenhum): NENHUM foi eleito. Observe outros exemplos:
“UM dos presentes RESOLVERÁ o caso.”
“QUAL de vocês VAI fazer o trabalho?”
“ALGUÉM dentre nós SERÁ o responsável pelo projeto.”
“NENHUM de nós dois PÔDE comparecer à reunião.”

4ª) À DISTÂNCIA ou A DISTÂNCIA?
Carta de leitor: “Aprendi e durante muitos anos ensinei que não se usa crase diante da palavra DISTÂNCIA quando ela é indeterminada: ‘A tropa ficou a distância”; “O inimigo estava a distância”. (…) Como leio nos jornais, revistas, publicações do MEC a expressão “ensino à distância”, fico a me perguntar se, por acaso, eu estaria errado.”
Meu caro leitor, a sua dúvida é, na verdade, a de muitos.
É outro caso polêmico. Há muito que estava para escrever a respeito desse assunto. Hoje em dia, antes de responder a certas perguntas, eu consulto a mais de dez gramáticas.
Quanto ao uso do acento indicativo da crase antes da palavra DISTÂNCIA, só há uniformidade de pensamento se a distância estiver determinada: “Ficamos à distância de dois metros do palco”.
Se a distância não estiver determinada, teremos um problema a enfrentar: alguns autores afirmam que não ocorre a crase, outros simplesmente “fogem” do assunto, e a maioria consultada é favor da crase.
Eu defendo o uso do acento da crase por se tratar de uma locução feminina. Entra no mesmo caso de: à vista, à beça, à toa, à força, à mão, à vontade, às claras, às vezes…
Portanto, prefiro “ensino à distância”.

5ª) A CRASE e os PRONOMES DE TRATAMENTO
Leitor quer exemplos de como usar o acento indicativo da crase com os pronomes de tratamento.
1o) Não há crase antes de pronomes de tratamento que podem designar tanto homem quanto mulher (VOSSA SENHORIA, VOSSA EXCELÊNCIA, VOSSA MAJESTADE, VOSSA SANTIDADE…):
“Comunicamos a V.Sa que…”
“Solicitamos a V.Exa. que…”
Não ocorre a crase porque não há artigo definido feminino “a” antes dos pronomes de tratamento. Só temos a preposição “a”.
2o) Na frase “Venho à presença de V.Exa. …”, o acento da crase é obrigatório, pois além da preposição (=vir “a”) temos também o artigo definido feminino (= “a” presença): “Venho à (=a+a) presença…” = “Venho ao encontro…”
É importante observar que a crase ocorreu antes da palavra PRESENÇA, e não antes do pronome de tratamento. São situações diferentes que não podem ser confundidas e que devem ser analisadas separadamente.

Você sabe para que serve a conjunção “ou”?
Hoje você ficará sabendo que ela tem muitas funções. Em razão disso, a concordância verbal merece alguns cuidados.
Veremos também mais pouquinho do sempre difícil uso do acento da crase.
“Ou você ou eu TEREI ou TEREMOS de resolver o problema?”
O certo é “Ou você ou eu TEREI de resolver o problema”.
a) Quando temos a idéia de “exclusão” (= ou…ou), o verbo concorda com o núcleo mais próximo: “Ou você ou EU terei de resolver o problema.” (= apenas um resolverá o problema); “Ou eu ou o diretor TERÁ de viajar para São Paulo.” (= apenas um viajará); “O Brasil ou o Chile SERÁ a sede do próximo campeonato.”
b)Se não houver idéia de “exclusão” (= e/ou), a concordância é facultativa: “O gerente ou o diretor PODE ou PODEM assinar o contrato.” (= um ou os dois podem assinar); “Dinheiro ou cheque RESOLVE ou RESOLVEM o meu problema.”
c)Se houver idéia “aditiva” (= e), o verbo deve concordar no plural: “O pintor ou o escultor MERECEM igualmente o prêmio.” (= o pintor e o escultor merecem igualmente o prêmio); “Futebol ou carnaval FAZEM a alegria do brasileiro.”
RESUMO – Concordância com sujeitos com núcleos ligados por OU:
(a) Com idéia de exclusão * o verbo concorda com o núcleo mais próximo.
 Ou você ou eu TEREI de viajar a Brasília. (=apenas um viajará)
(b) Sem idéia de exclusão (=e/ou) * a concordância é facultativa (preferência pelo plural).
 O meia ou o atacante PODEM (ou PODE) resolver o jogo. (=um ou os dois podem resolver o jogo)
(c) Com idéia de adição (=e) * o verbo fica no plural.
O meia ou o atacante MERECEM igualmente o prêmio. (=os dois merecem o prêmio)
Crase sem crise
A reunião será … das 2h às 4h da tarde ou
 de 2h às 4h da tarde ou
 de duas a quatro horas ? ? ?
A reunião pode ser “das 2h às 4h da tarde” ou “de duas a quatro horas”. A reunião que vai “das 2h às 4h” começa exatamente às 2h e termina precisamente às 4h. Para haver a idéia de “exatidão, precisão”, é necessário que usemos o artigo definido. Isso justifica o uso da preposição “de” + o artigo definido “as” (=”das 2h”) e a crase (= “às 4h”). Não devemos usar “de 2h às 4h”.
A outra reunião que vai “de duas a quatro horas” não definiu a hora para começar ou terminar. Temos apenas uma idéia aproximada da duração da tal reunião. Não há artigo definido, logo existem apenas as preposições: “de…a”.
Podemos usar essa “dica” em outras situações:
“Trabalhamos de segunda a sexta.” (= de … a …)
“O torneio vai da próxima segunda à sexta-feira.” (= da … à …)
“Leia de cinco a dez páginas por dia.” (= de … a …)
“Leia da página 5 à 10.” (= da … à …)
“Ficou conosco de janeiro a dezembro.” (= de … a …)
“Ficou conosco do meio-dia à meia-noite.” (= do … à …)
“O congresso vai de cinco a quinze de janeiro.” (= de … a …)
“O aumento será de 2% a 5%.” (= de … a …)
Teste de ortografia
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas da frase “O motorista deixou a __________ cair na __________ .”
 (a) gorjeta – sarjeta;
 (b) gorjeta – sargeta;
 (c) gorgeta – sargeta;
 (d) gorgeta – sarjeta.
Resposta do teste: letra (a). Tanto GORJETA quanto SARJETA devem ser grafadas com “j”. Nenhum dicionário registra “gorgeta” ou “sargeta”, com “g”.
Você sabia que há palavras que são “coringas”?
São palavras que substituem muitas outras. Isso caracteriza pobreza vocabular e torna a frase muita imprecisa.
E isso é perigoso porque podemos dar várias interpretações.
Sem dúvida alguma, a pior de todas é a palavra COISA.
Freqüentemente ouvimos alguém dizendo: “Agora a coisa ficou preta”. O mais intrigante é o uso da palavra COISA. Que coisa maravilhosa! COISA é uma palavra sensacional: substitui qualquer coisa e não diz coisa alguma. É a palavra de sentido mais amplo que conheço. Faltou sinônimo, lá vai a coisa.
Coisa é uma palavra tão versátil que já virou até verbo: “Eles estão coisando”. Lá sabe Deus o que eles estão fazendo! Coisa é um substantivo, mas é capaz de ser usado no grau superlativo absoluto sintético, como se fosse adjetivo: “Não fiz coisíssima nenhuma”.
Por tudo isso, é inadequado o uso da palavra coisa em textos mais cuidados e formais.
Essa análise me faz lembrar a história de um fiscal da carteira hipotecária de um grande banco no interior do Paraná. Certo fazendeiro fez um empréstimo no banco, hipotecou a fazenda e, um mês depois, morreu. O banco, preocupado, mandou o tal fiscal à fazenda. Lá chegando, ficou feliz ao ver que tudo corria bem. A viúva trabalhava duro, o dinheiro investido já trazia lucros para a fazenda e o pagamento da hipoteca estava garantido. Ao retornar à sua cidade, o fiscal não teve dúvida e escreveu no relatório que enviou ao seu chefe: “O fazendeiro morreu, mas o banco pode ficar tranqüilo porque a viúva mantém a coisa em pleno funcionamento”. Lá sabe Deus que coisa é essa!?
O uso excessivo do verbo colocar é outro caso que merece cuidados.
 Certa vez, numa mesa-redonda, um amigo me pediu: “Professor, posso fazer uma colocação?” Respondi rapidamente: “Em mim, não!”
Observe alguns exemplos que comprovam o empobrecimento do nosso vocabulário devido ao uso exagerado do verbo colocar:
1. O soldado não quis colocar a farda.
 2. É preciso colocar mais sal no feijão.
 3. O médico foi obrigado a colocar uma sonda.
 4. Ele decidiu colocar o anúncio no jornal.
 5. Eles não querem colocar os quadros nesta parede.
 6. Para não cair, precisou colocar as mãos nos ombros do colega.
 7. Os ladrões pretendiam colocar o dinheiro roubado numa lixeira.
 8. Os noivos vão colocar o convite no quadro de avisos.
 9. É necessário colocar em prática todas as suas idéias.
 10. É bom não colocar essa palavra no texto.
 11. Resolveu colocar todo o dinheiro no banco.
 12. É preciso colocar os relatórios nas pastas de cada fornecedor.
 13. Esta obra vai colocar o poeta na Academia Brasileira Letras.
 14. O fanático pretendia colocar fogo nas vestes.
 15. O diretor pediu a palavra para colocar suas idéias.
Vejamos o que poderíamos ter feito para evitar essa chatice de tanto colocar:
1. O soldado não quis vestir a farda.
 2. É preciso acrescentar mais sal no feijão.
 3. O médico foi obrigado a introduzir uma sonda.
 4. Ele decidiu publicar o anúncio no jornal.
 5. Eles não querem pendurar os quadros nesta parede.
 6. Para não cair, precisou apoiar (ou pousar) as mãos nos ombros do colega.
 7. Os ladrões pretendiam esconder o dinheiro roubado numa lixeira.
 8. Os noivos vão fixar o convite no quadro de avisos.
 9. É necessário pôr em prática todas as suas idéias.
 10. É bom não escrever (ou empregar ou usar) essa palavra no texto.
 11. Resolveu depositar todo o dinheiro no banco.
 12. É preciso guardar os relatórios nas pastas de cada fornecedor.
 13. Esta obra vai levar (ou conduzir) o poeta à Academia Brasileira Letras.
 14. O fanático pretendia atear fogo nas vestes.
 15. O diretor pediu a palavra para apresentar (ou expor ou defender) suas déias.
Depois de fazer todas essas “colocações”, vou tentar “colocar” a minha cabeça em ordem e “colocar” as barbas de molho. Por ter “colocado” todas as minhas idéias para fora, agora eu posso “colocar” a cabeça no travesseiro e descansar. Estou esperando que você também “coloque” para fora a sua opinião e que “coloque” em prática o que aprendeu aqui: “coloque” outro verbo no lugar do COLOCAR
Teste de ortografia
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas da frase “O problema surgiu ___________, _____________ houve grande tumulto.”
(a) de repente – por isso;
 (b) de repente – porisso;
 (c) derrepente – porisso;
 (d) derrepente – por isso.
Resposta do teste: letra (a). DE REPENTE deve escrito sempre separado. Não existe a forma “derrepente”. Em conseqüência, também não existe a forma “derrepentemente”. O correto é REPENTINAMENTE. E você sabe quando é que se escreve “porisso” junto? Nunca. A conjunção conclusiva POR ISSO deve ser escrita sempre separada.
 Você se lembra do sujeito composto?
Hoje é dia de enfrentá-lo. Como será que devemos fazer a concordância verbal com os sujeitos compostos?
E mais um pouquinho de crase.
Vamos concordar
 1.”Não só o aluno mas também o professor ERROU ou ERRARAM a questão?”
O correto é “Não só o aluno mas também o professor ERRARAM a questão”. O verbo vai normalmente para o PLURAL, concordando com o sujeito composto.
Quando o sujeito composto é ligado por “não só…mas também” ou por “não só…como também”, o verbo deve concordar no PLURAL:
 “Não só o aluno mas também o professor ERRARAM a questão.”
 “Não só o público como também os organizadores FICARAM insatisfeitos.”
2. “Nem eu nem você PODE ou PODEMOS viajar neste mês?”Tanto faz. As duas formas são aceitáveis.
1. Quando o sujeito COMPOSTO é ligado pela dupla negativa “nem…nem”, a concordância é facultativa (singular ou plural): “Nem o gerente nem o diretor COMPARECEU ou COMPARECERAM à reunião” e “Nem eu nem você PODE ou PODEMOS viajar neste mês.”
Se houver idéia de alternativa (=o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos sujeitos), devemos usar o verbo no SINGULAR:
 “Nem o Pedro nem o José SERÁ ELEITO o presidente do grêmio estudantil.” (=só um pode ser eleito)
2. Quando o sujeito é SIMPLES, o verbo fica no SINGULAR:
 “Nem um nem outro diretor COMPARECEU à reunião.”
 “Ainda não CHEGOU nem uma nem outra candidata.”
Crase sem crise
 1. Saiu a noite ou à noite?
 Depende.
Se “saiu a noite”, foi a noite que saiu. Eu vou entender que quem saiu foi a noite (=sentido figurado): “a noite surgiu, apareceu…” ou simplesmente “anoiteceu”.
Entretanto, se você “saiu à noite”, significa que você não saiu “à tarde ou pela manhã”, ou seja, “à noite” é um adjunto adverbial de tempo.
2. Saiu as 10h ou às 10h?
 Só pode ter sido “às 10h”.
“Hora” indica tempo e é uma palavra feminina. É um adjunto adverbial de tempo formado por palavra feminina, logo devemos usar o acento grave: “A aula começa sempre às 7h”; “A reunião será às 8h”; “A sessão só começará às 16h”; “Ele vai sair às 20h”.
3. A reunião será a ou à partir das 14h?
 O certo é: “A reunião será a partir das 14h” (=sem acento da crase).
 “A partir de” é uma locução prepositiva formada por um verbo. Não há crase, porque é impossível haver artigo antes de verbo (=partir).
Teste de ortografia
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas da frase “Esta ________ não ________ tampa.”
 (a) tijela – possui;
 (b) tijela – possue;
 (c) tigela – possue;
 (d) tigela – possui.
Resposta do teste: letra (d). Não existe “tijela”, com “j”. Toda tigela se escreve com “g”. A forma verbal POSSUI deve se grafada com “i”, porque é do verbo POSSUIR, que se escreve com “i”: possuir – ele possui; influir – ele influi; concluir – ele conclui; atrair – ele atrai; cair – ele cai; distrair – ele distrai.
Hoje vamos discutir um tema muito polêmico: os neologismos.
Vamos ver como é que uma palavra nasce e sobrevive
Afinal, a palavra existe ou não existe?
 Qual é o critério para se aceitar ou não a existência de uma nova palavra?
A verdade é que, para a maioria dos brasileiros, uma determinada palavra só existe quando está no dicionário. Pior ainda: para muitos é como se houvesse um único dicionário: O Aurélio. Quantas vezes você já ouviu: “Esta palavra nem está no Aurélio“, como se isso fosse a prova definitiva da inexistência da palavra.
Ora, tudo isso é lenda. Não são os dicionários que determinam a existência das palavras.
O Aurélio não é o dono da língua portuguesa nem o único dicionário ao nosso dispor. Temos vários: Houaiss, Caldas Aulete, Michaelis, Francisco Borba, Laudelino Freire, Celso Pedro Luft,,,
Nenhum deles inclui todas as palavras presentes na nossa língua. É bom lembrar que dicionário algum, no mundo, terá essa capacidade. O dicionário vai ser sempre incompleto.
Todo dicionário resulta de uma escolha, de uma seleção de palavras feita pelos autores. E isso explica por que encontramos uma determinada palavra no Houaiss mas não no Aurélio ou vice-versa: BIOTERRORISMO aparece no Aurélio, não no Houaiss; IMEXÍVEL tem registro no Houaiss, mas não no Aurélio.
A função do dicionarista é escolher segundo critérios próprios.
Assim sendo, o fato de uma palavra usual não aparecer no dicionário não significa que ela não exista.
Na língua portuguesa, o processo mais produtivo de novas palavras é a derivação. Pelo acréscimo de afixos (prefixos e sufixos) podemos formar novos substantivos, adjetivos ou verbos: assessoramento, normatização, imperdível, imexível, disponibilizar, minimizar…
O fato de não encontrarmos uma palavra nos dicionários não significa desaprovação, mas o contrário é bem significativo. É sinal de reconhecimento por parte dos autores, que eles julgam a palavra importante e merecedora de inclusão. O uso de qualquer palavra dicionarizada sempre terá o respaldo de pessoas estudiosas, dos lexicógrafos responsáveis pela organização de nossos dicionários.
Não é, portanto, o dicionário que determina a existência de uma palavra. O dicionarista apenas registra os vocábulos que ele selecionou.
O que verdadeiramente determina o nascimento e a existência de uma palavra é o falante, é a necessidade do seu uso. Se o novo vocábulo sobreviverá ou não, só o tempo dirá. O dicionário vem depois para registrar o fato.
Os neologismos existem em todas as línguas vivas. Isso é enriquecimento vocabular.
Crase sem crise
As vezes ou às vezes?
Usaremos o acento grave somente quando às vezes for uma locução adverbial de tempo (=de vez em quando, em algumas vezes): “Às vezes os alunos acertam esta questão.”; “O Flamengo às vezes ganha do Fluminense.”
Quando não houver a idéia de “de vez em quando”, não devemos usar o acento grave: “Foram raras as vezes em que ele veio aqui.” (as vezes = sujeito); “Em todas as vezes, ele criou problemas.” (= não há a preposição “a“, por isso não ocorre a crase; temos somente o artigo definido “as“).
Teste de ortografia
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas da frase “Pagou a inscrição de ___________ reais, e chegou em ___________ lugar.”
(a) cinqüenta – octagésimo;
 (b) cinqüenta – octogésimo;
 (c) cinquenta – octagésimo;
 (d) cincoenta – octogésimo.
Resposta do teste: letra (b). O numeral cinqüenta deve ser grafado sempre com “qu” e trema. A forma “cincoenta” não tem registro, e o trema é obrigatório. O numeral ordinal de 80 é octogésimo. A forma “octagésimo” também não tem registro em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.
Vamos ver hoje mais algumas dicas de concordância e a respeito do uso do acento da crase.
1. “Fui eu que FIZ ou FEZ o relatório?”
 O correto é “Fui eu que FIZ o relatório”.
Quando o sujeito for o pronome relativo QUE, o verbo deve concordar com o antecedente: “Fui eu que RESOLVI o problema”; “Fomos nós que RESOLVEMOS o problema”; “Eu fui o primeiro que RESOLVEU o problema”; “Nós fomos os últimos que SAÍRAM da sala”.
Quando o sujeito for o pronome relativo QUEM, a concordância se faz normalmente na 3ª pessoa do singular: “Fui eu QUEM RESOLVEU o caso”; “Na verdade, são vocês QUEM DECIDIRÁ a data”.
Observe que, se invertermos a ordem, não haverá dúvida alguma: “QUEM RESOLVEU o caso fui eu”; “QUEM DECIDIRÁ a data são vocês”.
2. “Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM?”
Embora alguns gramáticos considerem a concordância facultativa, nós preferimos usar o verbo no PLURAL, para concordar com a palavra que antecede o pronome relativo QUE: “Ele é um DOS que VIAJARAM.”
O raciocínio é o seguinte: “dentre aqueles que viajaram, ele é um”.
Um outro motivo que nos leva a preferir o verbo no PLURAL é a concordância nominal. Todos diriam que “ele é um dos artistas mais BRILHANTES” (=que mais BRILHAM). Ninguém usaria o adjetivo BRILHANTE no singular.
Portanto, depois de UM DOS…QUE, faça a concordância com o verbo no PLURAL: “Ela foi uma DAS MULHERES que SOCORRERAM as vítimas da enchente.” “É aniversário de um DOS MAIORES HOSPITAIS do país que TRATAM o câncer infantil.” “Um DOS FATOS que mais CHOCARAM os pesquisadores foi a excessiva quantidade de prescrições.”
Observe melhor: “Um dos jogadores que foram convocados pelo Dunga ainda não chegou a Teresópolis.” = “Dos jogadores que foram convocados, um ainda não chegou” (= Foram convocados vários jogadores, mas um só ainda não chegou).

Crase sem crise
A procura ou à procura?
 Depende.
Em “A procura dos criminosos durou dez dias”, não há o acento da crase porque não há preposição (A procura dos criminosos = sujeito).
Em “A polícia está à procura dos criminosos”, devemos usar o acento grave porque à procura de é uma locução prepositiva.
Observe outros exemplos:
“A base do triângulo mede 10cm.” (=sujeito)
 “Ele vive à base de remédios.” (=locução prepositiva)
 “A moda de 1970 está voltando.” (=sujeito)
 “Ela se veste à moda de 1970.” (=locução prepositiva)
 As locuções prepositivas formadas por palavras femininas devem receber o acento grave indicativo da crase: à beira de, à cata de, à custa de, à exceção de, à feição de, à frente de, à maneira de, à mercê de, à moda de, à procura de, à semelhança de…
Teste de ortografia
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas da frase “O ____________ não podia ______________ o resultado da ação.”
 (a) adevogado – adivinhar;
 (b) advogado – advinhar;
 (c) adevogado – advinhar;
 (d) advogado – adivinhar.
Resposta do teste: letra (d). Em ADVOGADO, o prefixo “ad” significa “junto”. É o mesmo de adjunto, adjetivo, advérbio… A palavra ADIVINHAR deriva de “divino”. A adivinhação, portanto, é um dom de Deus. Pelo menos, segundo a origem da palavra.

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