Por uma nova História
Cultural e Social de Serra Talhada
Segundo um velho provérbio árabe, “os homens se parecem mais com
sua época do que com seus pais”. Ditos, prentesamente ingênuos, fazem mais que
simplesmente dispor sobre o óbvio; muitas vezes anunciam tendências ou expõem,
de forma sintética, sentimentos e
expectativas. De certa forma a banda D. Gritos sintetizou muito bem essa
análise, abrindo um precedente importante para que ao escrevermos sobre sua
História, possamos erguer uma bandeira que nos fomete com elementos que venham
a servir de paradigmas para a construção de uma nova visão histórica, uma nova
perspectiva que nos permita reescrevermos uma nova História Cultural e Social
de Serra Talhada.
Escrever sobre a banda D.Gritos não significa apenas falar de um
grupo de rapazes que se reuniram para cantar e tocar, ou simplesmente para
expressarem seus sentimentos de de revolta e de frustração. Escrever sobre eles
é também um resgate de parte da nossa história que anda esquecida. Nesse
sentido buscamos dialogar com Jacques Le Goff, Historiador da 3ª geração da Escola dos Annales, que defende a chamada “Nova História
Cultural”, segundo a qual, toda
atividade humana é considerada história. Partindo desse princípio, buscamos
resgatar através deste trabalho de pesquisa, fatos que com o passar dos anos
foram sendo deletados da nossa memoria histórica, pois, a maioria dos escritores e pesquisadores regionais preferem contar
a história das lendas e mitos humanos, dos líderes políticos e dos seus feitos,
esquecendo-se que a vida, assim como a história, é feita também por pessoas
simples, mas que em muitos casos são possuidoras de uma postura inovadora e
movida por muito idealismo, e que dessa forma, contrariam uma tendência
conservadora que domina parte da nossa sociedade.
Com a
intenção de apresentar uma nova visão de como se contar uma história, recorremos
a “Nova História Cultural”, método que frequentemente combina as abordagens da antropologia e da história para olhar as tradições da cultura popular e interpretações culturais das experiências históricas e
humanas. A Nova História Cultural ocupa-se com a pesquisa e a representação de
determinada cultura em dado período e lugar. Ela não se dedica diretamente especificamente
à história política ou à história oficial de países ou regiões. Na Nova História
Cultural a cronologia não é tão relevante quanto na historiografia política.
Contar uma História tão rica de detalhes e simbolismo não foi uma
tarefa fácil. Para que isso fosse possível, recorremos a um elemento
extremamente importante na composição de toda e qualquer reconstrução histórica
tome vida e ganha alma, a memória, pois ela permite que as pessoas revivam as
relações e falem sobre amores e também, desamores. Para a composição do livro D.GRITOS: DO SONHO À TRAGÉDIA. A HISTÓRIA DA
MAIOR BANDA DE ROCK DO SERTÃO PERNAMBUCANO, foram feitas várias entrevistas
com pessoas que fizeram parte dessa história, depoimentos que mostram a
importância que a memória coletiva tem na fragmentação da história.
Foi quase impossível não se envolver nas lembranças trazidas à
tona, a cada conversa realizada com aqueles que integraram, ou que somente escutaram
alguma das músicas produzida em pouco mais de oito anos de existência da banda.
A tarefa na construção desta narrativa foi a de dar um sentido às lembranças
confiadas por essas pessoas que estiveram presentes nesta curta trajetória.
Pois é com esse olhar que relatamos a trajetória de uma banda de
rock que nasceu no Sertão do Pajeu e que continua viva na memória de inúmeras
pessoas que viveram os “turbulentos”, “violentos” e “movimentados anos 80 e
início dos 90” em Serra Talhada e nas cidades circuvizinhas. Em uma época em
que o forró passou por transforamções, ou melhor dizendo, deformações, e que a
música baiana começava a conquistar o cenário nacional, alguns destemidos jovens
andaram não contramão do contexto regional e resolveram tocar e cantar rock, um
ritmo surgido nos Estados Unidos da América, mas que assim como a própria
música se tornou universal.
Após ouvirmos vários depoimentos, pesquisarmos em arquivos de
jornais locais, acervos fotográficos e em letras de músicas, gravadas e
inéditas, encontramos elementos que nos permitissem traçar um perfil histórico
da banda D.Gritos. Nesse sentido, dividimos o nosso trabalho em dez capítulos tentado assim situar o leitor da melhor forma
possível. Com essa fragmentação será possível entender como era a Serra Talhada
dos anos 80, o cenário da música nacional, e os principais elementos que possibilitaram
o surgimento da banda D.Gritos. Veremos as principais conquistas e decepções da
banda, além de conhecer uma pouco mais sobre os vários músicos que passaram pelo
grupo ao longo de sua existência.
Entenderemos melhor alguns conflitos internos que ocorreram na
banda, parte da intimidade musical e comportamental de alguns integrantes,
fatos que serão mostradas de uma forma natural, sem preconceito ou juízo de
valor. E como não poderia ser deixado de lado, viajaremos pelo mundo que cercava
os D.Gritos, navegando nas letras de músicas, as gravadas e as inéditas. Nesse
sentido, serão mostrados de onde surgiram as inspirações para a criação de
clássicos como: Loucos (Mayra), Barriga de Rei, Quando Será Minha Vez, Eu Sei, Traumas,
O Barquinho Azul e tantas outras que já fazem parte da vida de três
gerações de serra-talhadenses.
Na última etapa da pesquisa será abordada a morte trágica de
Ricardo Rocha e conseqüentemente o fim da banda. A narrativa será seguida de
fotos, recortes de jornais locais e de diversos depoimentos. Para completar o
leitor irá conhecer a maior parte das letras da banda D.Gritos, assim como as dos
seus principais compositores. Queridos leitores, bem-vindos à história da maior
banda de rock do Sertão Pernambucano!
Professor e escritor Paulo César Gomes
Introdução do Livro D.GRITOS:
DO SONHO À TRAGÉDIA. A HISTÓRIA DA MAIOR BANDA DE ROCK DO SERTÃO PERNAMBUCANO
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